Na sociedade contemporânea, tão presa ao mito da juventude e do não envelhecimento como ao do consumo da novidade, a irreversibilidade vivida na vida é repelida. No lugar desse mal, como um grande bem, ocupa-se todo o espaço da vida com o culto da reversibilidade. Como se dessa maneira se esconjurasse a morte da vida. Na verdade, como se não tivéssemos passado pela vida. E esse é o paradoxo: o “império do efémero”, de que falava Gilles Lipovetsky já em 1987, é um culto da vida que, ironicamente, a suspende.
Elogio do irreversível
Uma vida vive-se tornando-se mais irreversível, ganhando mortalidade, tornando-se um acontecimento único e singular. Mas como irreversibilidade criada e escolhida e não como fatalidade. A irreversibilidade deve resultar da própria ordem do viver.
