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Empresas com ‘FOMO’: Mais de 80% investem em tecnologia para seguir pisadas da concorrência

O medo de ficar para trás é a terceira motivação das organizações mundiais para investir em tecnologia, concluiu a KPMG. Em declarações ao Jornal Económico, Rui Gonçalves, ‘partner’ da consultora, diz aos gestores para não tentarem ceder a essa pressão.

A ideia de que as empresas investem em tecnologia, inclusive Inteligência Artificial (IA), por verem os concorrentes investirem deixou de ser apenas uma ideia. Um relatório recente da consultora KPMG, a que o Jornal Económico (JE) teve acesso, confirma que a evolução tecnológica está a criar um medo de ficar para trás (FOMO – Fear Of Missing Out) em 82% das organizações analisadas.

A imensidão de notícias sobre IA despertou interesses pela tecnologia que transcendem o conhecimento técnico e serviram apenas para “atiçar o fogo da inveja tecnológica”, levando à estratégia – ou falta dela – de spend now, ask questions later (“gastar agora, faz perguntas depois”). Os consultores alertam que a ambição de progresso é salutar, mas não pode retirar o bom senso e capacidade de análise às organizações, que por vezes resultam em decisões de investimentos erradas ou iniciativas de implementação digital desarticuladas.

“A KPMG recomenda que as organizações poderão adotar uma abordagem estratégica baseada em provas concretas e não ceder à pressão do FOMO (medo de ficar para trás). Cremos que a estratégia ideal poderá consistir em alinhar as decisões de investimento tecnológico com os objetivos estratégicos da organização, assegurando que cada nova iniciativa tecnológica seja seguida de testes (PoCs) e evidências claras de retorno sobre o investimento”, diz ao Jornal Económico (JE) o sócio responsável pela área de Consultoria em Tecnologia da KPMG Portugal.

Ainda assim, apesar de o FOMO ser a terceira motivação das empresas inquiridas para investir em tecnologia, denota-se uma “abordagem equilibrada” às decisões de investimento. Aliás, agora as duas principais razões para investir no digital passaram a ser orientações de terceiros, inclusive reguladores (89%), e os testes-piloto internos e as provas de conceito (83%). E há resultados positivos: 87% dos inquiridos relatam um aumento dos lucros devido aos seus investimentos em tecnologia, o que representa um acréscimo de 25% em relação ao “KPMG Global Tech Report” de 2023.

Rui Gonçalves considera que tem havido um progresso significativo das empresas nas suas jornadas de transformação digital, nomeadamente em IA, XaaS (Anything as a Service) – que significa operar num modelo de “tudo como um serviço” – e cibersegurança. De destacar ainda o aumento da produtividade dos colaboradores destas empresas internacionais que recorrem a ferramentas inteligentes.

Quase 90% das organizações reportam aumento dos lucros e 74% estão mais produtivas

“Os números de 2024 dizem-nos, efetivamente, que três quartos dos inquiridos confirmam que a IA está já a aumentar a produtividade dos colaboradores [74%], aumentando as receitas das empresas. No entanto, o relatório destaca a importância de uma abordagem equilibrada, baseada em evidências concretas e na gestão cuidadosa da dívida técnica, para garantir que as novas tecnologias são adotadas de maneira eficaz e segura”, refere o partner da KPMG ao JE.

Em Portugal, as conclusões poderão ser outras, tendo em conta a adoção desta tecnologia ainda ser diminutiva, de acordo com os diversos relatórios de mercado, e de o nível de produtividade no país continuar baixo, mantendo-se até inferior à média da União Europeia. Dados que só deveriam dar aos gestores mais ímpeto a estimularem a produtividade dos seus trabalhadores.

Apesar de quererem acompanhar (ou ultrapassar) a concorrência, é visível que a maioria das organizações (77%) receia que a IA venha a colocar desafios às suas estruturas operacionais. Questionado sobre esses desafios, o partner da KPMG esclarece que esse medo tem que ver com o “impacto disruptivo que essa tecnologia pode ter nos processos existentes e na força de trabalho”, portanto, incertezas quanto ao futuro dos empregos e da extinção ou reformulação de funções tradicionais. “Além disso, há alguma ansiedade face à falta de transparência associada ao funcionamento dos modelos de IA, que pode comprometer a confiança dos colaboradores e dificultar a integração total da tecnologia nas operações quotidianas”, acrescenta.

Concluiu-se ainda que os executivos acham a segurança dos dados uma prioridade, com mais de um terço a afirmar que se irá concentrar em melhorar a proteção dos seus dados nos próximos 12 meses (35%) e dar prioridade à acessibilidade e à democratização dos dados (33%), segundo esta análise que envolveu questionários a 2.450 profissionais de tecnologia de 26 países, entre os quais a China, os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha, Israel e geografias do Médio Oriente.