O sector do calçado quer investir 600 milhões de euros até 2030 em quatro áreas chave, com mais de 150 milhões deste bolo dedicados à internacionalização com vista a solidificar a presença em mercados distantes e com elevado potencial como o Japão, Coreia do Sul ou Austrália. O anúncio foi feito em Madrid esta semana e pretende dar continuidade ao crescimento do ramo, que enfrentou este ano dificuldades acrescidas depois dos números recorde de 2022.
O pacote de 600 milhões de euros prevê investimentos nas áreas da inovação, sustentabilidade, internacionalização e qualificação, de forma a dinamizar ainda mais um sector que cada vez mais é uma referência da produção nacional fora de portas. Ao JE, o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) explica que, deste bolo, mais de 150 milhões serão dedicados à afirmação em mercados longínquos com grande potencial de crescimento.
“Vamos investir seguramente mais de 150 milhões até ao final da década no processo de internacionalização, porque entendemos a necessidade de, por um lado, consolidar a nossa presença nos mercados internacionais, digamos, tradicionais, mas temos a expectativa de afirmar o calçado português em geografias mais distantes, em mercados com potencial de crescimento muito elevado”, resumiu Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da associação.
À cabeça, os mais óbvios são os EUA e Canadá, onde a presença nacional é já considerável, mas também geografias mais distantes como o Japão, Coreia do Sul ou Austrália. Nota ainda para o mundo árabe, um conjunto de economias fisicamente mais próximas, mas com as quais os laços comerciais têm bastante margem para crescer.
Além destes países, a associação identificou 145 cidades “que devem merecer a nossa atenção prioritária”, incluindo várias nos EUA, nomeadamente “Nova Iorque, Atlanta, Boston, San Diego, Los Angeles e Las Vegas”.
Além destes mais de 150 milhões de euros para internacionalização, o pacote de 600 milhões inclui 140 milhões de euros provenientes do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência, fundos europeus) para as áreas da automação e sustentabilidade.
O porta-voz da APICCAPS continua, lembrando que Portugal “exporta mais de 90% da produção”, o que espelha bem o fator internacional do tecido nacional. Ao mesmo tempo, o calçado português chega já a 173 países, o que significa que já “não haverá muitos países” onde o sector ainda não está presente.
Ainda assim, e depois de estabelecer recordes de exportações em quantidade e valor, o sector não escapa às dificuldades que têm sentido as economias mais avançadas. Tal como sucede com os concorrentes espanhóis ou italianos, as empresas portuguesas “não estão imunes à conjuntura”, pelo que a perda de rendimento e dinamismo de mercados como o alemão afetam as vendas portuguesas.
Como tal, quaisquer projeções concretas para o sector em 2024 são arriscadas, dado o cenário de elevada incerteza que se continua a registar. Ainda assim, Paulo Gonçalves admite que “os próximos meses serão de alguma dificuldade”, em particular “até março ou abril, de acordo com os nossos indicadores”.