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Dresden: as luzes e sombras da “Florença do Elba”

A reconstrução de Dresden não se limitou aos edifícios. Abrangeu também a construção de uma renovada identidade e de um novo espírito comunitário.

Dresden foi palco de um dos bombardeamentos mais devastadores da Segunda Guerra Mundial. Em fevereiro de 1945 foi alvo de uma série de ataques aéreos intensos pelas forças Aliadas, resultando na destruição total do centro histórico e na morte de 25 mil pessoas. Dresden (em polaco, Drezno) é uma cidade da Alemanha, capital do estado da Saxónia. Localiza-se nas margens do rio Elba. Tem 543 825 habitantes (segundo o censo de 2015) e possui estatuto de distrito. Tem origem num povoado eslavo de nome ‘Drezdane’, que começou a ser germanizado no século XIII. Tem uma longa história como capital e residência real dos reis da Saxónia e acumula séculos de cultura e esplendor artístico. Entre 1697 e 1763 foi a cidade residencial dos reis da Polónia. Um relatório da Força Aérea dos Estados Unidos, escrito em 1953 por Joseph W. Angell, defendeu a operação como “o bombardeamento justificado de um alvo militar, industrial e centro importante de transportes e comunicação, que era sede de 110 fábricas e albergava 50 mil trabalhadores que apoiavam o esforço de guerra nazi”. Em sentido contrário, outros investigadores argumentaram que nem todas as infraestruturas, por exemplo pontes, foram, de facto, alvo do bombardeamento, tal como extensas áreas industriais que estavam distantes do centro. Alegam ainda que Dresden era um marco cultural, de pouca ou nenhuma importância militar, uma “Florença do Elba”, e que os ataques foram sem sentido e desproporcionais aos correspondentes ganhos militares. Certo é que os ataques aéreos resultaram numa destruição maciça, incluindo a icónica Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora), um dos símbolos da cidade. Apesar do cenário devastador, o povo de Dresden não se vergou. Após o fim da guerra, iniciaram um processo de reconstrução que durou décadas. A reconstrução da Frauenkirche em particular tornou-se um símbolo de resiliência e determinação. Durante muitos anos, os escombros da igreja permaneceram como um memorial. Só depois da queda do Muro de Berlim foi lançado um projeto para a reconstruir, utilizando as pedras originais sempre que possível. Daí a cor negra que se pode observar (na catedral e em muitos outros edifícios). A comunidade local e pessoas de todo o mundo mobilizaram-se para angariar fundos e apoiar a reconstrução. Em 2005, a Frauenkirche foi finalmente concluída, sendo um testemunho vivo da resiliência de Dresden. A dor causada pelos 25 mil mortos, e a convivência durante décadas com os escombros, resultaram numa revolta que ainda hoje é possível testemunhar ao conversar com alguns dos seus habitantes. Além da reconstrução física, Dresden também enfrentou o desafio de curar as feridas emocionais. A cidade passou por um processo de reconciliação. A reconstrução de Dresden não se limitou apenas aos edifícios, mas também abrangeu a construção de uma renovada identidade e de um novo espírito comunitário. Hoje é uma cidade vibrante que atrai turistas de todo o mundo. A sua história de esperança é celebrada. Os habitantes de Dresden provaram que é possível superar as adversidades.

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