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Coreia do Sul vai a eleições num contexto de crise económica

Os conservadores querem manter-se no poder, mas o partido progressista do atual presidente quer vencer. Banhada pelo 'perigoso' Mar da China, a península está a passar por dificuldades que podem influenciar o voto.

A Coreia do Sul tem eleições gerais marcadas para amanhã, 10 de abril e os 300 lugares da Assembleia Nacional – atualmente controlados pelo Partido Democrático da Coreia (DPK) – tem expectativas de continuar a ser a força política a merecer a preferência da maioria. Mas não é por isso que o Partido do Poder Popular (PPP) deixa de ter pretensões – até porque é essa, precisamente, a formação política onde tem origem o atual presidente da república, Yoon Suk-yeol, ex-promotor público e advogado que venceu as eleições em 2022.

Para os analistas, e nomeadamente para a Carnegie Endowment for International Peace – o Fundo Carnegie para a Paz Internacional, um think-tank de política externa fundado em 1910 pelo magnata e filantropo Andrew Carnegie – muita coisa está a mudar no país. “Destacam-se nesta votação os novos padrões em termos de atitudes dos eleitores e preferências políticas, de acordo com sondagens recentes. Tradicionalmente, a política sul-coreana tem seguido linhas regionais, cortando aproximadamente a parte sul da península em oeste e leste - com o leste inclinado para o conservadorismo e o oeste para uma postura mais progressista”.

Os dados mais atuais sugerem que os conservadores mantêm uma forte presença sobre a população mais velha, mas com os eleitores de tendência progressista a estarem mais distribuídos em todas as faixas etárias. A possibilidade de uma mudança é, por isso, real – e se não for para já, pode indicar uma tendência que se manifestará vencedora nos próximos anos.

A situação interna não é a melhor para o partido no poder. Num país iminentemente virado para o consumo – tanto interno como no que tem a ver com as suas exportações – os tempos de inflação alta (num quadro onde a pandemia ainda está presente na memória) e de taxas de juro a dispararem não foram nenhum benefício para a Coreia do Sul.

Em paralelo, as vicissitudes da geopolítica internacional deixaram o país numa situação algo desconfortável – a proximidade da China não é por estes dias a melhor das vizinhanças. Os mares que envolvem a península são neste momento uma zona de conflito em potencia (Taiwan está mesmo ali abaixo), que tem chamado a atenção tanto para as potências locais, China e Japão, como para os que ali têm interesses (reais ou a defender), como os Estados Unidos e a Austrália.

Por outro lado, o governo tem nas mãos dificuldades na área da saúde – uma greve de médicos e escassez de acesso a cuidados numa sociedade em rápido envelhecimento. Para amenizar, e segundo fontes dos jornais, a primeira-dama Kim Keon-hee, mulher de Yoon Suk-yeol, envolveu-se numa série de escândalos, incluindo alegações de envolvimento em manipulação de ações e falsificação do currículo para pedidos de emprego.

Para a Carnegie, “a Coreia do Sul tem um sistema partidário fraco, dominado por políticos fortes e carismáticos. Os partidos dissolvem-se após as candidaturas presidenciais fracassadas ou administrações cessantes, apenas para serem reformados e renomeados sob a liderança de uma figura conhecida preparada para a próxima eleição presidencial”.

Em 2020, a Coreia adotou um novo sistema de representação proporcional mista, que visa melhorar a representação de partidos menores. Mas a Assembleia Nacional continua – e provavelmente continuará – a ser dominada pelos dois principais partidos.

O número de eleitores indecisos vem diminuindo desde dezembro, mas os números das sondagens estão tão próximos que não é possível prever o resultado. Ambos os principais partidos estão situados num intervalo entre os 30% e os 40%.

De qualquer modo, o PPP espera assumir o controlo da assembleia de maioria liberal, o que alimentou uma onda de apoio a partidos menores por parte do DPK que poderia perturbar o equilíbrio de poder e tornar o país mais difícil de governar. Se o partido de Yoon não conseguir conquistar a assembleia e assumir o seu controlo, o presidente corre o risco de ver os três anos restantes do seu mandato (único) transformados numa batalha política que tem tudo para impactar de forma negativa na economia. Refira-se que o PIB da Coreia do Sul cresceu 1,4% no final de 2023, muito longe dos crescimentos espetaculares a que o mundo assistia ainda há bem pouco tempo.