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Desemprego continua perto de mínimos em Portugal e zona euro e FMI avisa para impactos na inflação

Apesar de reconhecer o papel da dinâmica salarial na recuperação da economia após um período de elevada inflação, o FMI teme um desequilíbrio entre aumentos salariais e da produtividade, o que pode obrigar a uma postura monetária rígida durante mais tempo do que estimado.

A taxa de desemprego em Portugal manteve-se estável no terceiro trimestre em 6,1%, pouco acima do mínimo de 21 anos registado no segundo trimestre do ano passado e mostrando a vitalidade do mercado laboral nacional. Na zona euro, a leitura de setembro também não se distancia muito dos mínimos históricos da moeda única, levando o Fundo Monetário Internacional (FMI) a lembrar os possíveis efeitos de um mercado de trabalho tão rígido na inflação, temendo efeitos de segunda ordem e um ressurgimento da pressão nos preços.

O desemprego em mínimos tem ajudado a limitar os efeitos negativos da subida de preços e juros, mostrando também uma força acima do esperado dos mercados de trabalho nacional e europeu. Em Portugal, o mínimo de 21 anos registado no ano passado, de 5,7%, está pouco abaixo dos atuais 6,1%, um cenário não muito distante do vivido na zona euro: com 6,5% em setembro, a leitura fica apenas 0,1 pontos percentuais (p.p.) acima do mínimo histórico de 6,4% registado em agosto.

Ainda assim, as preocupações quanto aos efeitos desta rigidez laboral na inflação têm crescido. O Banco Central Europeu (BCE) tem repetido alertas sobre esta dinâmica, temendo um fenómeno dos preços mais prolongado e resistente aos juros do que se estimava no início do aperto monetário, e agora é o FMI a lançar avisos específicos ao continente europeu.

Dada a dinâmica salarial aquecida, o Outlook Regional Económico da instituição para a Europa prevê uma transmissão de 0,5 p.p. dos aumentos de remuneração para a inflação subjacente, ou seja, acima dos 0,25 p.p. registados na média histórica entre as economias mais avançadas do bloco euro. No caso da Europa Central, de Leste e Sudeste, onde o crescimento salarial será ainda mais expressivo, a transmissão pode mesmo chegar a 1 p.p., quando a média histórica é de 0,5 p.p..

Como tal, a política monetária rígida é uma necessidade, mas articulada com a política orçamental. Além dos juros mais elevados, é importante os governos nacionais trabalharem para aumentar a oferta de trabalho, seja através de políticas de formação profissional, melhor integração de migrantes ou "eliminando desincentivos ao emprego a tempo inteiro".

Reconhecendo o papel do crescimento salarial como “um impulso muito necessitado” no rendimento das famílias, o Fundo alerta que esta dinâmica pode prolongar a inflação elevada e, consequentemente, obrigar a uma política monetária mais restritiva. O alerta é mais forte para os países do leste europeu, onde as negociações salariais deverão conferir ganhos mais significativos, mas o envelhecimento é outro dos fatores determinantes nesta equação.

A lógica é que, por um lado, os trabalhadores usam a inflação passada como referência para a negociação dos seus aumentos, incorporando também as expectativas de inflação futura neste cálculo, embora com menor ponderação. Como tal, e com a inflação a recuar, há um desequilíbrio entre o passado recente e os próximos meses, o que pode levar a ganhos reais consideráveis nas remunerações.

Por outro lado, com uma demografia em queda, a taxa de participação no mercado laboral vai caindo, aprofundando o desequilíbrio entre a procura de trabalho pelas empresas e a oferta dos trabalhadores. Isso encarece ainda mais o trabalho, ou seja, confere ganhos salariais ainda mais altos. Em sentido contrário, a produtividade tem vindo a perder fôlego, acrescenta o FMI.

Como tal, “as pressões dos salários são improváveis de desaparecer no curto-prazo”, escreve o Fundo, apontando para a tendência de queda que já se verifica no número de horas trabalhadas como um indicador da menor oferta futura de trabalho.