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EDPR garante que vai lutar pelos seus direitos em tribunal americano

Consórcio da EDP está a contestar em tribunal intenção de o Governo de Donald Trump cancelar a licença emitida para um projeto eólico offshore na costa leste do país. Projeto com 2,4 gigas já foi avaliado em cinco mil milhões de dólares.

A EDP Renováveis (EDPR) garante que vai lutar pelos seus direitos num tribunal norte-americano num caso que opõe o seu consórcio ao Governo de Donald Trump.

A Casa Branca quer anular a licença da central eólica offshore (marítima) na costa leste dos EUA, um projeto da Ocean Winds, consórcio que junta a EDP Renováveis e os franceses da Engie.
 
"Nós - e várias outras empresas - vamos defender os nossos direitos nos fóruns adequados. Depois veremos", disse o presidente-executivo da EDPR na terça-feira.
 
"É, no fundo, uma percepção por parte da administração americana que não quer avançar com o eólico offshore. Nós, obviamente, achamos que faz sentido ter estes projetos do ponto de vista técnico, económico e ambiental. Por isso é que avançámos", acrescentou Miguel Stilwell d'Andrade.
 
O gestor fez questão de esclarecer que os EUA continuam a ser um mercado prioritário para a companhia. "Continuamos a defender que os Estados Unidos são um mercado de grande crescimento, com imenso potencial".
 
"É importante separar aquilo que é o investimento no onshore, na eólica em terra, do solar, das baterias, que continua a ter grandes perspetivas de crescimento", afirmou.
 
O projeto Southcoast Wind, ao largo da costa do Massachusetts, tem uma capacidade prevista de 2,4 gigawatts. A companhia deveria iniciar a construção este ano para estar operacional em 2030.

O valor do investimento nunca foi revelado pelo consórcio, mas os custos podem atingir 5 mil milhões de dólares, segundo uma estimativa feita em 2023 pelo jornal especializado "North American Wind Power".

Em agosto, o Governo federal cancelou financiamento de 580 milhões de euros a projetos eólicos marítimos.

A Casa Branca pediu este mês a um tribunal federal de Washington DC para revogar a licença de construção da central SouthCoast Wind.

A ofensiva anti-eólicas offshore de Trump começou há 14 anos, quando falhou em travar uma central ao largo de um dos seus campos de golfe na Escócia. O presidente já disse publicamente que considera os aerogeradores "feios e ineficientes".

Mais uma vez, a experiência pessoal do presidente dos EUA parece interferir nas decisões que toma, com implicações de milhares de milhões de dólares, não olhando para os impactos de aprovações já dadas pelo Estado norte-americano, algo que não se associaria ao ambiente de negócios dos EUA, considerado até recentemente como um país bastante pró-investimento.

A intenção do Governo em cancelar o projeto da EDPR está numa moção submetida neste processo que foi originalmente instaurado este ano pela cidade de Nantucket, no estado de Massachusetts, para contestar o licenciamento.

A central está projetada para mais de 30 kms ao largo desta cidade, mas uma avaria noutra central, em 2024, fez com que as praias da região ficassem com detritos de uma turbina, provocando a reação negativa da autarquia contra outros projetos.

As declarações tiveram lugar na terça-feira no evento que marcou a produção da primeira molécula de hidrogénio pela EDP na Europa. O evento teve lugar na central termoelétrica do Ribatejo, no Carregado, distrito de Lisboa. O projeto tem o nome de FLEXnCONFU, contando com um eletrolisador de 1,25 MW PEM da Cummins.

Na resposta à moção da Casa Branca, os advogados do consórcio Ocean Winds disseram que os procedimentos em curso “são um desejo descarado do presidente para eliminar todos os projetos eólicos offshore, independentemente dos seus impactos”, afirmaram, citados pela "Reuters".

Em fevereiro, a EDPR anunciou a suspensão deste projeto eólico marítimo nos EUA, o que poderá provocar um atraso de quatro anos.

Isto significa que o projeto em parceria com a Engie (através do consórcio Ocean Winds) será, eventualmente, retomado quando houver um novo presidente na Casa Branca, em 2029, pois as próximas eleições vão ter lugar em novembro de 2028. A companhia assumiu uma perda de 113 milhões de euros.

O consórcio ainda não tomou uma decisão final de investimento (FID) sobre este projeto.

A aprovação ao projeto foi dado pelo U.S. Bureau of Ocean Energy Management (BOEM) em janeiro deste ano, "após uma avaliação rigorosa de quatro anos", disse fonte oficial da Ocean Winds ao JE no início de setembro.

"Esta avaliação reflete um processo público extenso que incorporou feedback das Nações Tribais, agências federais e estaduais, utilizadores comerciais do oceano e muitos outros 'stakeholders'", acrescentou.

Ofensiva de Trump contra eólicas offshore

Washington está mesmo empenhado nesta missão contra a energia eólica offshore.

Seis agências foram encarregues pelo executivo Trump de avançar com planos para retalhar o setor offshore, segundo o “New York Times” (NYT). A chefe de gabinete do presidente Susie Wiles e o conselheiro sénior Stephen Miller são quem lidera o esforço.

Mesmo agências que não estão relacionados com o offshore foram chamadas para intervir. O Departamento de Saúde vai analisar se as turbinas emitem campos eletromagnéticos que possam prejudicar a saúde humana. O Departamento de Defesa analisa se os projetos podem representar riscos à segurança nacional, escreveu o “NYT” este mês.

Processos cancelados e em tribunal

Mas há mais empresas em tribunal a contestar a tentativa de cancelamentos, como a Avangrid (detida pela espanhola Iberdrola) que tem o projeto New England Wind ao largo da costa do Massachusetts.

Outras empresas também viram Washington a cancelar os seus projetos, como a central Revolution Wind da dinamarquesa Orsted viu Washington a dar ordem de paragem (apesar de estar 80% concluída), e o projeto Empire Wind 1, em Nova Iorque, da norueguesa Equinor.

Esta semana, o Governo avançou para cancelar o projeto da US Wind, detida pelo fundo Apollo Global Management, ao com 1,7 gigas ao largo do estado do Maryland.