A voz calma e serena de um homem gentil e de bem com a vida, ainda que esta lhe tenha trazido uma perda irreparável e a noção de estar “assustadoramente mais velho” nos tempos mais recentes, era o primeiro impacto com o ensaísta Eduardo Lourenço. Provavelmente o intelectual mais consensual de Portugal, nem que fosse pela desarmante confissão de que “nada mais sabia fazer além de pensar”, o autor de obras como “O Labirinto da Saudade” morreu aos 97 anos nesta terça-feira, precisamente no dia em que, de cara tapada por máscaras e abreviando a cerimónia para cumprir rigorosamente o recolher obrigatório, o país celebrou a restauração da independência.