Há apenas três meses os mercados descontavam cortes de 150 pontos base nas taxas de juro pela Fed este ano, mas este é um cenário cada vez mais improvável. Os mercados esperam agora cortes de apenas um terço dessa dimensão.
À partida para a conferência de imprensa de quarta-feira, depois da reunião do Federal Open Market Committee (FOMC), o Comité da Política Monetária, a grande dúvida era se a Reserva Federal iria, pelo contrário, subir as taxas.
“É improvável que a próxima mexida nos juros seja uma subida”. Foi assim que o presidente da Fed, Jerome Powell, tranquilizou os mercados e Wall Street na quarta-feira perante a possibilidade de subida dos juros.
Mas o que veio a seguir também não foi propriamente positivo. Jerome Powell rejeitou avançar com uma data para começar a cortar no preço do dinheiro.
“Não sei quanto tempo vai demorar. Posso dizer apenas que quando tivermos confiança, as taxas de juro estarão alinhadas, mas não sei exatamente quando é que isso vai ser”, disse.
Depois de a inflação ter atingido 9,1% em junho de 2022, um máximo de 40 anos, tem vindo a descer gradualmente. Entre dezembro e janeiro recuou de 4,1% para 3,1%, mas voltou a subir em fevereiro e março, atingindo 3,5%.
A Fed manteve as suas taxas de referência entre os 5,25% e os 5,5%, o nível mais alto em duas décadas. Apesar de os mercados esperarem por sinais de cortes, o facto de a inflação permanecer pegajosa, acima dos 3%, longe ainda da meta de 2%, levou Powell a abaster-se de prever datas.
“Acredito que as provas demonstram muito claramente que a política é restritiva e que está a pesar na procura. Acreditamos que vai ser suficientemente restritiva ao longo do tempo”, disse Jerome Powell na conferência de imprensa, sublinhando acreditar que o atual nível dos juros é suficiente para controlar a inflação. Os mercados esperam agora um corte de 15 pontos de base em setembro e outro de 35 em dezembro.
Os analistas do banco ING esperam um primeiro corte em setembro, seguido de outros dois em novembro e dezembro. “Os inquéritos às empresas sugerem precaução nas perspetivas para a economia enquanto os inquéritos ao emprego apontam para um abrandamento nas contratações nos próximos meses”, segundo o analista do banco holandês James Knightley.
No caso da inflação, o economista-chefe internacional do ING prevê “leituras mais encorajadoras” com o “arrefecimento da atividade económica” e crescimento mais baixo dos custos laborais que podem ajudar a “travar as pressões sobre os preços”.
O Goldman Sachs, por sua vez, deixou inalteradas as suas previsões de dois cortes este ano em julho e novembro, apesar de admitir que surpresas inesperadas na inflação podem “atrasar ainda mais os cortes”, segundo David Mericle, economista-chefe do GS para os EUA.
O FFOMC volta a reunir-se a 11 e 12 de junho.
Com as eleições norte-americanas a aproximarem-se a toda a velocidade, Powell garantiu que o processo eleitoral não irá influenciar as suas decisões: as eleições “não estão no nosso pensamento. Não é para isso que fomos contratados”, garantiu. Apesar do distanciamento, o trabalho da Fed e do seu presidente deverá vir a ser tema da campanha eleitoral.. Donald Trump já acusou Powell de preparar cortes nos juros para favorecer os democratas.