É o homem do momento em todos os lugares por onde passa: sobrevivente de um atentado que esteve a uns três centímetros de lhe roubar a vida, Donald Trump, candidato quase oficial dos republicanos à Casa Branca, obteve uma importante vitória legal esta segunda-feira, quando um juiz federal rejeitou um dos processos criminais contra si.
Um juiz norte-americano na Flórida, devidamente nomeado por Trump na altura em que era presidente, rejeitou o caso que acusava Trump de manter ilegalmente na sua posse documentos confidenciais depois de deixar a Casa Branca. A alegação não tem exatamente a ver com o caso – que na altura foi muito mediático e resultou em mais uma azeda troca de palavras com Joe Biden: o juiz decidiu que o promotor destacado do caso foi nomeado ilegalmente para seu cargo.
A notícia chegou no início da convenção republicana de 2024 em Milwaukee, onde Trump anunciou a escolha do vice-presidente e na quinta-feira deve aceitar formalmente a indicação do partido para desafiar o presidente democrata Joe Biden nas eleições de 5 de novembro. E é mais uma vitória do ex-presidente – por muito que a posse ilegal dos documentos venha no futuro a ser considerada ilegal.
Segundo a imprensa norte-americana, Trump terá decidido moderar o discurso que irá proferir para aceitar a nomeação e, em vez de avançar com uma barragem contra o adversário democrata – que vai enfatizar a necessidade de unidade nacional neste tempo que todos os norte-americanos parecem ser de profunda crise interna.
"Esta é uma altura de unir todo o país, até mesmo o mundo inteiro. O discurso será muito diferente, muito diferente do que seria há dois dias", disse Trump ao “Washington Examiner”. O ex-presidente disse ainda que, após a decisão do juiz esta segunda-feira de rejeitar o caso dos documentos, os seus outros processos pendentes também devem acabar. São eles um processo federal em Washington e um processo estadual na Geórgia – por alegada tentativa de reverter a sua derrota eleitoral de 2020. Mas a decisão do Supremo Tribunal de 1 de julho passado segundo a qual Trump goza de imunidade sobre muitas ações que tomou como presidente (mas não em todos os casos) pode ter acabado antecipadamente com os dois casos.
Ao contrário, Trump espera para setembro, num tribunal de Nova Iorque por uma sentença por tentar encobrir um pagamento em dinheiro à atriz Stormy Daniels nas semanas que antecederam a sua vitória eleitoral em 2016.
"Esta rejeição da acusação na Flórida deve ser apenas o primeiro passo, seguido rapidamente pela demissão de todos os que andam na caça às bruxas", disse Trump na rede social Truth Social.
O festivo ambiente de vitória nas hostes de Trump contrasta com a sisuda campanha de Joe Biden. Enquanto apela à contenção – Biden disse depois do atentado de que Trump foi alvo que "não há lugar na América para a violência, para qualquer violência. Ponto. Sem exceções” – o ainda presidente foi confrontado com o facto de mais de duas dezenas de destacados democratas lhe terem pedido para que desista e abra a porta a uma candidatura alternativa.
Seja como for, o apelo de Biden não parece ter sido ouvido. De facto, o discurso político não dá mostras de nenhuma contenção, com democratas e republicanos a tentarem provar que foram os adversários os responsáveis pelo ‘firts blood’. Poucas horas após o atentado, muitos dos seus apoiantes trataram de culpar os democratas de alimentarem a retórica de violência nos Estados Unidos. A mensagem é clara: o discurso democrata, que ‘atira’ Trump para o extremismo e a autocracia – até mesmo para o fascismo – foi a ‘mola’ que despoletou o próprio atentado.
Uma análise da Reuters de mais de 200 incidentes de violência com motivação política entre 2021 e 2023, apresenta, no entanto, um quadro bem diferente: a violência política fatal emanou mais frequentemente da direita que da esquerda. Se os ataques à propriedade privada são a ‘marca d’água’ dos grupos de esquerda, os ataques a pessoas - de espancamentos a assassinatos - foram perpetrados principalmente por suspeitos que agiam a serviço de crenças políticas e ideologias de extrema-direita.
Quase imediatamente após o ataque de sábado, sites de extrema-direita estavam repletos de afirmações de que a retórica de esquerda motivou o ataque a Trump. Muitos comentadores destas plataformas atribuíram o atentado à Casa Branca ou ctriaram teorias conspiratórias – entre elas a existência daquilo a que chamam o ‘Estado profundo’.
Os Proud Boys, o violento grupo extremista masculino que liderou a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, disseram que o grupo vai estar na convenção republicana em Milwaukee.