O Hamas rejeita novas negociações por um acordo de cessar-fogo, apelando aos mediadores qataris, egípcios e, sobretudo, norte-americanos, os aliados “inabaláveis” de Israel, que pressionem o governo liderado por Benjamin Netanyahu para aceitar a proposta que Washington apresentou em abril. Segundo o jornal israelita ‘Haaretz’, a administração Biden já fez saber ao primeiro-ministro israelita que o responsabilizará publicamente caso esta ronda falhe – invertendo a sua posição de constante apoio –, enquanto o Egito e o Qatar garantem que indicarão claramente se a culpa cair sobre o movimento palestiniano.
Os relatos de que o novo líder político do Hamas, Yahya Sinwar, estaria ativamente à procura de um acordo para pôr um fim à ofensiva israelita em Gaza surgiram de várias fontes, com os mediadores egípcios e qataris a sinalizarem a vontade do movimento palestiniano de aplicar o acordo proposto por Biden em abril – e que Washington sempre publicitou como vindo de Israel. Perante a imposição repetida de novas condições por parte de Israel, Sinwar rejeita agora novas negociações, pedindo aos EUA que pressionem o seu aliado.
A jogada visa colocar pressão sobre o governo liderado por Netanyahu, numa altura em que a espiral de violência, por si levada a cabo, arrisca seriamente uma resposta do eixo da resistência liderado pelo Irão. Os assassinatos extrajudiciais em Teerão e Beirut e o bombardeamento de nova escola em Gaza com mais de 100 vítimas mortais, a maioria crianças e mulheres, parece estar a ser a gota de água para a tolerância ocidental, sobretudo perante as garantias de Netanyahu e dos membros do seu Governo que a guerra é para continuar.
Segundo o ‘Haaretz’, a estratégia de Sinwar parece estar a compensar. A administração Biden, cada vez mais frustrada com a postura israelita, fez saber ao primeiro-ministro que não hesitará em culpá-lo publicamente caso este volte a minar as negociações, uma inversão clara da postura que a Casa Branca tem mantido para com o governo israelita.
Recorde-se que, ainda na sexta-feira, Washington aprovou o envio de 3,5 mil milhões de dólares, ao abrigo de um pacote de 14 mil milhões de dólares para a compra de material de guerra norte-americano para Israel, o maior recipiente de ajuda externa norte-americana.
No mesmo dia, o Departamento do Estado dos EUA anunciou que retomaria o envio de auxílio militar a uma unidade militar israelita, a Netzah Yehuda, acusada de envolvimento na morte de um palestiniano-americano de 78 anos na Cisjordânia. O homem havia sido detido e o seu corpo foi encontrado com sinais de ter sido vendado e amordaçado antes de morrer de ataque cardíaco. O comandante da brigada recebeu uma reprimenda e dois soldados foram dispensados, mas sem repercussões legais.
Ao mesmo tempo, os mediadores do acordo entre Israel e o Hamas garantem que informaram o movimento palestiniano que também será acusado publicamente, caso a responsabilidade por mais uma ronda de negociações falhada recaia sobre si.
Já no fim-de-semana, John Kirby, o responsável pela comunicação do Secretário de Defesa, acusou o ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, de minar o processo de paz e colocar em risco a vida dos reféns, incluindo americanos, com a sua retórica inflamatória.
Smotrich, líder de um partido ultraconservador que suporta a coligação de governo israelita, classificou qualquer acordo para fim da ofensiva israelita em Gaza como “uma rendição”, tal como o ministro da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir. Ambos os legisladores ameaçaram já fazer ruir a coligação caso haja um acordo, embora, com o Knesset, o parlamento israelita, de férias, essa possibilidade se augure improvável.