O período pandémico trouxe consigo uma nova forma de olhar para a habitação e a construção, levando em conta - entre outros temas - a sustentabilidade e as alterações climáticas. Este foi um dos temas discutidos durante a webconference realizada na passada terça-feira, 23 de novembro, pelo Jornal Económico, em parceria com a Schneider Electric, dedicada aos desafios da sustentabilidade na construção e no imobiliário.
“A sociedade não tem a mais pequena ideia do que é a emergência climática”, referiu Gilberto Jordan, CEO do André Jordan Group, alertando que a “necessidade de mudança é muito maior do que aquilo que nós pensamos”, deixando também um reparo ao Governo. “Os decisores políticos pensam que quantidades brutais de dinheiro fazem a diferença, mas não acredito”, salientou.
Uma ideia defendida também por Nuno Garcia, diretor da Gesconsult. “Primeiro tem de haver uma formação dos governos e diretrizes claras, como foi agora a conferência do clima, mas as próprias entidades muitas vezes não se entendem. Por exemplo, estamos a reabilitar um edifício histórico no centro de Lisboa e onde queremos por painéis solares, mas depois vem a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e diz que aí não pode haver painéis solares”, lamentou-se.
Por sua vez, Victor Moure, country manager da Schneider Electric Portugal, chamou a atenção para os consumos energéticos no que toca à sustentabilidade dos edifícios. “Não podemos melhorar aquilo que não podemos medir. Se não somos capazes de fazer uma boa identificação de quais são os consumos energéticos, as necessidades da habitação, mas também da pessoa que vive nesse espaço, é muito difícil fazer melhorias”, afirmou.
Já Fernando Vaz Costa, diretor-geral da Nexity Portugal, acredita que o processo da sustentabilidade na habitação só irá ganhar maior dimensão “quando houver muito mais oferta”, dado que “os projetos vão ter que se adaptar para haver maior concorrência e decisão do público em distinguir qual é o mais sustentável”.
Já Manuel Pinheiro, professor do Instituto Superior Técnico e responsável pelo sistema LIDERA, olha para a sustentabilidade do ponto de vista dos consumidores, onde “já temos alguns esclarecidos que apesar de não saberem o que querem, sabem o que não querem. Não querem ter casas desconfortáveis e nós temos índices de pobreza muito críticos”.
Outro dos temas analisados foi o papel que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)poderá desempenhar no futuro do sector imobiliário, bem como as perspetivas para 2022. “Os indicadores dizem que pode ser um bom ano, mas temos de ser resilientes porque não sabemos o que vai acontecer. Em termos económicos é preciso fazer uma boa gestão do PRR”, salientou Victor Moure, country manager da Schneider Eletric Portugal.
Por sua vez, Nuno Garcia, diretor da Gesconsult acredita que o Governo deve dar “sinais mais positivos” ao mercado da construção, numa altura em que este está pressionado pela falta de mão-de-obra. “Vemos os preços muito altos, com matérias-primas cada vez mais cara e escassez de mão-de-obra. Falta-nos pedreiros e carpinteiros, mas depois também nos faltam engenheiros e uma grande falta de formação. Hoje nas universidades vemos os cursos de engenharia civil quase vazios e vamos sofrer com isso”, afirmou.
Sobre a construção em termos concretos, o responsável acredita que 2022 “será mais do mesmo”, defendendo que o mercado só deverá começar a sentir algumas alterações no ciclo de construção dos próximos cinco anos. “No terreno ainda sentimos algumas resistências, mas começamos a ter muitos inputs de quem vem de fora e isso também nos puxa para sermos melhores e procurarmos novas soluções”, referiu.
A evolução do mercado esteve também em cima da mesa nesta conferência com Gilberto Jordan a destacar que “há uma clara preferência por um ambiente em redor da natureza e da pouca densidade urbana. A suburbanização que em Portugal é relativamente alta aumentou muito. No Belas Clube de Campo quase não sentimos a pandemia, raramente se usa máscara e o distanciamento social faz-se naturalmente”.
Por sua vez, Fernando Vaz Costa, alertou de mais oferta para que o mercado e os preços sejam mais sustentáveis e até para distinguir os melhores projetos. “Precisamos que as câmaras e o Estado nos ajudem a ter mais oferta e não estejamos só a falar do mercado de elite. Hoje quase toda a produção de habitação nova é para o mercado alto ou médio-alto”, concluiu.