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Dia Mundial da Saúde Mental. Fitas que combatem o burnout nas empresas estão mais confortáveis

O Jornal Económico foi experimentar em primeira mão as novas bandas da startup Emotai, que mantém o seu objetivo: medir as ondas cerebrais e os ritmos cardíacos das pessoas para perceber o quão calmas ou stressadas estão. A empresa portuguesa de neurotecnologia está a produzir mais 1.500 para vender às organizações.

Imagine aquelas fitas de desporto para colocar na cabeça ou as que a Jane Fonda utilizava nos vídeos de ginástica nos anos 80. Agora pense que essas bandas são um pouco mais grossas e mais pesadas, têm umas luzes encarnadas como se fossem infravermelhos por dentro e medem-lhe as ondas cerebrais e os ritmos cardíacos para perceber como se está a sentir. É esta a solução tecnológica da startup portuguesa Emotai, que agora foi melhorada para dar mais conforto a quem a utiliza.

O Dia Mundial da Saúde Mental comemora-se esta terça-feira e, para marcar a data, o Jornal Económico (JE) foi o primeiro a testar as novas bandas da Emotai que recorrem à biométrica, como eletroencefalograma e eletrocardiograma, para monitorizar as emoções e o estado mental das pessoas. A cofundadora e CEO da Emotai, Carolina Amorim, avançou ao JE que há 120 bandas no mercado e estão mais 1.500 em produção na cidade de Aveiro.

 

 

Este é mais um exemplo de tecnologia 100% portuguesa ao serviço de saúde mental dos trabalhadores das empresas. Para funcionarem a 100%, é preciso estarem devidamente ajustadas e sem mechas de cabelo a perturbar. A partir daí, há um processo de calibração entre a fita (hardware) e o sistema no computador (software) e depois surge o primeiro desafio: um teste simples sobre o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal.

Entra no escritório e sente-se bem? Está a fazer o seu trabalho e o nervosismo é predominante ao longo das tarefas?

As questões da Emotai não são exatamente estas, portanto agora somos nós que o convidamos a refletir. Depois desse questionário, a plataforma digital – anónima - dá uma pontuação e conclui qual o nível de esgotamento (burnout), seguindo-se uma série de propostas de exercícios de respiração ou meditação. Sim, a tecnologia vai obrigá-lo a parar - e a ouvir passarinhos ou chuva consoante o estado de concentração em que se encontrar.

 

“Estamos na fronteira da deep tech, porque fazemos uma fusão de dados para obter the all picture e perceber como é que a pessoa se está a sentir. O que me fascinou sempre no cérebro é que ele é extremamente poderoso para tudo o resto que acontece no nosso corpo. E uma das coisas que aprendi aqui é que nós próprios conseguimos «enganar» o nosso cérebro e fazê-lo sentir-se bem se começamos a pensar de uma maneira mais positiva”, conta a CEO.

Formada em Engenharia Biomédica, Carolina Amorim diz que na universidade começou a perceber o “poder” que o cérebro tinha na prevenção de problemas de saúde mental, como depressões, e até neurológicos, entre os quais Alzheimer e Parkinson. “Há vários estudos que mostram que fazer alguns destes exercícios que fornecemos conseguem reduzir o risco de Alzheimer em 30%”, garante ao JE.

 

 

 

Angariação de financiamento arranca em outubro

 

Questionada sobre os planos da empresa, a cofundadora e CEO da Emotai referiu que ainda este mês de outubro irá começar a "apalpar terreno" para sondar o mercado com o intuito de levantar a próxima ronda de financiamento e no próximo ano duplicará a equipa para 14 pessoas. Atualmente, grande parte dos clientes são tecnológicas ou departamentos de desenvolvimento de software, que procuram promover o bem-estar dos programadores e têm orçamentos alocados ao efeito.

No início deste ano, a Emotai, com sede na Startup Lisboa, fez oficialmente um rebranding de uma tecnologia para jogadores de eSports para uma destinada a trabalhadores de empresas. “Antes da pandemia, estávamos a trabalhar com um grande instituto de desportos motorizados em Espanha para ajudarmos os atletas a prepararem-se antes da corrida. Quando chegou a Covid-19, não havia corridas, os jogadores não iam ao instituto, não faziam a avaliação e não estavam com o treinador”, lembra a empreendedora, que fez investigação na área da computação afetiva.

“Então, chegou a um momento em que tivemos de tomar uma decisão, até porque havia pessoas a pedir-nos para utilizar a solução para prevenir o burnout ou a ansiedade. Queixavam-se muito de que não conseguiam desligar do trabalho ao final do dia”, diz. Mesmo depois dos confinamentos, Carolina Amorim garante: “O burnout está a aumentar, o que provoca outros tipos de problemas, como stress, dificuldade em dormir…”.

Europa em alerta

A Comissão Europeia confirmou ontem que a Covid-19, a guerra na Ucrânia, a crise climática e outras pressões socioeconómicas agravaram os níveis de saúde mental na Europa, que já eram críticos. Antes da pandemia, uma em cada seis pessoas na União Europeia sofria de problemas de saúde mental e agora, segundo o novo Eurobarómetro, os recentes acontecimentos mundiais influenciaram “relativamente” (44%) ou “em grande medida” (18%) a saúde mental dos participantes no estudo.

A maioria dos inquiridos (60%) considera que os fatores mais importantes para gozar de uma boa saúde mental são as condições de vida. Segue-se a segurança financeira (53%), o contacto com a natureza e os espaços verdes (35%), os hábitos de sono (35%), a atividade física (34%) e o contacto social (33%). Por outro lado, em todos os Estados-membros, nomeadamente Portugal, grande maioria da amostra acha que a utilização das redes sociais pode ter um impacto negativo na qualidade psíquica dos jovens.