Donald Trump começou o seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, anunciando que tratará de imediato, através das ordens executivas que já começou a assinar, de acabar com a inflação e fazer descer os preços. E para isso, vai travar a inflação causada pela escalada dos preços do setor da energia, apostando novamente no petróleo e no gás, e relegando para um plano inferior as energias limpas – nomeadamente largando o financiamento à mobilidade elétrica e refazendo as reservas estratégicas de crude. “Cada americano comprará o automóvel que quiser”, disse. Além disso, afirmou que apostará na reindustrialização – desde logo com o regresso da indústria automóvel que, lembrou, deu emprego a milhões de trabalhadores antes de praticamente desaparecer face à concorrência asiática.
Ainda no lado da economia, Donald Trump lançou a possibilidade de aumento de tarifas, mas primeiro vai avaliar as relações comerciais com a China, o Canadá e o México – na tentativa de que as retaliações previstas não venham a implicar sobre a vida dos americanos. Haverá novas tarifas e taxas “sobre os produtos que vêm de outros países, que ganham dinheiro à custa dos Estados Unidos”, assegurou.
De qualquer modo, os decretos governamentais têm um alcance limitado, uma vez que não devem ter uma implicação direta na receita e na despesa do Estado. Ou seja, os analistas afirmam que mexidas nos impostos ou o aumento das tarifas aduaneiras não podem ser decididas por decreto – sem passarem pelo crivo do Congresso, onde, de qualquer forma, e tanto na Câmara dos Representantes como no Senado, os republicanos são maioritários.
Mas convém ter em atenção que as questões económicas surgiram em segundo plano face àquilo que é a prioridade do novo presidente: uma espécie de declaração de emergência nacional na fronteira com o México – prometendo usar o Exército para a patrulhar. Será uma resposta musculada a dois problemas centrais: a entrada de imigrantes ilegais no território norte-americano, com as deportações a entrarem em vigor de imediato, e a perseguição aos cartéis responsáveis pela passagem de estupefacientes pela fronteira, que vão ser combatidos, afirmou, como se fossem terroristas. Mas, ainda no que tem a ver com imigração, Trump não se esqueceu de agradecer “aos negros e aos hispânicos que votaram em mim em força; vou trabalhar com eles. Faremos o seu sonho realidade”.
Naquilo que caraterizou como “a nova idade de ouro da América” (a primeira frase da sua intervenção como presidente empossado), Trump referiu ainda que vai mesmo mudar o nome de Golfo do México para Golfo da América – sendo evidentemente incerto que o resto do mundo acompanhe a mudança. E vai também obrigar o Panamá a cumprir o acordo que tem com os Estados Unidos em termos da gestão do Canal com o mesmo nome. “O Canal do Panamá foi tolamente dado ao Panamá, uma oferta que nunca devia ter sido feita. O Panamá não cumpriu o acordo – a China está a operar e não demos o Canal à China, mas ao Panamá”, afirmou.
Outra área que estará sob a alçada dos decretos presidenciais – a que genericamente chamou “de senso comum” – é a dos ‘costumes’. “Na América passa a haver outra vez dois sexos, o masculino e o feminino”, e os militares que saíram do Exército por não aceitarem tomar a vacina contra o Covid-19 serão ressarcidos das suas perdas. “Vou acabar com as políticas woke”, assegurou.
O Exército esteve muito presente no discurso: Trump prometeu que as forças armadas voltarão a ser as maiores e mais bem apetrechadas do mundo e que a sua dimensão será a necessária e suficiente para manter a paz em todo o planeta. Porque esse, afirmou, é um dos seus desígnios: “quero ser um fazedor de paz”. Até porque, lembrou, “fui desfiado como nenhum outro quando tentaram tirar-me a liberdade e a vida – fui salvo por Deus para fazer a América grande outra vez”.
Além da aposta no Exército, Trump assegurou que a América vai manter a liderança na expansão extra-planetária, com “o regresso dos astronautas” – promessa que fez com que o dono da SpaceX e futuros membros da administração federal fizessem um gesto de contentamento para as câmaras de televisão.
"Muitas pessoas achavam que era impossível para mim um regresso político histórico. Estou diante de vós agora como prova de que nunca devem acreditar que algo é impossível de se fazer na América. O impossível é o que fazemos melhor”, afirmou, para certificar que “a prioridade é construir uma nação próspera e livre”, outra vez “grande e mais forte do que alguma vez foi, de novo respeitada por todos”. Numa toada claramente otimista – apesar de detectar “uma crise de confiança” transversal ao país – Trump afirmou que a anterior administração de Joe Biden “não cuidou das pessoas como devia”, mas que tudo isso vai mudar com o restauro “da fé, saúde, democracia e tranquilidade social”. “Não falharemos, o futuro é nosso, nada nos deterá”, concluiu.
Nada do que o novo presidente dos Estados Unidos disse na tomada de posse foi novidade: de facto – e os comentadores em tempo real disso deram conta – tudo o que Trump disse que fará a partir deste dia 20 de janeiro constou, sem exceção, daquilo que foi prometendo durante a campanha eleitoral. Desse ponto de vista, os que votaram a favor de Trump não têm como sentir-se defraudados. Os que votaram contra também não.