Tudo leva a crer – principalmente desde que, na semana passada, o PSOE conseguiu eleger a sua representante como líder do parlamento – que Alberto Núñez Feijóo, presidente do Partido Popular que ganhou as eleições de 23 de julho passado, não chegará a liderar o próximo executivo.
Os partidos que obtiveram lugar nas Cortes vão ser esta semana chamados à presença do rei Filie VI, que tem a função de convidar um líder para apresentar um elenco governativo ao Parlamento e duas teses estão neste momento em confronto: os que consideram que Filipe VI não deve perder tempo convidando Alberto Núñez Feijóo para formar governo – uma vez que não tem hipótese de o fazer passar no Parlamento; e os que consideram que, apesar do que parecem ser todas as evidências, deverá seguir à risca as indicações deixadas pelas eleições e convidar Feijóo.
Para os analistas, Filipe VI deverá optar pela segunda via. É essa a determinação do quadro legal e o rei não quererá por certo arcar com uma escolha política que poderá acabar por ser mal aceite – e sê-lo-ia com certeza – por quase 50% dos espanhóis. Numa altura em que a monarquia não passa pelo melhor dos tempos – muito por causa dos avatares do rei emérito, Juan Carlos – Filipe VI pretenderá escudar-se nas leis para cumprir todos os preceitos.
O PSOE, o Sumar e os independentistas que apoiam esta coligação, deverão insistir no ‘queimar’ da etapa que consideram desnecessária. Estão evidentemente convencidos de que as negociações ainda em curso, já depois da eleição da presidente do Parlamento – Francina Armengol, antiga presidente do governo regional das Baleares – só podem vir a correr bem. Apesar disso, estes pequenos partidos, nomeadamente o Junts per Catalunya, liderado por Carles Puigdemont, já disseram que o apoio a Armengol não quer automaticamente dizer que vão deixar passar sem mais negociação um executivo novamente liderado pelo socialista Pedro Sánchez.
Mas é claro para a maioria dos analistas que esse apoio acabará mesmo por surgir. Até porque entretanto vários líderes socialistas e do Sumar têm dito que estão já a trabalhar naquela que é a maior pretensão de Puigdemont: fazer desaparecer todas as acusações de que é alvo – e que na prática o impedem há uns cinco anos de viajar para o seu país. Nesse particular, a criatividade tem imperado, mas no final por certo que alguma solução será encontrada.
Entretanto, a Europa respira de alívio: a votação favorável a um executivo liderado por Pedro Sánchez fará desaparecer a possibilidade de ter de haver alterações no elenco que está à frente do Conselho da União Europeia, nas mãos de Espanha até ao final do ano. Não que, na prática, isso fosse criar algum problema – mas é uma fricção política que a Comissão Europeia dispensa.