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Egipto junta-se à África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional

Os analistas afirmam que a decisão terá a ver com o facto de um dos países que tem liderado as negociações para um cessar-fogo ter dúvidas sobre a sinceridade das posições do governo de Benjamin Netanyahu.

O Egipto, um dos países que mais tem apostado no desenvolvimento de uma plataforma de negociação, que mantenha abertos canais de ligação entre Israel e o Hamas, anunciou que se juntará formalmente ao processo movido pela África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça, que acusa o Estado hebraico de violar as suas obrigações face à Convenção sobre Genocídio na Faixa de Gaza.

A notícia surgiu de surpresa, dada a posição de mediador mantida pelo Egipto desde o início da guerra – e para os analistas parece querer dizer que as autoridades do Cairo estão cada vez menos convencidas de que as negociações ainda servem para alguma coisa.

De qualquer modo, Alon Liel, ex-diretor do Ministério das Relações Exteriores de Israel, disse, à cadeia Al Jazeera, que a medida é um "golpe diplomático inacreditável para Israel". "O Egipto é a pedra angular da nossa posição no Oriente Médio", disse. As ligações que Israel tem hoje no Médio Oriente e no Norte de África, incluindo com a Jordânia, os Emirados Árabes Unidos e Marrocos, são todas "resultado do que o Egipto fez há 40 anos. Com o Egipto a juntar-se à África do Sul em Haia, é um verdadeiro golpe diplomático. Israel terá de levar isso muito a sério”.

A posição do Egipto pode alterar radicalmente o quadro das negociações – que nas últimas semanas tem marcado passo e não tem conseguido nenhum entendimento significativo entre as duas partes em guerra. Em princípio, é esta falta de eficácia que terá levado o Egipto a optar por juntar-se à África do Sul – o que parece querer dizer que as autoridades do Cairo estarão convencidas de que Israel não está de boa fé no quadro das negociações.

Ainda neste quadro, ficou este domingo a saber-se que chefe da Organização Nacional de Inteligência da Turquia (MIT), Ibrahim Kalın, teve uma reunião com o chefe do bureau político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Doha. A reunião ocorreu no momento em que Israel intensifica seus ataques em Gaza e mais particularmente em Rafah.

Durante a reunião, uma delegação do Hamas, liderada por Haniyeh, expressou a sua satisfação com as iniciativas da Turquia nas negociações com Israel. Segundo os jornais turcos, a liderança do Hamas informou Kalın que a organização palestiniana espera uma resposta de Israel para alcançar um cessar-fogo total no enclave.

Na reunião na capital do Qatar, ambas as delegações concordaram sobre a necessidade imediata de permitir a entrada de ajuda humanitária urgente em Gaza, que enfrenta um estrangulamento israelita nas principais passagens de fronteira – estrangulamento esse que o governo de Benjamin Netanyahu desmente. A Turquia tem tentado conseguir uma posição de destaque no seio das negociações entre os dois beligerantes.

Entretanto, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, que enfrenta um "desastre humanitário épico". "Reitero o meu apelo, o apelo do mundo por um cessar-fogo humanitário imediato, a libertação incondicional de todos os reféns e um aumento imediato da ajuda humanitária", disse Guterres, num discurso por vídeo, numa conferência internacional de doadores no Kuwait, no domingo passado. "Mas um cessar-fogo será apenas o começo. Será um longo caminho de volta da devastação e do trauma desta guerra", acrescentou.

Os ataques israelitas em Gaza continuaram no domingo depois de o país ampliar uma ordem de evacuação para Rafah, apesar do clamor internacional contra a incursão militar em áreas do leste da cidade. “A guerra em Gaza está a causar terrível sofrimento humano, devastando vidas, destruindo famílias e deixando um grande número de pessoas desabrigadas, famintas e traumatizadas", disse Guterres.

As suas declarações foram ditas na abertura da conferência no Kuwait, liderada pela Organização Internacional de Caridade Islâmica (IICO) e pela organização de coordenação humanitária OCHA, da ONU.