As moedas são o reflexo das economias dos seus países, sendo o seu valor determinado no longo prazo pelo nível de inflação. As moedas dos países com elevados níveis inflação entram numa espiral desfavorável de desvalorização, num círculo vicioso de depreciação sem fim, apesar das elevadas taxas de juro, de dois ou três dígitos, para travarem as perdas.
As moedas dos países africanos e latino americanos lideram as desvalorizações globais, desde Argentina e Angola, aos casos mais graves, como o Zimbabué e a Venezuela, países com um aparelho produtivo mais do que desestruturado, quase inexistente. Existindo uma reduzida oferta de bens e serviços, mais do que insuficiente para a natural procura das populações locais, os seus preços têm forçosamente de subir. Adicionalmente, os bancos centrais desses países sobem taxas de juro e emitem energicamente nova moeda. Mais moeda a perseguir a mesma quantidade de bens impulsiona a inflação de preços no consumidor via política monetária. A teoria quantitativa da moeda é implacável (MV=PQ, moeda ponderada pela velocidade da sua circulação é igual à quantidade de bens e serviços produzidos ponderada pelos preços). O aumento da quantidade de moeda quando utilizado para investimento e criação de emprego poderá incrementar o crescimento económico, mas esta é uma prerrogativa associada apenas àquelas economias mais avançadas com sentido de trabalho, onde o esforço é premiado, as palavras liberdade económica e meritocracia imperam efetivamente, e a perceção de corrupção é mínima. Ou seja, a maior parte das economias avançadas falha atualmente nestes atributos, sendo muitas vezes o investimento preterido em favor do consumo. Quanto aos países africanos e latino-americanos, o novo dinheiro é canalizado quase exclusivamente para o consumo. Quantas vezes nos deparamos com a interrogação: “Porque é que os bancos centrais não emitem moeda ilimitadamente e assim ficaríamos todos ricos?”. Assim deixaríamos todos de trabalhar, sentados numa esplanada. Mas quem estaria a servir-nos o café? Quem estaria a produzir os bens e os serviços?
Entretanto, nos últimos anos, a inflação mais elevada dos EUA dos últimos 40 anos não depreciou o dólar americano. É certo que grande parte dos países também foi igualmente penalizada pela inflação. Contudo, na fase mais grave da inflação dos EUA, tendo chegado quase a 10% em junho de 2022, o dólar valorizou 25%, de maio de 2021 a outubro de 2022, relativamente às principais moedas globais (Dollar Index). O dólar mostrou nessa altura o seu estatuto de principal moeda global, diante da forte desvalorização das obrigações e dos mercados acionistas. O papel de ativo de refúgio do dólar foi corroborado e suportado pela postura decididamente agressiva da Reserva Federal dos EUA, aumentando energicamente as taxas de juro, um claro sinal de credibilidade. Os investidores percecionaram, assim, o regresso da estabilidade de preços à economia dos EUA nos próximos anos, percebendo a atual inflação apenas como um fenómeno de curto prazo, conjuntural e não estrutural. Credibilidade é algo que falta aos bancos centrais africanos e sul americanos e a todas as suas instituições. Na quarta-feira, Powell reiterou novamente o objetivo de preços de 2%, penalizando as ações, mas suportando a sua moeda, o dólar.