A manutenção dos juros diretores nos EUA em máximos de 23 anos, pela quinta reunião consecutiva, era uma quase certeza para os mercados, que passaram assim o foco para as projeções dos membros da Reserva Federal para os juros este ano. Também aí não houve grandes novidades, com o destaque a recair na postura dovish evidenciada pela subida da previsão para o crescimento e inflação este ano sem reflexo nos juros.
As taxas de referência para a economia americana ficaram assim entre 5,25% e 5,5%, um máximo de 23 anos que os analistas projetam agora que se irá manter até junho. Olhando para o gráfico de previsões dos membros do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) para este indicador no final do ano, tal mantém-se em cima da mesa: tal como em dezembro, a mediana das respostas foi de 4,6%, com três cortes de 25 pontos base (p.b.).
Para 2025, os membros do FMOC antecipam agora três descidas de juros, ou seja, menos uma do que no exercício de projeções de dezembro. Para o ano seguinte, a expectativa é de mais três cortes, o que deixaria os juros diretores no longo prazo em 2,6%.
Por outro lado, houve uma revisão em alta do crescimento para este ano e da inflação no próximo: o PIB terá um crescimento anualizado de 2,1%, bastante acima dos 1,4% projetados em dezembro, enquanto a inflação de 2025 será 0,1 pontos percentuais (p.p.) mais alta do previsto em dezembro, ou seja, 2,2%. Mais relevante ainda, a inflação core este ano foi atualizada por 0,2 p.p. em alta para 2,6%.
“É verdade que subimos a nossa previsão para o crescimento. […] A economia está forte e os dados da inflação acabaram por sair um bocadinho mais altos do que esperado. No entanto, continuamos a ter bons progressos na luta contra a inflação”, afirmou Jerome Powell na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio.
O presidente da Fed admitiu que a altura de cortar taxas deverá estar para breve, embora sem indicar nenhum timing específico para tal. Powell reconheceu que “as taxas atuais estão no pico do ciclo, pelo que, se a economia evoluir como projetamos, deverá ser apropriado começar a diminuir a restritividade este ano”, mas sem se comprometer com timings específicos para o arranque das descidas.
A subida recente da inflação não preocupa demasiado o banco central, que vê a economia numa tendência desinflacionária “numa estrada acidentada” até ao objetivo de longo prazo de 2%. Ainda assim, Powell pretende ver o retomar das leituras em baixa registadas no final do ano passado.
Recorde-se que a inflação medida pelo índice de preços no consumidor (IPC) subiu de forma inesperada em fevereiro para 3,2%, depois de ter ficado em 3,1% em janeiro. O mínimo do atual ciclo de pressão nos preços registou-se em junho, com 3%, sublinhando a persistência deste fenómeno na maior economia mundial.
Ainda assim, a medida preferencial da Fed para avaliar a variação de preços, o índice de gastos pessoais de consumo (PCE), está numa série de quatro descidas consecutivas. A leitura mais recente, de janeiro, aponta para uma inflação homóloga de 2,4%.
Do lado do emprego, que tem demonstrado uma vitalidade acima do esperado ao longo de todo o ciclo inflacionista que afetou os EUA, o crescimento salarial tem alinhado mais com as expectativas da Fed. Powell caracterizou o mercado laboral, como “em muitos aspetos, a voltar ao que era em 2019” e destacou o “movimento contínuo e gradual do crescimento salarial para níveis mais sustentáveis”, que pretende ver continuar.