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Fed rejeita avançar com datas para arranque dos cortes

Política monetária: Há três meses, os mercados descontavam cortes de 150 pontos base nas taxas de juro este ano, mas a inflação pegajosa arrefeceu as expetativas, com alguns a temerem mesmo que a Fed venha a decidir aumentar o preço do dinheiro. Jerome Powell tranquilizou os mercados, mas os cortes deverão arrancar mais tarde e ser mais tímidos do que o esperado. E garante que as eleições presidenciais em novembro não vão afetar as decisões.

Há apenas três meses os mercados descontavam cortes de 150 pontos base nas taxas de juro pela Fed este ano, mas este é um cenário cada vez mais improvável. Os mercados esperam agora cortes de apenas um terço dessa dimensão.

À partida para a conferência de imprensa de quarta-feira, depois da reunião do Federal Open Market Committee (FOMC), o Comité da Política Monetária, a grande dúvida era se a Reserva Federal iria, pelo contrário, subir as taxas.

“É improvável que a próxima mexida nos juros seja uma subida”. Foi assim que o presidente da Fed, Jerome Powell, tranquilizou os mercados e Wall Street na quarta-feira perante a possibilidade de subida dos juros.

Mas o que veio a seguir também não foi propriamente positivo. Jerome Powell rejeitou avançar com uma data para começar a cortar no preço do dinheiro.

“Não sei quanto tempo vai demorar. Posso dizer apenas que quando tivermos confiança, as taxas de juro estarão alinhadas, mas não sei exatamente quando é que isso vai ser”, disse.

Depois de a inflação ter atingido 9,1% em junho de 2022, um máximo de 40 anos, tem vindo a descer gradualmente. Entre dezembro e janeiro recuou de 4,1% para 3,1%, mas voltou a subir em fevereiro e março, atingindo 3,5%.

A Fed manteve as suas taxas de referência entre os 5,25% e os 5,5%, o nível mais alto em duas décadas. Apesar de os mercados esperarem por sinais de cortes, o facto de a inflação permanecer pegajosa, acima dos 3%, longe ainda da meta de 2%, levou Powell a abaster-se de prever datas.

“Acredito que as provas demonstram muito claramente que a política é restritiva e que está a pesar na procura. Acreditamos que vai ser suficientemente restritiva ao longo do tempo”, disse Jerome Powell na conferência de imprensa, sublinhando acreditar que o atual nível dos juros é suficiente para controlar a inflação. Os mercados esperam agora um corte de 15 pontos de base em setembro e outro de 35 em dezembro.

Os analistas do banco ING esperam um primeiro corte em setembro, seguido de outros dois em novembro e dezembro. “Os inquéritos às empresas sugerem precaução nas perspetivas para a economia enquanto os inquéritos ao emprego apontam para um abrandamento nas contratações nos próximos meses”, segundo o analista do banco holandês James Knightley.

No caso da inflação, o economista-chefe internacional do ING prevê “leituras mais encorajadoras” com o “arrefecimento da atividade económica” e crescimento mais baixo dos custos laborais que podem ajudar a “travar as pressões sobre os preços”.

O Goldman Sachs, por sua vez, deixou inalteradas as suas previsões de dois cortes este ano em julho e novembro, apesar de admitir que surpresas inesperadas na inflação podem “atrasar ainda mais os cortes”, segundo David Mericle, economista-chefe do GS para os EUA.
O FFOMC volta a reunir-se a 11 e 12 de junho.

Com as eleições norte-americanas a aproximarem-se a toda a velocidade, Powell garantiu que o processo eleitoral não irá influenciar as suas decisões: as eleições “não estão no nosso pensamento. Não é para isso que fomos contratados”, garantiu. Apesar do distanciamento, o trabalho da Fed e do seu presidente deverá vir a ser tema da campanha eleitoral.. Donald Trump já acusou Powell de preparar cortes nos juros para favorecer os democratas.

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