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Fed: Mercados seguros na redução das taxas de juro pela primeira vez em nove meses

Donald Trump voltou a pressionar a Fed para baixar as taxas de juro na reunião desta quarta-feira. Mercado atribui 96% de hipótese de existir um corte de 25 pontos base e 4% para uma redução de 50 pontos base. É esperado que possam ocorrer entre duas a três baixas nas taxas até final do ano.

A expetativa é que a Reserva Federal norte-americana (Fed) baixe as taxas de juro pela primeira vez, em nove meses [último corte foi em dezembro de 2024], esta quarta-feira. A dúvida reside em saber a dimensão do corte.

Os mercados estão a dar 96% de possibilidade para uma descida de 25 pontos base (pb) e 4% para uma redução de 50 pb, assinala o Banco Carregosa ao Jornal Económico (JE). A desaceleração no mercado de trabalho é um dos (grandes) motivos que podem justificar a mudança na política monetária do banco central dos Estados Unidos, assinala a AllianzGI.

"O cenário de manutenção [das taxas de juro] está, portanto, descartado na prática", diz o economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, ao JE.

Já o diretor de investimento global de Mercados Públicos da Allianz Global Investors (AllianzGI), Michael Krautzberger, espera que o corte seja de 25 pontos base (pb), para um intervalo entre os 4,00%-4,25%. Um dos sinais que pode sustentar esta baixa da taxa de juro reside na "desaceleração" no mercado de trabalho norte-americano, assinala Michael Krautzberger, que alerta que a partir daqui o único fator que pode modificar estas expetativas são "surpresas ascendentes" sustentadas na inflação.

O presidente da ActivTrades Europe, Ricardo Evangelista, diz ao JE, que o consenso entre os analistas de mercado é que a Fed anuncie um corte de 25 pontos base [nas taxas de juro]. Isto apesar de "subsistirem incertezas" quanto ao tom que Jerome Powell "adotará e quais serão as orientações (guidance) e projeções económicas" apresentadas.

"Neste momento, o banco central encontra-se numa encruzilhada: pressionado pela administração Trump para baixar os juros, numa altura em que, apesar do abrandamento registado no mercado de trabalho, a inflação se mantém persistentemente acima dos níveis considerados ideais", adianta Ricardo Evangelista.

O presidente da ActivTrades Europe salienta que os últimos movimentos de mercado sugerem que a maioria dos investidores "antecipa uma orientação mais dovish" por parte da Fed, uma "perceção reforçada" pela confirmação, na segunda-feira, da nomeação de Stephen Miran, escolhido por Trump, para o conselho da Reserva Federal.

"Esta dinâmica poderá levar não só ao já esperado corte de 25 pontos base nas taxas, mas também a que Jerome Powell deixe em aberto a possibilidade de mais cortes até ao final do ano, nas reuniões de outubro e dezembro", antecipa Ricardo Evangelista.

Os analistas do Bankinter consideram que a dúvida sobre a reunião da Fed, desta quarta-feira, não é sobre se as taxas de juro "baixam ou não" mas sim "quanto, qual a orientação que proporcionará para reuniões posteriores (outubro e dezembro), tendo em conta as fortes pressões políticas a que está sujeita, se voltará a rever em baixa as suas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) e desemprego, e em alta as de inflação, como fez em junho, e por fim, se o denominado diagrama de pontos voltará a mover-se em alta (taxas de juros superiores), como também aconteceu em junho".

Uma sondagem realizada pela agência noticiosa Reuters aponta também para que a Fed baixe as taxas de juro em 25 pontos base, esta quarta-feira, disseram quase todos os 107 economistas, com a maioria também a esperar um novo corte no próximo trimestre.

Assim, 105 dos 107 economistas incluídos nesta sondagem da Reuters consideram que a Fed vai baixar as taxas de juro em 25 pontos base para o intervalo entre os 4.00%-4.25%, ficando acima da maioria de 61% que, em agosto, acreditava num corte na reunião da Fed desta quarta-feira.

A Reuters assinala que a estagnação do crescimento do emprego, em agosto, e a "revisão acentuada" em baixa dos dados do emprego a 12 meses, até março, levou a que muitos economistas acabassem por rever as suas previsões sinalizando mais cortes nas taxas de juro do que tinham previsto anteriormente.

O estrategista da Morninstar Wealth antecipa também um corte nas taxas de juro. Dominic Pappalardo considera que o "rápido enfraquecimento" do panorama do emprego e "outros dados económicos dececionantes praticamente garantem" um corte das taxas de juro em setembro.

Já o economista chefe norte-americano do JPMorgan, Michael Feroli, citado pela Morningstar, diz que "espera alguns dissidentes para um corte de 50 pontos base nas taxas de juro, e talvez para algo ainda maior".

Mercado de trabalho deve justificar baixa dos juros

"O mercado de trabalho tem dado sinais claros de enfraquecimento, com o relatório de agosto a revelar uma criação muito modesta de postos de trabalho, apenas 22 mil postos de trabalho não agrícolas, e a taxa de desemprego a subir para 4,3%, sinal de perda de dinamismo, refletindo uma desaceleração da procura por mão-de-obra por parte das empresas. Além disso, algumas poderão já estar mesmo a despedir. Ao mesmo tempo, a inflação mantém-se acima da meta de 2% — o índice geral avançou 2,9% em agosto face ao mesmo mês do ano anterior e o core, que exclui alimentos e energia, permanece em 3,1%", refere Paulo Monteiro Rosa, sobre os indicadores económicos norte-americanos que podem justificar uma redução das taxas de juro por parte do presidente da Fed.

O corte nas taxas de juro até poderia ser maior mas na visão de Paulo Monteiro Rosa a inflação "continua a limitar" a margem para cortes mais agressivos.

"Assim, apesar da pressão política da administração Trump e da fragilidade do mercado laboral, a Fed deverá optar por um corte de 25 pb, equilibrando a necessidade de apoiar a economia com o foco ainda no combate à inflação", antecipa Paulo Monteiro sobre aquela que poderá ser a decisão do banco central norte-americano.

A favorecer o corte nas taxas de juro está também a baixa pela Fed do crescimento económico e o aumento da taxa de desemprego e inflação, para 2025 e 2026, nas suas previsões económicas em Junho. A AllianzGI assinala que a Fed "pode estar inclinada a refletir alguns riscos adicionais" em baixa nas suas últimas projeções económicas para apoiar "uma redução" nas suas projeções da taxa de Fed Funds (fundos federais) para esses mesmos anos [2025 e 2026].

"Embora o impacto da política tarifária dos Estados Unidos continue a refletir-se lentamente nos dados da inflação (com a inflação subjacente do índice PCE a medida preferida pela Fed muito acima do objetivo, nos 2,9% anuais), o crescimento real do PIB caiu para metade face a 2024, com os consumidores prestes a enfrentar uma nova pressão sobre os seus rendimentos reais nos próximos meses", assinala a AllianzGI.

Este contexto, assinala Michael Krautzberger, "abre caminho" para que a Fed retome o seu ciclo de cortes de juros este mês, apesar da inflação estar acima do objetivo da Fed, favorecendo um corte de 25 pb em vez de 50 pb.

"A partir daí, o ritmo dos cortes futuros dependerá da extensão da deterioração adicional no mercado de trabalho, embora o cenário possa complicar-se se a inflação surpreender em alta", diz Michael Krautzberger.

Trump pressiona para baixa das taxas de juro

O presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a pressionar, esta semana, no sentido de existir uma baixa de taxas de juro pela Fed.

Trump utilizou a rede social Social Truth para defender que o presidente da Fed "deve cortar [as taxas de juro]" e mais "do que tinha pensado".

O presidente norte-americano disse ainda, nas redes sociais, que a Europa já teve "10 cortes, e os Estados Unidos zero. Sem inflação, uma grande economia. Deveríamos estar pelo menos dois ou três pontos percentuais mais baixo".

Trump indica também o estado em que se encontra o mercado residencial como outro dos motivos para que o presidente do banco central norte-americano baixe as taxas de juro. "Alguém pode informar Jerome 'Too Late' Powell (Jerome 'Demasiado Tarde' Powell na tradução portuguesa) que ele está a magoar a indústria habitacional, de forma muito grave? As pessoas não conseguem uma hipoteca por causa de Jerome Powell. Não existe inflação, e todos os sinais apontam para um grande corte nas taxas de juro", disse o presidente norte-americano, recorrendo novamente às redes sociais.

Foco deve passar para guidance de Powell

Dada quase como garantida uma baixa nas taxas de juro resta agora saber o que poderá reservar o futuro. Paulo Monteiro Rosa considera que a comunicação pós-reunião da Fed e a guidance que será dada por Jerome Powell  poderá "esclarecer" o ritmo e a extensão do ciclo de expansão monetária até ao final do ano.

"O mercado antecipa mais dois cortes de 25 pontos em outubro e dezembro", revela o economista sénior do Banco Carregosa.

Já Michael Krautzberger refere que os mercados já "estão perto de precificar" a existência de um corte de juro em cada uma das três últimas reuniões da Fed deste ano ao contrário do que acontecia no início do verão onde se esperava apenas um corte nas taxas de juro.

O analista da AllianzGI considera também que o atual contexto macroeconómico deve favorecer um steepening (ou inclinação) da curva de juros nos Estados Unidos.

O analista da AllianzGI considera que o "grande trunfo" para as expetativas futuras da política monetária da Fed poderá ser a "crescente pressão institucional" que a administração Trump enfrenta.

"O Presidente Trump está a tornar-se mais incisivo na sua iniciativa para alterar a composição do conselho de governadores da Fed. Entretanto, está a ser promovida uma lista de candidatos mais "favoráveis ​​ao crescimento" para substituir Powell quando o seu mandato expirar em maio de 2026. Como consequência, nos próximos meses, poderemos ver os mercados das taxas de juro a curto prazo a precificar uma taxa de fundos federais terminal muito abaixo da projeção atual da taxa a médio e longo prazo, em torno dos 3%", considera Michael Krautzberger.

Mercado bolsista norte-americano em alta

Apesar dos desafios que a economia norte-americana atravessa os mercados financeiros têm estado em alta, depois das quedas verificadas aquando da implementação de tarifas, pelos Estados Unidos, a vários parceiros económicos, em abril.

No caso dos índices bolsistas norte-americanos S&P 500, Nasdaq e Dow Jones atingiram máximos, este ano.

No campo das matérias-primas o ouro este ano tem voltado a bater máximos.