Os números ainda não estão fechados, mas a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) está convencida que as exportações do sector continuarão a crescer a bom ritmo e de algum modo a contraciclo do que se passa com diversas outras indústrias transformadoras. José Couto, presidente da AFIA, revelou, em entrevista ao JE, que “as exportações já chegaram este ano a estar a crescer 22% [em termos homólogos com 2022, depois desceram para os 16%, mas estamos convencidos que fecharão o ano com um crescimento acima dos 10%”. Feitas as contas serão pelo menos mil milhões de euros a entrarem nas contas das exportações em 2023.
Isto apesar de, como explicou, “estarmos a passar por uma fase muito complexa”, nomeadamente com a mudança de alguns paradigmas – desde logo a mobilidade elétrica – que obrigam a um investimento muito forte do lado das empresas. É isso que tem acontecido em Portugal, afirmou José Couto: “em média, cada empresa de componentes investe por ano cerca de dois milhões de euros”, revelou. As contas são simples: as 350 empresas do sector dos componentes automóveis investem em média, por ano, cerca de 700 milhões de euros.
Mas a consistência dos números que envolvem o sector isolam-no como um exemplo claro de sucesso “e de afirmação da qualidade das empresas que o compõem”: as 350 empresas (0,9% das empresas da indústria transformadora), asseguram 63 mil empregos diretos (9,1% do emprego da indústria transformadora), um volume de negócios de 13 mil milhões euros (5,4% do PIB em 2022), 10,8 mil milhões de euros em exportações (14% das exportações de bens transacionáveis também em 2022) e um investimento de 5,6 mil milhões de euros (16,6% do investimento da indústria transformadora).
Entre 2015 e 2022, a indústria de componentes para automóveis cresceu a uma taxa de 5,8% ao ano, o que compara com um decréscimo médio anual de 3,8% da produção automóvel na Europa. É este fator que explica o facto de “cerca de 98% dos modelos automóveis produzidos na Europa terem componentes feitos em Portugal”. Isso só acontece porque “as empresas souberam responder aos desafios que os mercados lhe têm colocado” de uma forma eficaz e numa perspetiva de longo prazo. Entre outras consequências, o presidente da AFIA chama a atenção para o facto de “o segmento dos componentes automóveis ter uma taxa de produtividade muito acima da média portuguesa” – o que fica também claro nos números referidos. “Desde 2010 que o cluster está nesta senda de crescimento”, referiu.
Mas nem tudo está no melhor dos mundos. Sendo certo que um dos problemas não tem solução: a posição geográfica do sector, acantonado no mais ocidental dos países europeus e por isso muito longe de alguns dos principais centros europeus da indústria de produção de automóveis. Num quadro em que a pegada ecológica dos componentes (e dos fornecedores em geral) é uma bitola que cada marca passou a levar em consideração, os milhares de quilómetros que os componentes têm de percorrer não é um bom indicador. “Até porque vão de camião”, recorda José Couto, que não entende por que razão a bitola dos caminhos de ferro portugueses continuam a manter-nos pouco orgulhosamente sozinhos nos confins ocidentais da Europa.
Para mitigar estas ineficiências, “a AFIA constituiu uma parceria com a AICEP para promover o segmento português junto das indústrias externas”, revelou José Couto – no sentido de “aproximar potenciais clientes da realidade do sector e do seu ecossistema, que não são apenas as empresas, mas também os centros tecnológicos e as universidades”. O lado bom da questão é que “temos uma boa conversa com o Governo, que reconhece a importância do sector – que pelas suas caraterísticas está um pouco longe das prioridades do Portugal 2030 – e está consciente da importância económica que encerra”.
É neste quadro de exposição das potencialidades do sector dos componentes automóveis que nove empresas estiveram no final da passada semana na Global Automotive Components and Suppliers”, numa co-organização entre a AFIA e a Associação Empresarial de Portugal (AEP). A. Henriques II, FABOR, Fehst Componentes Fundinio, Incorpol, Maxiplás, MCG, Moldoeste II e Trim NW foram as empresas presentes.
A Global Automotive Components and Suppliers, que decorreu em paralelo com a Automotive Interiors Expo – tem crescido em número de expositores e de visitantes e é uma das principais feiras de negócios da Europa para a indústria de componentes automóveis. Para José Couto, a presença portuguesa “não correu nada mal, houve muitos contactos” dos quais podem surgir diversos novos negócios.
Apesar de ter o motor a precisar de revisão, a economia da Alemanha foi, ano passado, o terceiro cliente das exportações portuguesas de bens, com uma quota de 10,8%, ocupando a segunda posição ao nível das importações (11%). Atualmente é o segundo maior cliente da indústria de componentes automóveis, com uma quota correspondente a 22,6%.