Sinais mistos vindos da economia alemã com o saldo da balança comercial a melhorar em março, mas sem correspondência do lado das encomendas industriais, ao contrário do que sugeriam os inquéritos privados de mercado.
A balança comercial alemã registou um saldo positivo de 22,3 mil milhões de euros, uma subida em relação aos 21,4 mil milhões registados em fevereiro e em linha com a projeção do mercado de 22,4 mil milhões. A leitura de março confirma assim que a redução registada em fevereiro não terá passado de um percalço numa tendência de recuperação que se vinha verificando nos cinco meses anteriores.
As exportações para a Rússia continuam a merecer destaque pela queda assinalável, recuando 14,8% em cadeia. Em sentido inverso, as vendas a outros Estados-membros da UE recuperaram da queda de fevereiro, avançando 0,5% e ajudando na subida de 0,9% nas exportações globais alemãs.
Ainda assim, o saldo verificado em março mantém-se abaixo do de janeiro, quando a balança comercial de bens alemã registou um excedente de 26,8 mil milhões de euros.
Estes dados reforçam a noção de que a componente externa voltou a ter um contributo positivo para o crescimento alemão, tal como os dados das contas nacionais no primeiro trimestre indicaram. Recorde-se que a economia alemã saiu da recessão técnica ao registar um crescimento de 0,2% nos primeiros três meses de 2024.
No entanto, as encomendas às fábricas do motor industrial europeu não estão a evoluir na mesma direção. Em março, este indicador caiu 0,4% em cadeia, isto depois de uma queda de 0,8% no mês anterior, agravando as preocupações quanto ao sector secundário do país.
Em particular, os bens de capital voltaram a sofrer, com as encomendas a cair 0,4% apesar de um avanço no sector automóvel, um dos principais da economia germânica. Por outro lado, detalha a Pantheon Macro, foram as encomendas domésticas as responsáveis pela queda no indicador, visto que as encomendas para exportação até avançaram 2%.
Perante este cenário, o banco neerlandês ING fala no regresso do modelo de crescimento baseado em exportações, mas “por um curto período”, dada a fraqueza no sector industrial. Avisando contra um excesso de otimismo após estes números, os analistas do banco consideram uma aposta neste modelo “altamente arriscada”, em parte devido às alterações estruturais nas exportações alemãs.
Por outro lado, a concorrência aguerrida (sobretudo vinda da China) e as tensões geopolíticas globais acrescem a este risco, levando o banco a projetar que o impulso dado ao crescimento seja pouco duradouro.