A inflação dos EUA em julho será conhecida esta quarta-feira e a expectativa é elevada, sobretudo depois do meltdown do mercado na semana anterior, após um mês mais fraco na criação de emprego. A pressão nos custos intermédios abrandou em julho, como mostram os dados divulgados esta terça-feira, e o mercado estará completamente focado nos números sobre os preços no consumidor, depois da tremenda oscilação nas previsões quanto às taxas diretoras na última semana.
O mercado aponta para uma leitura de 2,9% em julho, o que constituiria uma descida marginal em relação aos 3% do mês anterior e um avanço em cadeia de 0,2%, contrariando a queda do mês passado – a primeira desde maio de 2020 – que levantou bastantes dúvidas quanto à capacidade de resistência do consumo interno, a componente mais importante do PIB norte-americano.
Certo é que os investidores e analistas estarão ansiosamente à espera dos dados que serão divulgados esta quarta-feira, depois do pânico nas bolsas na semana anterior, um fenómeno despoletado, em última circunstância, pela leitura pouco otimista do mercado de trabalho em junho.
Perante esta leitura, as bolsas caíram a pique e as projeções quanto à política monetária nos EUA ajustaram em forte baixa, com a ferramenta do CME Group, a FedWatch Tool, a apontar, na passada segunda-feira, para uns impressionantes 96,5% de probabilidade de um corte de 50 pontos base (p.b.) já em setembro.
Entretanto, estas previsões ajustaram novamente, com o mercado ligeiramente mais inclinado para 50 p.b. do que 25, como provam as probabilidades estimadas de 53,5% e 46,5%, respetivamente. A única certeza, portanto, é que os juros vão baixar.
“Os investidores estão tão seguros de que a Fed está preparada para cortar taxas agressivamente em setembro que, se a leitura de julho da inflação sai mais alta do que se espera, os mercados podem experienciar um choque feio”, escreve o analista da Gavekal Will Denyer.
O sell-off nos mercados não será suficiente por desencadear um corte da Fed, continua, dado que “as equities interessam apenas na medida em que influenciam a riqueza” e não se prevê que entrem numa espiral recessiva; por outro lado, o mercado laboral, embora arrefecendo, continua a mostrar uma vitalidade que não se coaduna com cortes, caso a inflação volte a subir.
“O risco é que uma surpresa em alta na inflação leve os investidores a reavaliarem quão agressivamente a Fed cortará taxas. Isto pode levar a uma recuperação do dólar, o que tiraria algum ímpeto ao ouro e às cripto. Pode levar as yields a subirem mais. E pode pesar nas ações dos EUA, que continuam relativamente caras”, completa o analista.
Na realidade, a subida de juros no Japão, que minou a estratégia de ‘carry trade’, seguida há largos anos por investidores, sobretudo institucionais, e o overpricing de muitos títulos terão contribuído mais decisivamente para a reação dos mercados, mas a vertente macro norte-americana não deve ser subestimada. Nesta medida, os dados da inflação são duplamente importantes, pois permitirão também aferir a saúde do consumidor americano.
Uma leitura fraca da inflação sugere que os consumidores norte-americanos poderão estar, de facto, a atravessar algumas dificuldades, o que cria sérias preocupações para o crescimento, mas valores acima do esperado são, como se vê, um risco, dadas as expectativas de cortes de juros em breve.
Na vertente dos preços, a pressão sobre os custos das empresas continua a aliviar, um sinal de uma procura em queda na maior economia do mundo – e possível abrandamento do consumo. O índice de preços no produtor abrandou de 2,7% para 2,2% em termos homólogos, o valor mais baixo desde março deste ano, e de 0,2% para 0,1% em cadeia.
Também de relevar que os preços no produtor no sector dos serviços caíram em cadeia pela primeira vez em mais de um ano, desde março do ano passado, recuando 0,2%. Recorde-se que o sector terciário tem sido o foco da Fed pela constante inflação acima da leitura nominal e do objetivo de longo-prazo do banco central de 2%.
Além dos dados da inflação, quinta-feira serão conhecidos os números do retalho em julho, outro indicador da saúde do consumo interno nos EUA, bem como os resultados trimestrais de gigantes do sector como o Walmart ou o Home Depot, ambos na quinta-feira. A semana fecha com os inquéritos de confiança ao consumidor, outro indicador-chave para projetar o crescimento americano até final do ano.