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Eleições no Reino Unido: persistem as dúvidas sobre a ‘segunda fila’

Mas não muitas: parece ser certo que os extremistas do Reform UK conseguirão o terceiro lugar, relegando para fora do pódio os liberais do Dem-Lib, que assim deixam uma carreira de fiel da balança e caem para o lado da irrelevância política.

Nada parece conseguir parar o ímpeto dos trabalhistas no caminho para tomar posse do número 10 de Downing Street – ao mesmo tempo que os conservadores não conseguem estancar a debandada de que estarão a ser alvo. As dúvidas seguem por isso – no que tem a ver com o ato eleitoral que terá lugar durante esta quinta-feira, um dia de trabalho normal e sem as patuscas 24 horas de reflecção – para a segunda linha. Para a eterna segunda linha, aliás: com o sistema eleitoral inglês a assumir muitas parecenças com o francês, o bipartidarismo é, de forma que muitos consideram, muito pouco democrática, uma imposição do próprio sistema. Uma nota: a extrema-direita francesa está a ‘ensinar’ ao chamado ‘centrão’, da pior forma, as consequências do sistema quando alguma coisa falha.

Estão nesta segunda linha os liberais do Dem-Lib – que sazonalmente fazem o favor de se aliar, ora com conservadores ora com trabalhistas, para compor maiorias na Câmara dos Comuns quando elas não emanam diretamente da vontade popular; e os extremistas do Reform UK, um partido que derivou do UKIP de Nigel Farage e acabou por transformar-se no Partido do Brexit, antes de mais uma metamorfose.

Nesta espécie de segunda divisão, o Reform UK está a demonstrar uma clara capacidade de melhor desempenho. Nos últimos dias, as sondagens indicam que o partido que continua a ter em Nigel Farage a sua ‘alma mater’ está a tocar na fasquia dos 16% de intenções de voto – mantendo um percurso ascendente que se tem vincado nas semanas mais recentes.

Ao contrário, os liberais conseguiram apenas ‘aplanar’ as intenções de voto, não conseguindo ‘descolar’ da barreira dos 10% - contra os 11% que tinham há apenas alguns dias. Sinais dos ventos que invadem as ilhas britânicas vindos do continente, dizem os analistas – onde os liberais estiveram em mau plano nas eleições para o Parlamento Europeu (com a honrosa exceção dos portugueses e pouco mais) e a extrema-direita cresceu exuberantemente. A acreditar nas sondagens, este cenário vai repetir-se no Reino Unido.

Mas nada disso parece afetar muito os trabalhistas liderados por Keir Starmer, que estão seguros acima da casa dos 40% - mas não no pico dos 45% que observaram há duas ou três semana. Ou seja, o gap para com os conservadores já não é o dobro das intenções de voto no partido de Rihsi Sunak, mas um pouco menos. De facto, os conservadores conseguiram uma pequena melhoria: passaram dos 20% para os 22% de intenções de voto. Seja como for, o partido que mais ‘engordou’ no passado recente foi mesmo o dos extremistas do Reform UK.

Por uma razão que se compreende – afinal, o centro dos interesses comuns é uma ‘doença’ que afeta todas as democracias – os researchs dos bancos e das consultoras indicam todas, sem exceção, que os grandes indicadores da economia não deverão sofrer variações significativas, quer ganhem os trabalhistas quer ganhem os conservadores. Crescimento, défice ou dívida estão seguros no lugar onde é suposto estarem, sem que o nome do partido vencedor – partindo do pressuposto que será um daqueles dois – altere o que quer que seja. A previsibilidade é um bem que os investidores (principalmente os estrangeiros) pagam a peso de ouro – e, com certeza, os britânicos não querem passar pelos ‘calafrios’ que os honestos franceses estão a passar neste momento, precisamente por esse motivo.