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Com o Médio Oriente em fogo, Irão e Paquistão em rota de colisão

Teerão entrou em território paquistanês para perseguir um grupo radical sunita responsável por ataques contra interesses iranianos. O Paquistão afirma que responderá como achar conveniente.

Um inesperado ataque a um suposto grupo terrorista perpetrado pelo Irão em território paquistanês pode acender mais uma guerra no Médio Oriente (ou nas suas fronteiras), numa altura em que a região está a ferro e fogo. Fontes dos serviços secretos do Paquistão disseram, citados por alguma comunicação social (entre elas a Al Jazeera)  que o país tem "todas as opções sobre a mesa" após o ataque aéreo "não provocado" do Irão contra supostos alvos terroristas no sudoeste do país.

Islamabad disse que o Irão violou o seu espaço aéreo e realizou um ataque, matando duas crianças e ferindo outras três. Em resposta, o governo do Paquistão chamou o seu embaixador no Irão e suspendeu todas as relações diplomáticas de alto nível com Teerão. O enviado iraniano ao Paquistão, que atualmente está de visita ao Irão, também foi convidado a não regressar.

A imprensa ligada ao regime de Teerão relata que a Guarda Revolucionária (braço armado do regime) realizou ataques contra o grupo Jaish al-Adl na cidade fronteiriça de Panjgur. O Paquistão diz-se ciente da situação regional e afirmou que o Irão pretende permanecer na agenda num momento em que não é capaz de dar uma contribuição significativa para acabar com a crise em Gaza. “O Paquistão reserva-se o direito de responder no momento, no local e da maneira à sua escolha", disseram fontes citadas pela imprensa da Turquia.

Classificando a ação iraniana como "não consistente com as relações próximas" entre as duas nações vizinhas, as autoridades paquistanesas consideração o episódio como "uma violação deliberada, não provocada e grosseira da soberania do Paquistão". "Isso não vai passar despercebido ou sem resposta”.

Do seu lado, o ministro das Relações Exteriores do Irão defendeu os ataques de mísseis e drones do seu país contra supostos extremistas, dizendo que eram necessários para a segurança nacional iraniana. “Respeitamos a soberania e a integridade territorial do Paquistão", disse Hossein Amirabdollahian no Fórum Económico Mundial em Davos, onde se encontra. "Mas não permitiremos que se brinque com a segurança nacional do nosso país”.

"Nenhum cidadão do nossos vizinhos, amigos e irmãos do Paquistão foi alvo de drones ou de mísseis", continuou o ministro. O ataque visava apenas "terroristas" que buscavam refúgio na área de fronteira.

Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros paquistanês descreveu o ataque como ilegal e insistiu na "violação flagrante da soberania do Paquistão".

O grupo Jaish al-Adl (que quer dizer Exército da Justiça), é um agrupamento armado muçulmano sunita (o Irão é xiita, recorde-se) que já lançou ataques contra forças de segurança iranianas na área de fronteira com o Paquistão. A organização opera principalmente no sudeste do Irão, onde há uma grande concentração de sunitas, sendo responsável por vários ataques contra civis e militares iranianos. O grupo afirma ser uma organização separatista que luta pela independência da província onde opera (Sistão-Baluchistão) e pelos direitos do povo balúchi.

Do seu lado, o Irão acredita que o grupo está ligado à al-Qaeda e mantém laços com Ansar Al-Furqan, outro grupo armado sunita balúchi iraniano que também opera no Irão.

O grupo foi fundado em 2012 por membros do Jundallah, um grupo militante extremista sunita que quase desapareceu após a captura e execução do seu líder, Abdolmalek Rigi, pelo Irão (em 2010). A narrativa do regime de Teerão é que estes grupos são apoiados e financiados pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos.

Para os analistas, o incidente pode com alguma facilidade colocar em causa o muito recente entendimento diplomático entre o Irão e a Arábia Saudita, o que só iria colocar mais pressão sobre o Médio Oriente.

De qualquer modo o Irão parece genuinamente interessado em que o incidente não venha estragar o até agora bom relacionamento diplomático com o Paquistão. Em Davos, e segundo os jornais iranianos, o ministro Hossein Amirabdollahian descreveu as relações entre os dois países como profundas e históricas, destacando a disposição de Teerão de expandir os seus laços com Islamabad o máximo possível.

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano fez estas declarações depois de se ter encontrado com o primeiro-ministro interino do Paquistão, Anwaar ul Haq Kakar, à margem do Fórum Económico Mundial. Durante a reunião, o ministro iraniano expressou satisfação com os crescentes laços bilaterais.

Pelo seu lado, Kakar disse o quão importante são as relações Teerão-Islamabad e expressou o desejo do seu país de fortalecer seus laços com o Irão. E enfatizou que as duas repúblicas islâmicas enfrentam desafios comuns, como o terrorismo, que só esforços conjuntos podem ultrapassar.