Skip to main content

Fed: Investidores focados nas projeções à procura de pistas quanto a corte de juros

A inflação tem-se revelado mais persistente do que se esperava na maior economia do mundo, que vai mantendo, ainda assim, uma vitalidade assinalável. O mercado focar-se-á no ‘dot plot’ das projeções para os juros dos membros do banco central com os investidores cada vez mais inclinados para cortes em junho.

A reunião da Reserva Federal em março não trará novidades no imediato do lado dos juros, dada a vitalidade demonstrada pela economia norte-americana, mas os investidores estarão à procura de pistas sobre o rumo futuro da política monetária, ajustando as suas perspetivas quanto ao arranque da descida das taxas diretoras. Os próximos dados da inflação serão chave nesta equação, dado que Jerome Powell já admitiu que a Fed irá cortar juros “a determinado momento” este ano.

Há quatro reuniões consecutivas que os juros diretores para a economia norte-americana se encontram entre 5,25% e 5,5%, um máximo de 23 anos, e a série deve prolongar-se por mais uma reunião. Março não trará alterações às taxas de referência perante uma economia que continua a mostrar força e resistência acima do esperado, sobretudo do lado do mercado laboral.

Como tal, David Brito, diretor geral da Ebury Portugal, fala numa Fed “preparada para andar na corda bamba”, sinalizando claramente “para os mercados que os cortes nas taxas estão a chegar, sem acender demais as apostas a favor de uma flexibilização iminente da sua política”. Powell deverá sinalizar novamente “que os objetivos em matéria de emprego e de inflação estão a ficar mais equilibrados, embora seja provável que sublinhe que são necessários mais sinais de uma tendência de descida para esta última”.

“A Fed teme que este último passo na luta contra a inflação prove ser uma tarefa árdua e os dados do índice de preços no consumidor (IPC) este ano só terão acrescentado a esses medos”, considera James McCann, economista chefe interino na Abrdn. Recorde-se que este indicador chegou a um mínimo de 3% em julho, oscilando entre 3,1% e 3,7% desde então.

Dezembro terminou com uma inflação homóloga de 3,4%, com janeiro a registar 3,1% antes do inesperado aumento para 3,2% em fevereiro.

“A boa notícia é que, apesar dos reveses do início do ano, a inflação deve abrandar à medida que passa a primeira metade do ano, dando condições para um corte em junho”, completa. Esta é agora a visão dominante no mercado, que se afastou das apostas em cortes nos primeiros meses do ano.

Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, os investidores atribuíam, há um mês, 28% de probabilidade a uma descida de 25 pontos base (p.b.) já em maio; este levantamento aponta agora para 10,4%.

A reunião de março trará também uma atualização das projeções do banco central, o que inclui o famoso ‘dot-plot’ de previsões do Comité Federal de Mercado Aberto (FMOC) para os juros este ano e no próximo. Para estas projeções, David Brito espera que voltem “a indicar três cortes na taxa dos fundos da Fed este ano, tal como aconteceu em dezembro”.

“No entanto, as recentes surpresas em alta na inflação dos EUA significam que há agora todas as hipóteses de vermos uma atualização do ‘dot plot’ de 2024, em linha com apenas duas reduções das taxas este ano”, acrescenta. Também Flavio Carpenzano, diretor de investimentos do Capital Group, lembra o percurso histórico da Fed e a possibilidade cada vez mais real de uma ‘aterragem suave’ para argumentar que o mercado pode estar a ser otimista demais.

“A Fed corta tipicamente 20% a 50% da taxa verificada no pico do aperto numa ‘aterragem suave’ e 75% a 100% no caso de uma ‘aterragem dura’”, recorda. Ainda assim, podem ocorrer cortes “de mais de 150 p.b. em relação aos atuais 5,25% a 5,5% a qualquer magnitude de recessão”, um risco que continua a pairar sobre a economia americana.