Os efeitos cumulativos de uma política monetária mais restritiva não deixam margem para grandes perspetivas de crescimento global no próximo ano. Salvam-se os EUA, cujas previsões "foram revistas em alta para um consenso de 1,2%", refere a DBRS Morningstar.
"As perspetivas para 2024 permanecem sombrias e as previsões continuaram a deteriorar-se nos últimos meses. Os EUA são a principal exceção", destaca a agência de notação no mais recentes boletim de cenários macroeconómicos.
Destaca a DBRS Morningstar que há sinais de abrandamento da inflação de base e que, da parte dos bancos centrais, as taxas diretoras não deverão subir depois de terem atingido o seu máximo em várias das principais economias.
Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu, naquela que foi a última reunião de política monetária do ano, não mexer nas taxas de juro diretoras, mantendo-as nos 4,5%, bem como o Banco de Inglaterra (BoE), que manteve inalterada a taxa de juro nos 5,25%. Do outro lado do Atlântico, a Reserva Federal norte-americana (Fed) também decidiu manter as taxas de juro pela terceira reunião consecutiva (entre 5,25% e 5,5%).
A DBRS prevê que os bancos centrais da América do Norte e da Europa mantenham taxas de juro mais elevadas durante grande parte de 2024", esperando uma nova descida no segundo semestre de 2024.
"A subida das taxas de juro reais nas principais economias avançadas poderá também constituir um desafio para alguns mercados emergentes com fundamentos mais fracos. Os mercados emergentes com uma combinação de inflação elevada, com uma combinação de inflação elevada, posições externas fracas e moedas menos líquidas exigirão políticas mais restritivas, o que afectará ainda mais as perspectivas de crescimento a curto prazo. A maioria dos bancos centrais dos mercados emergentes já registou um pico de inflação e alguns já iniciaram os seus ciclos de flexibilização", destaca a agência de notação.
Ainda sobre os números deste ano, a DBRS sublinha que "as taxas de desemprego permanecem baixas e as recentes revisões das previsões têm sido heterogéneas".
A DBRS recorda que, apesar do anúncio de despedimentos ou redução de quadros por parte de muitas grandes empresas, o "crescimento do emprego continuou inabalável em vários sectores-chave da economia (por exemplo, cuidados de saúde, viagens) na maioria das das principais economias".
Nos caso dos EUA, explica a agência de notação, o baixo desemprego também reflete algum grau de de não participação na força de trabalho após a pandemia". Destaque para a migração, "que apoiou um crescimento mais rápido e aumentou o número de trabalhadores disponíveis".
"Os mercados de trabalho continuam apertados, mesmo que as perspectivas de contratação continuem a piorar. Especialmente no Canadá, o ritmo acelerado da migração apoiou um crescimento mais rápido e aumentou o número de trabalhadores disponíveis", explicou, associando, porém, esta aceleração ao aumento "das pressões no sentido da subida dos preços da habitação e dos serviços conexos".
Sobre o ano que agora termina, a DBRS destaca Portugal como uma das economias europeias, a par de Espanha e da Bélgica, em menor grau, que continuaram a registar taxas de crescimento próximas ou iguais às suas taxas de crescimento potencial estimadas. Itália, França e Reino Unido listam-se entre a maioria das principais economias europeias cujo crescimento foi mais fraco ou, no caso da Alemanha, de uma "recessão ligeira".
"As revisões das previsões para 2023 foram mistas, refletindo tanto surpresas positivas como negativas nos últimos meses do ano. Entre as principais economias, os EUA e o Japão registaram um desempenho superior ao longo do último ano", recorda a agência sediada em Toronto no mesmo boletim.
Sobre as instituições bancárias, "embora a maioria dos grandes bancos tenha demonstrado resiliência, podemos ainda assistir a uma deterioração da qualidade do crédito nas carteiras de empréstimos, que poderá afetar particularmente os bancos mais pequenos e menos diversificados com exposições significativas a imobiliário comercial ou outros sectores de alto risco. No entanto, os fortes balanços das famílias parecem ajudar a limitar a duração e a profundidade do abrandamento esperado", refere o boletim.
A DBRS refere, na mesma nota, que acrescentou aos cenários para o próximo ano as previsões para o seguinte, "altura que refletirá as expectativas de uma retoma da atividade, que parece assentar no pressuposto de que os principais bancos centrais começarão a abrandar a atividade em meados ou finais de 2024".
Sem deixar de abordar o contexto geopolítico atual, a DBRS alerta para o risco de implicações adicionais do atual conflito na Ucrânia e a guerra entre Israel e o Hamas nos preços dos produtos alimentares ou da energia.
"Embora os esforços ocidentais para reduzir a dependência do abastecimento energético russo tenham progredido consideravelmente, a Rússia continua a ser um importante produtor de petróleo e gás que pode ter um impacto nos mercados mundiais. Poderão ressurgir perturbações na produção e exportação de cereais. Outros riscos geopolíticos, nomeadamente a deterioração das relações dos EUA e da UE com a China, continuam também a ser uma fonte potencial de choques", indica a agência.