A mesa sempre foi um excelente ponto de encontro e de partida para conversas sobre comida. Ou guloseimas como o pastel de nata, que uns gostam mais crocante e outros menos cozido, outros devoram com colher ou ainda, blasfémia, lambem o dedo depois de o mergulhar no creme, na expetativa de uma memória doce e memorável.
O desafio arrancou com a fase de inscrições, direcionada a estabelecimentos com fabrico próprio na Área Metropolitana de Lisboa. Prosseguiu com as provas de apuramento, que decorreram a 5, 7 e 8 de setembro, na Manja Marvila, em Lisboa. A grande final, aberta ao público, contará com a presença dos 12 estabelecimentos finalistas.
O presidente do júri e gastrónomo Virgílio Nogueiro Gomes revelou durante a prova que há certas características – “Aspeto”, “Toque da massa”, “Sabor e consistência da massa”, “Recheio” e “Sabor global” – que são pontuadas durante as provas cegas. Ou seja, nenhum dos elementos que compõe o júri sabe quais são os estabelecimentos em prova, para que a sua avaliação seja completamente isenta.
Realçou ainda que “os três dias de provas correram muito bem! Este ano, foi uma boa surpresa encontrar tanta qualidade na massa folhada dos pastéis concorrentes. Genericamente, podemos assumir que os pastéis de nata estão de ótima saúde e que estão aqui para o futuro”.
Os restantes elementos do júri, Wilson Honrado (Rádio Comercial), Catarina Amado (Edições do Gosto), Andreia Moutinho (Pasteleira), Domingos Soares Fraco (Enólogo), António Marques Santos (Academia Portuguesa de Gastronomia), Teresa Castro (Pasteleira), Isabel Zibaia Rafael (Autora), David Jesus (Cozinheiro e Padeiro) e Maria Brito (Gastrónoma), elegeram 12 finalistas dentre os 40 estabelecimentos participantes. A saber:
Altis Belém Hotel & Spa, Lisboa
Bread & Friends, Epic Sana Marquês, Lisboa
Café Ponte da Várzea, Sintra
Castro - Atelier de Pastéis de Nata, Lisboa
Confeitaria Glória, Amadora
Padaria da Né, Damaia
Pastelaria 7 Desejos, Ericeira
Pastelaria Açúcar Café, Massamá
Pastelaria Aloma, Lisboa *
Pastelaria Casa do Padeiro, Pontinha *
Pastelaria O Pãozinho das Marias, Ericeira
Pastelaria Patyanne, Castanheira do Ribatejo *
De notar que os estabelecimentos assinalados com * tiveram entrada direta por se terem qualificado nos três primeiros lugares em 2022.
Os bilhetes para assistir à prova final estão disponíveis aqui e dão acesso ao recinto do Congresso dos Cozinheiros, o maior evento para profissionais de cozinha em Portugal, que terá lugar a 24 e 25 de setembro, no Nirvana Studios, em Oeiras, cujo programa prevê apresentações, conversas e degustações com chefes de renome nacional e internacional. No segundo dia do evento será anunciado o vencedor d’O Melhor Pastel de Nata 2023. Prepare-se para a contagem decrescente e saiba um pouco mais sobre esta iguaria.
Os pastéis de nata estão de ótima saúde e recomendam-se desde o século XVI
Há uns anos, o ministro da Economia Álvaro Santos Pereira, questionava o porquê de não se internacionalizar o pastel de nata. Se uns ficaram chocados, outros já o haviam feito e muitos mais apostaram nessa via. Aquela que será, muito provavelmente, a iguaria mais famosa da Doçaria Portuguesa, que tira do “sério” quer portugueses, quer estrangeiros, tem deixado um lastro de sucesso por quer que passe.
Do Brasil ao Reino Unido, EUA, Tailândia e Filipinas, passando por Macau, onde há apreciadores indefetíveis deste inigualável pastel, poucos serão aqueles que questionam o seu “sugar appeal”. O mesmo não se pode dizer das suas origens, que ainda hoje estão envoltas de mistério, ou pelo menos, não são consensuais, apesar de existirem várias referências de pasteis, com receitas semelhantes ao Pastel de Nata.
Em todo o caso, arriscamos dizer que aquela que, provavelmente, terá dado origem às tão afamadas Natas, terá sido uma receita de pasteis de leite, da Infanta Dª Maria, datada do século XVI, com um recheio idêntico ao das natas que hoje conhecemos, embora a massa envolvente fosse mais areada. Já no século XVII, há registo de uma receita do cozinheiro do Rei Filipe II de Espanha, I de Portugal, com o mesmo recheio e massa folhada.
Com mais ou menos variações, contendo natas e até mesmo mel, os pasteis de leite seguiram o seu caminho, até se tornarem um misto de história e lenda quando, já no século XIX, mais concretamente em 1837, deram origem aos famosos Pasteis de Belém®, cuja receita será da autoria dos frades dos Mosteiro dos Jerónimos. Após o encerramento dos conventos e mosteiros, no pós-Revolução Liberal, a dita receita terá ido parar às mãos de um comerciante que os começou a vender, precisamente, na zona de Belém. Na mesma altura, consta que a Abadessa do Convento de Odivelas, Dª Bernardina da Conceição, teria anotada, no seu caderno, o que é hoje considerada a primeira receita dos famosos Pasteis de Nata.
Consta que uma grave crise financeira que afetou Portugal nos anos 30 do século XIX levou os clérigos do Mosteiro de Belém a vender Pastéis de Nata para suprir algumas necessidades da população monacal. A venda da receita original a um empresário é outra suposição, embora haja registos de que o mesmo terá dado início ao fabrico e comercialização desses pastéis nas imediações do Mosteiro, que perduram até hoje sob o nome “Pastéis de Belém”.
Desde então, as variações face à receita original foram surgindo um pouco por todo o país. Mais criativos na massa, mais ou menos estaladiços, cremosos no recheio, com ou sem canela, uns mais “bronzeados” que outros, certo é que este ex-líbris da doçaria portuguesa continua a deliciar até os menos gulosos.
Não admira, por isso, que um dia – no já ‘longínquo’ ano de 2009 – tenha surgido a ideia de lançar um concurso para eleger o Melhor Pastel de Nata. Aconteceu em 2009 e partiu da ideia do jornalista Vicente Themudo de Castro, sendo organizado pelas Edições do Gosto e por Virgílio Gomes. A Câmara Municipal de Oeiras é parceira desta iniciativa, que tem como patrocinadores a Delta Cafés e a Derovo Group. Conta ainda com o apoio da Zomato Portugal.