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EUA: atentado 'empurra' Donald Trump para vitória nas eleições de novembro

Convenção republicana tem início esta segunda-feira e será, com certeza, apoteótica para Trump, depois do atentado do qual foi alvo no passado sábado.

Com a média das sondagens a aumentar a diferença entre os que tencionam votar em Donald Trum e em Joe Biden – com vantagem para o primeiro de dois pontos percentuais (42,3% contra 40,3%, já depois do atentado de sábado) – o candidato republicano chega à convenção republicana com uma incontestável aura de vencedor. Se tudo correr como estava previsto, a convenção terá início esta segunda-feira em Milwaukee, no Wisconsin, e ‘entronizará’ Donald Trump como candidato oficial às presidenciais de novembro próximo.

Uma leitura pela imprensa norte-americana não deixa dúvidas sobre a matéria: o atentado – de onde Trump saiu ensanguentado, rodeado por seguranças, mas de punho erguido e apelando à batalha – é uma motivação adicional para o voto no antigo presidente. E se já seria muito difícil a Joe Biden carregar uma campanha que se está a tornar cada vez mais anémica, tudo agora ficou mais difícil. A pergunta é clara: como pode um homem, que na sexta-feira chamou Putin ao presidente ucraniano e na quinta-feira disse um disparate qualquer sobre a mulher do secretário-geral da NATO, vencer alguém que sai de punho erguido de uma arena onde acaba de receber uma bala a três centímetros do cérebro?

A Reuters afirma que o atentado de sábado aumenta as hipóteses de Donald Tump reconquistar a Casa Branca, e as apostas na sua vitória aumentarão esta semana, disseram investidores este domingo. Antes do atentado, os mercados reagiram à perspetiva de uma presidência de Trump que empurrasse o dólar para um pico de valorização, dando cabo das exportações – mas tudo isso é passado: já ninguém acredita que Biden possa vencer. E se o atentado motiva os republicanos a concentrarem-se no voto a Tump, do lado democrata passar-se-á precisamente o contrário: a perspetiva de uma vitória pré-anunciada de Trump vai aumentar o absentismo.

O primeiro tiroteio contra um presidente dos Estados Unidos ou um candidato de um grande partido, desde uma tentativa de assassinato do presidente republicano Ronald Reagan em 1981, acaba assim com as dúvidas sobre quem será o próximo presidente dos Estados Unidos. E a única novidade da convenção republicana – que será muito mais um mega-comício de Trump – é saber-se qual será o nome que vai acompanhá-lo como vice-presidente. A lista ‘não-oficial’ de nomes é composta pelo senador da Florida, Marco Rubio, o também senador JD Vance, do Ohio, e o governador de Dakota do Norte, Doug Burgum. A convenção decorrerá até quinta-feira e acabará, se tudo correr como estava previsto, com um discurso de Donald Trump – que aceitará formalmente a nomeação para candidato.

Já a convenção democrata acontecerá apenas entre 19 e 22 de agosto e será, com certeza, penosa para o partido. O mais certo é que Joe Biden não se deixe convencer de que deve desistir e continuará a forçar a sua presença nos boletins eleitorais. Para além do facto de já haver muito pouco tempo para o partido escolher um substituto de Biden, o atentado deixou claro que quem estivesse disponível, para tomar o seu lugar, teria, em vista, uma derrota política que não iria apagar do currículo.

De qualquer modo, a Reuters chama a atenção para um outro ponto que pode ser importante. A tentativa de assassínio do ex-presidente enfureceu os seus apoiantes, interrompeu a campanha democrata e levantou receios de mais violência política no período que antecede as eleições de novembro. É que estes ‘enfurecidos’ parecem estar convencidos de que a demonização da personalidade de Trump – a opção mais clara da estratégia democrata – transforma Joe Biden no responsável ‘ideológico’ pelo atentado. A teoria – que o Kremlin e Vladimir Putin aceitam como verdadeira – pode espalha-se e motivar o aumento da violência durante a campanha. Sabendo-se das ligações estreitas entre Trump e alguns grupos violentos de extrema-direita (como ficou claro no assalto ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021), analistas ouvidos pela Reuters consideram que não é de deixar de lado a hipótese de uma escalada de violência. E mesmo o facto de o autor do atentado, Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, ser um republicano registado é insuficiente para Biden ser apontado como responsável.

Num ambiente onde todas as teorias conspirativas têm lugar, o mais certo é que surja uma que aponte para o Irão como fomentador de tudo. Mas vale a pena lembrar que o novo presidente iraniano, eleito há pouco mais de uma semana, disse que espera melhorar os laços com a Europa, ao mesmo tempo que os analistas afirmam que o confronto permanente com os Estados Unidos não faz parte da sua agenda.

O suspeito de ter praticado o atentado era morador em Bethel Park, na Pensilvânia, e foi baleado e morto pelos Serviços Secretos segundos depois de disparar sobre o candidato republicano. Morava a cerca de uma hora de distância do lugar onde se realizava o comício. Thomas Matthew Crooks formou-se em 2022 na Bethel Park High School, onde recebeu um prémio de 500 dólares atribuído pela da National Math and Science Initiative para compensar os seus conhecimentos.

Os cadernos eleitorais do Estado mostram que Crooks era um republicano registado e que, quando tinha 17 anos, fez uma doação de 15 dólares para o ActBlue, um comité de ação política que arrecada dinheiro para políticos de esquerda e democratas, de acordo com um documento da Comissão Eleitoral Federal de 2021. A doação foi destinada ao Progressive Turnout Project, um grupo nacional que reúne votantes democratas.

Os jornais norte-americanos dizem que o pai de Thomas, Matthew Crooks, de 53 anos, está disponível para falar com as autoridades policiais e que antes disso não falará à comunicação social. É também referido como o dono da arma semi-automática usada no atentado. Os investigadores acreditam que a arma utilizada por Crooks, uma AR-15 semiautomática, foi comprada pelo pai de forma legal há pelo menos seis meses. As autoridades de segurança disseram que Crooks não levou nenhuma identificação para o local do tiroteio. Por seu lado, a Reuters não conseguiu identificar contas nas redes sociais ou outras publicações online de suposto autor do atentado – mas a Meta, empresa que controla o Facebook e o Instagram, não respondeu sobre se as plataformas haviam removido quaisquer contas do suspeito.

As autoridades encontraram explosivos no carro do alegado autor do atentado. As forças policiais encontraram o material explosivo na viatura que estava estacionada perto do local do comício onde ocorreu o atentado. Também foi encontrado material para o fabrico de bombas na casa onde Thomas vivia.

Melania Trump, mulher do ex-presidente, descreveu como um monstro o autor da tentativa de assassínio do seu marido: "um monstro que considera o meu marido uma máquina política desumana tentou extinguir a paixão de Donald, o riso, a criatividade, o amor pela música e a inspiração”, disse na rede social X.

Entretanto, todas as reações internacionais (sem exceções conhecidas) foram no sentido de condenar o atentado, colocando-se do lado do candidato republicano – sem, evidentemente, mostrarem simpatia pela teoria de que a ‘diabolização’ da imagem de Trump pelos democratas possa ter instigado os acontecimentos.

Num conjunto organizado pela Lusa, sabe-se que os presidentes do Conselho, da Comissão e do Parlamento Europeu condenam o ataque e afirmam que a violência política não tem lugar em democracia. Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, diz que o atentado contra Trump revela os desafios globais que a democracia enfrenta e mostrou-se solidário com Trump – que por ele não nutre qualquer simpatia – desejando-lhe rápidas melhoras. O ataque foi também condenado pelo primeiro-ministro albanês, Edi Rama, que o considerou “uma tragédia para o mundo democrático”. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, considerou tratar se de um ataque “indesculpável” aos valores democráticos e, na Áustria, o chanceler Karl Nehammer disse na rede social X: “A violência política não tem lugar na nossa sociedade!” O presidente do Brasil, Lula da Silva, defendeu que o ataque deve ser “fortemente repudiado” por todos os defensores da democracia e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que “a violência política nunca é aceitável”. Numa lista de países que condenaram o ataque a Associated Pres (AP) cita os presidentes da China (Xi Jinping), Egipto (Abdelfattah El Sissi), El Salvador (Nayib Bukel), França (Emmanuel Macron), Finlândia (Alexander Stubb), Itália ( Sergio Mattarella), Israel (Isaac Herzog ), México (Andrés Manuel López Obrador), Coreia do Sul (Yoon Suk Yeol), Taiwan (Lai Ching-te), Filipinas (Ferdinand Marcos Jr). A estes juntarem-se ainda o presidente de Portugal, (Marcelo Rebelo de Sousa) e Argentina (Javier Milei). No continente africano, líderes de países como a África do Sul, Zâmbia ou Etiópia, entre outros, condenaram igualmente a tentativa de assassínio e alertaram para os perigos para a democracia. O porta-voz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, Peskov, condenou qualquer manifestação de violência no âmbito da luta política mas considerou que o atual governo dos Estados Unidos criou a atmosfera que propiciou este ataque. O chanceler alemão Olaf Scholz e os primeiros-ministros de vários países criticaram o ataque e manifestaram solidariedade com Donald Trump, entre os quais os chefes dos governos de Portugal, Dinamarca, Estónia, Hungria, Índia, Iraque, Japão, Kosovo, Noruega, Paquistão, Eslováquia, Suécia e Reino Unido. O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse estar chocado com a tentativa de assassinato do antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump e afirmou que "violência política" não tem lugar nas democracias.

Já este domingo, Trump, apelou aos norte-americanos para que se mantenham unidos e determinados. “Neste momento, é mais importante do que nunca que nos mantenhamos unidos e mostremos o nosso verdadeiro caráter como americanos, permanecendo fortes e determinados, e não permitindo que o mal vença”, escreveu na plataforma Truth Social. Cerca de trinta pessoas reuniram-se este domingo junto à Trump Tower, em Nova Iorque, numa vigília de solidariedade para com o candidato – com a polícia a reforçar as medidas de segurança no edifício.