A recessão vai provocar uma “aterragem dura” em 2023. A zona euro deverá sofrer uma contração (-0,1%), com o motor da economia europeia - a Alemanha - a sofrer mais (-0,4%). A maior economia mundial - os EUA - deverá recuar 1%, o Reino Unido desce 0,8%, os BRIC com uma perda de 4,1%... enquanto a China deverá subir 5%. Estas são as previsões da Schroders, a gestora de ativos britânica, para o próximo ano.
“Recessão nos EUA e na Europa, tanto na zona euro como no Reino Unido”, começou por dizer o economista-chefe da gestora de ativos britânica esta semana numa apresentação da ‘Bola de Cristal’, as previsões para o próximo ano.
“O abrandamento da atividade económica” vai provocar uma “dura aterragem na recessão”. A paragem económica vai, por seu turno, “arrefecer a inflação”, com Keith Wade a destacar que a ação dos bancos centrais vai ser “suficiente para travar” os preços altos.
Em termos de subida de taxas de juros, a Schroders espera que a Reserva Federal norte-americana atinja os 4,5%-4,75% no primeiro trimestre de 2023.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco de Inglaterra vão continuar as subir as taxas de juro até ao início de 2023 e depois deverão manter as taxas ao longo do ano, com a economia a “deteriorar-se rapidamente” em consequência das subidas dos juros.
No caso da China, é esperado um crescimento de 5% face ao consenso do mercado de 3,3%. “A China teve um ano difícil com a política Covid-zero”, segundo o estratega, que espera agora que os regimes de quarentena sejam levantados em 2023.
A atual situação mundial nos mercados laborais foi destacada pela gestora de ativos, pois o “desemprego está muito baixo em todo o mundo”, com uma “procura por trabalhadores superior ao número de pessoas desempregadas”. Isto é, a recessão não se faz sentir ainda a nível global.
A Schroders está muito pessimista com a recessão nos EUA em 2023 ao ponto de prever que os lucros das empresas norte-americanas vão cair 14% contra o consenso de mercado que espera uma subida. “Os lucros vão cair significativamente como caem em todas as recessões”, alerta.
A Schroders aponta que, apesar de esperar mais alguns aumentos, a Fed irá “cortar as taxas de juro” em 2023, pois a “recessão vai obrigar a Fed a um alívio”, com o desemprego a subir muito rapidamente nos EUA. “Vão responder, vão considerar que já fizeram o suficiente”. Já a zona euro sofre um “atraso” em termos de atuação de política monetária, com a inflação a “demorar mais a descer”, sendo de prever que o BCE suba as taxas para 3%. “Não vemos cortes até 2024”, antevê .
A Schroders admite que está mais pessimista do que o consenso do mercado, acreditando numa “aterragem dura”, isto é, a subida das taxas de juro vai ter um forte impacto na economia, mas o economista-chefe defendeu que é necessário este embate na economia para “trazer a inflação para baixo”.
Dois riscos destacados pela gestora de ativos são o regresso em grande escala de constrangimentos na cadeia de abastecimentos (bottlenecks), a par do elevado crescimento dos salários, com a necessidade de mão-de-obra em alta.
Por sua vez, Johanna Kyrklund da Schroders destacou que em 2023 um dos ativos mais interessantes são as obrigações, apontando que as ‘yields’ estão num patamar entre os 2% a 4% face aos 1% registados há um ano. “As ‘yields’ estão a providenciar uma grande almofada para o mercado de dívida”, afirmou a responsável. Sobre as ações, a gestora de ativos permanece “cautelosa” para 2023.
Olhando para lá do próximo ano, mais no médio-prazo, a Schroders identificou cinco temas que vão ser cruciais: os bancos centrais vão dar prioridade ao controlo da inflação sobre o crescimento “mesmo que isso signifique causar recessão, e as taxas de juro deverão ficar altas por mais tempo”, disse Azad Zangana, economista da Schroders especializado na Europa; em segundo, a política orçamental deverá ser mais ativa: “os governos vão tentar aliviar os efeitos de uma inflação mais elevada através de impostos e política despesistas. As finanças públicas estão em mau estado depois da pandemia e podemos ver maior pressão para redistribuição”, afirmou; em terceiro, uma nova ordem mundial vai desafiar a globalização: “a pandemia e as quarentenas na China trouxeram ao de cima as fragilidades das cadeias de abastecimento global, portanto devemos ver uma maior diversificação e o regresso da produção industrial” ao ocidente; em quarto, as empresas precisam de responder ao investir em tecnologia, devido aos custos em alta de mão-de-obra e das matérias-primas para aumentarem a produtividade, isto significa “substituir pessoas por máquinas e inteligência artificial onde for politicamente possível”; por último, a resposta às alterações climáticas está a acelerar, em particular entre as empresas que “lideram este processo”, perante a resposta “lenta” dos governos.