O nível de endividamento das famílias superou os 164 mil milhões de euros em maio, renovando máximos desde dezembro de 2011, devido a um crescimento homólogo recorde de 6,1%, o valor mais elevado desde dezembro de 2008, segundo dados do Banco de Portugal. Desde dezembro de 2023, a taxa de crescimento homóloga do endividamento dos particulares tem registado uma tendência regular de subida em relação ao mês anterior.
No que diz respeito aos particulares, o aumento da dívida deveu-se principalmente ao crédito hipotecário, mas o crédito ao consumo também tem acelerado. A subida do crédito pessoal e dos cartões de crédito está a pressionar milhares de famílias e empresas.
Na primeira entrevista da empresa, cuja atividade consiste na renegociação de créditos com vista a ajudar a recuperar o controlo das suas finanças, Carlos Alvarez, Diretor da GoBravo em Portugal e responsável pelas operações nacionais desta empresa internacional especializada na renegociação de dívidas e reabilitação financeira de famílias em situação de sobre-endividamento, defende que "o atual ritmo de crescimento do endividamento das famílias pode ser considerado preocupante, especialmente quando analisamos o contexto e a composição dessa dívida".
As empresas como a GoBravo atuam na linha da frente, tentando ajudar os clientes a reduzir até 50% das suas dívidas e a recuperar o controlo das suas finanças, graças a um processo de negociação com os credores, à identificação dos erros financeiros mais comuns que os clientes cometem e à oferta de um plano estruturado decisivo para recuperar a estabilidade económica.
Para além da renegociação, a GoBravo aposta fortemente na educação financeira através da Bravo Academy, um curso gratuito de cinco módulos que capacita os clientes para gerir melhor o seu dinheiro e evitar recaídas no futuro.
Carlos Alvarez diz ainda, na entrevista, que a empresa quer consolidar as suas operações no Brasil, em Itália e em Portugal — três mercados em pleno crescimento.
A subida do crédito pessoal e dos cartões de crédito está a pressionar milhares de famílias e empresas. O endividamento das famílias está a seguir um caminho perigoso?
Sim, o atual ritmo de crescimento do endividamento das famílias pode ser considerado preocupante, especialmente quando analisamos o contexto e a composição dessa dívida. Embora o crédito hipotecário continue a ser o principal motor do aumento do endividamento — o que por si só pode ser visto como um reflexo da dinâmica do mercado imobiliário — o crescimento acentuado do crédito ao consumo e do crédito associado a cartões bancários e descobertos autorizados são sinais de alerta.
Estes tipos de crédito estão, geralmente, associados a condições mais onerosas para os consumidores, com taxas de juro mais elevadas e prazos de pagamento mais curtos. O fato de estarmos a assistir a um crescimento tão expressivo nessas modalidades pode indicar que muitas famílias estão a recorrer a crédito para fazer face a despesas correntes, o que não é sustentável a médio prazo.
Relativamente à dívida global dos lares, cujo valor é o mais alto dos últimos 13 anos, podemos concluir que existe uma sobrecarga financeira que, em cenários de subida de taxas de juro ou de deterioração das condições económicas, pode transformar-se numa situação de risco real para muitas famílias. Por isso, sim, é fundamental acompanhar esta evolução com atenção e criar mecanismos de prevenção e apoio para evitar que este caminho leve a um ciclo de incumprimento e exclusão financeira.
O que faz a Bravo e que papel pode desempenhar neste contexto?
A Bravo é uma reparadora de crédito. Ou seja, ajudamos os nossos clientes a fazer uma poupança mensal, com vista à liquidação das suas dívidas, através de negociações com as entidades credoras. Os nossos clientes têm, em média, entre 4 a 5 dívidas, sendo que alguns ultrapassam as 10.
Quando o endividamento passa a ser um problema, quer por falta de literacia financeira, quer por incapacidade de pagamento dos créditos, começa a surgir a necessidade de um apoio que nós acreditamos conseguir prestar. O nosso principal objetivo é resolver problemas de sobre-endividamento das pessoas.
Qual é a sua solução para ajudar os particulares com um elevado nível de endividamento?
Ajudamos os nossos clientes a criarem a sua própria poupança e damos-lhes apoio através de negociações com as suas entidades credoras, com vista à liquidação das suas dívidas ou melhorias nas condições prestacionais.
O aumento do crédito pessoal e dos cartões de crédito está a pressionar milhares de famílias e empresas, e a Bravo afirma que ajuda os clientes a reduzir até 50% das suas dívidas e a recuperar o controlo das suas finanças. Pode explicar isso?
Os descontos são oferecidos pelas próprias entidades credoras. Cada banco/entidade financeira tem as suas condições específicas. Olhemos para um exemplo: se uma pessoa contrai um crédito de 10.000 euros e deixa de conseguir pagá-lo, entra logicamente em incumprimento. A entidade credora inicia um processo de cobrança extremamente agressivo, com o objetivo de reaver o montante em dívida. A dado momento, a entidade vai oferecer um desconto caso o cliente queira liquidar a sua dívida. No entanto, se for oferecido um desconto de 50% sobre uma dívida de 10.000 euros, o cliente teria que pagar 5.000 euros. Ora, dificilmente esta pessoa irá ter a poupança necessária para fazer este pagamento. O nosso objetivo, com recurso a dados históricos e previsões, é permitir que esta pessoa consiga poupar os 5.000 euros para liquidar a sua dívida.
Além da renegociação, a Bravo aposta fortemente na educação financeira por meio da Bravo Academy, um curso gratuito de cinco módulos que capacita os clientes a gerir melhor o seu dinheiro e evitar recaídas no futuro. Vocês têm muitos casos de sucesso?
Sim, temos registado muitos casos de sucesso desde a implementação da Bravo Academy. A plataforma oferece gratuitamente um curso composto por cinco módulos, projetado para fornecer aos nossos clientes conhecimentos sólidos sobre gestão financeira, permitindo-lhes gerir melhor as suas finanças pessoais e evitar futuras situações de endividamento.
O feedback dos participantes tem sido muito positivo. Muitos dos nossos clientes destacam melhorias concretas na sua situação financeira após completarem o curso, sentindo-se mais seguros e confiantes nas suas decisões financeiras. Este impacto traduz-se em resultados sustentáveis a longo prazo.
Além disso, fazemos um acompanhamento contínuo dos resultados obtidos pelos participantes, o que nos permite verificar o impacto real e duradouro da nossa iniciativa. Observamos frequentemente casos em que clientes, anteriormente em situação crítica, conseguem estabilizar as suas finanças e melhorar significativamente a qualidade das suas vidas. Estamos convictos de que a educação financeira é fundamental para promover uma sociedade mais informada e financeiramente saudável.
Qual é o perfil do endividado em Portugal e como está a evoluir?
O perfil do consumidor endividado em Portugal está cada vez mais associado a adultos entre os 35 e os 55 anos — uma faixa etária que representa uma parte significativa dos clientes que procuram apoio para reorganizar os seus compromissos financeiros.
Estes consumidores são, na sua maioria, trabalhadores por conta de outrem, com um rendimento médio mensal de 1.009,56 euros, frequentemente solteiros e com um dependente a cargo. Muitos assumiram créditos à habitação de valor elevado, procurando alcançar o sonho da casa própria, o que compromete uma parte significativa do seu rendimento disponível. Paralelamente, o recurso ao crédito ao consumo tem aumentado, sendo uma solução comum para fazer face a despesas imediatas, mas que, devido às taxas de juro mais elevadas, agrava a pressão financeira a médio prazo.
Como consequência, o endividamento tem aumentado em termos de montante total, com mais pessoas a acumularem vários créditos em simultâneo. Apesar de a taxa de incumprimento se manter, para já, controlada, as famílias com rendimentos entre um a dois salários mínimos — que representam cerca de 40% a 50% dos casos de sobre-endividamento — são particularmente vulneráveis. A persistência da crise habitacional e os possíveis aumentos das taxas de juro e da inflação poderão agravar ainda mais esta realidade.
Perante este contexto, torna-se essencial oferecer soluções que permitam às famílias renegociar as suas dívidas de forma responsável e sustentável, protegendo a sua estabilidade financeira e qualidade de vida.
A dificuldade em poupar e os baixos salários não são a explicação para esta situação de endividamento excessivo?
Sem dúvida. Quando os rendimentos disponíveis são insuficientes para cobrir as despesas básicas — como habitação, alimentação, energia ou saúde — muitas famílias veem-se forçadas a recorrer ao crédito para manter o seu nível de vida. Esta situação torna-se ainda mais crítica num contexto de inflação elevada, onde o poder de compra é progressivamente reduzido.
Por outro lado, a dificuldade em constituir poupança impede a criação de uma “almofada financeira” que poderia ser usada em momentos de emergência ou para enfrentar despesas imprevistas. Sem essa margem de segurança, o recurso ao crédito torna-se a única alternativa viável — o que, inevitavelmente, aumenta o risco de sobre-endividamento.
Além disso, os baixos salários fazem com que uma maior proporção do rendimento vá para o pagamento de prestações, o que agrava ainda mais a vulnerabilidade financeira das famílias. Portanto, para combater o excesso de endividamento de forma sustentável, é essencial atuar sobre estes fatores de base: melhorar os rendimentos, incentivar políticas de poupança e promover uma educação financeira mais sólida.
Quais são os planos de expansão e inovação da Bravo até 2025?
Na Bravo, acreditamos firmemente que a inovação e a tecnologia devem estar ao serviço das pessoas. Todos os dias trabalhamos com o propósito de ajudar quem precisa de melhorar a sua situação financeira, acompanhando cada pessoa no início de um novo capítulo da sua vida.
Com vista a 2025, definimos um objetivo claro: consolidar as nossas operações no Brasil, em Itália e em Portugal — três mercados em pleno crescimento. Queremos atingir o break-even operativo nestes países, demonstrando que o nosso modelo é sustentável, escalável e capaz de gerar impacto real a longo prazo.
Qual é a estrutura acionista da Bravo e desde quando opera em Portugal? Quem é o CEO?
O nosso capital é, na sua maioria, institucional. A Bravo conta com o apoio de empresas como a GPF Capital, uma firma de investimento especializada em PME; a Cercano Capital, o braço de investimento do património do cofundador da Microsoft, Paul Allen; a Achieve, empresa líder do setor nos Estados Unidos; e o BBVA Spark, a unidade do BBVA criada para apoiar empreendedores e investidores de capital de risco a escalar os seus negócios através de serviços financeiros e financiamento por dívida.
O CEO da Bravo é Juan Pablo Zorrilla.