A produção industrial chinesa, um dos indicadores mais relevantes da segunda maior economia mundial, viu o seu crescimento abrandar em maio, enquanto o sector imobiliário, um dos focos de preocupação para Pequim, voltou a deteriorar-se apesar das medidas de estímulo anunciadas pelo governo central há algumas semanas. O ponto positivo foi o retalho, que superou as expectativas do mercado, e a componente externa, embora insuficientes para dar otimismo para a segunda metade do ano.
Segunda-feira foi um dia repleto de dados macroeconómicos chineses, com destaque para a produção industrial, que voltou a abrandar em termos homólogos em relação ao mês anterior. O avanço de 5,6% em maio fica abaixo da projeção de 6% e dos 6,7% registados em abril, marcando nova leitura fraca e desapontante para uma economia que tem revelado algumas fragilidades nos últimos semestres.
Em cadeia, a produção industrial cresceu 0,3%, o segundo valor mais baixo desde agosto do ano passado.
Ainda assim, a componente externa tem ajudado a estimular o sector secundário chinês, sendo mesmo dos aspetos mais positivos da primeira metade do ano para Pequim. As vendas ao exterior dispararam 7,6% em termos homólogos em maio, bastante acima da projeção de 6% e do avanço de 1,5% do mês passado, ajudando a componente industrial.
Na mesma linha, o investimento no sector também registou fortes ganhos, avançando 17,5% em comparação com igual período do ano passado, “em parte, devido à procura externa”, consideram os analistas da Gavekal, dada a “política de incentivar os produtores a melhorarem os seus equipamentos”.
No entanto, os dados positivos do lado do investimento não se estendem ao sector imobiliário. Os preços das casas novas caíram 0,7% em cadeia, o pior resultado desde outubro de 2014, enquanto a queda homóloga de 3,9% foi a pior desde junho de 2015; já o mercado secundário caiu 1% em cadeia, sendo que nenhuma das 70 cidades consideradas registou subidas nos preços das casas já existentes (Xangai e Taiyuan foram as únicas com aumentos nos preços das casas novas).
Olhando para o número de transações, o indicador até cresceu em termos homólogos pela primeira vez no último ano, subindo 3,4% depois da queda de 44,9% no mês anterior, mas a variação desde o início do ano mostra uma diminuição de 27,9%, detalha o banco ING.
O aspeto mais positivo dos dados conhecidos esta segunda-feira foi o retalho, embora beneficiando de efeitos base e com uma prestação assimétrica em várias categorias. Os cosméticos foram dos produtos que mais subiram, tal como as categorias alimentares, de lazer e ligadas ao mobiliário, um dos ramos visados pela política de estímulos decretada por Pequim há cerca de um mês; em sentido inverso, veículos automóveis e joalharia tiveram das piores prestações.
Aumenta pressão para cortes de juros
Perante os dados fracos e os sinais de uma recuperação em abrandamento, o banco central chinês encontra-se mais pressionado a assumir uma política mais favorável ao crescimento, com cada vez mais vozes a defenderem um corte de taxas. Essa não foi, contudo, a estratégia escolhida esta segunda-feira, quando os decisores monetários do país optaram por deixar tudo novamente na mesma.
A decisão era já largamente esperada pelos mercados, que antecipavam uma reunião sem alterações no Banco Popular da China (BPC). Os juros diretores permaneceram assim em 2,5%.
A pressão para mexidas irá agora aumentar, projeta o banco ING, apontando aos dados fracos conhecidos esta segunda-feira em junção com o início dos cortes na zona euro e Canadá.
“É provável que o BPC tenha evitado cortes de juros até agora por consideração à prioridade principal da liderança de topo, a estabilidade cambial a um nível razoável e equilibrado”, lê-se na nota do departamento de análise económica e financeira do banco neerlandês. “Contudo, os desenvolvimentos económicos dão força a cortes de taxas e podem levar o BPC a cortar mesmo que a Fed não o faça.”