O setor do calçado reúne nos próximos dois dias no Porto – numa conferência internacional dedicada ao futuro da indústria, organizada pela APICCAPS e pelo Centro de Tecnológico do Calçado de Portugal – onde um dos focos será o contributo da robótica e da inteligência artificial (IA) no quadro do aumento da competitividade corporativa. Com o alto patrocínio do Presidente da República, ”especialistas de renome mundial vão debater os grandes desafios e oportunidades do setor num contexto de transformação tecnológica, económica e ambiental”, refere a organização.
O evento marca igualmente a apresentação pública dos resultados do projeto FAIST – Fábrica Ágil, Inteligente, Sustentável e Tecnológica, um dos maiores investimentos de sempre da indústria do calçado em Portugal – realizado no âmbito dos apoios patrocinados pelo PRR. O cluster nacional do calçado investiu mais de 50 milhões de euros em automação, robótica e sustentabilidade, “com o objetivo de tornar o setor português um dos mais modernos e competitivos do mundo”, destaca o presidente da Associação Portuguesa da Indústria do Calçado, Componentes, Artigos Pele e Sucedâneos (APICCAPS).
De acordo com Luís Onofre, citado em comunicado oficial, “é tempo de discutir seriamente o papel da Europa na produção mundial de calçado”. O responsável lembra que “todos os anos são produzidos cerca de 24 mil milhões de pares de sapatos, e 90% dessa produção concentra-se na Ásia. Esta dependência não é razoável — nem sustentável. A Europa precisa de assumir a sua responsabilidade e o seu potencial enquanto referência de qualidade, inovação e ética na produção”.
Tema de conversa, porque se inscreve neste âmbito, será por certo a questão do corte da isenção de pagamento de tarifas aduaneira de encomendas de menos de 150 euros à entrada no espaço da União Europeia. Calçado e têxteis são especialmente visados por esta isenção, cujo fim era há muito requerido por responsáveis europeus daqueles dois setores.
Por outro lado, Luís Onofre defende que “a Europa não pode ser apenas o mercado de consumo; tem de ser também um polo de produção inteligente, sustentável e tecnologicamente avançado”. Para o presidente da APICCAPS, “a competitividade europeia não se constrói com baixos custos, mas com talento, conhecimento e valor acrescentado”. “Portugal é um exemplo dessa visão”, sublinha. “Temos mostrado que é possível produzir calçado de excelência, respeitando o ambiente, valorizando as pessoas e investindo em tecnologia. Queremos que este debate inspire outros países europeus a seguir o mesmo caminho.”
Numa altura em que as novas tecnologias patrocinam um novo olhar sobre os modelos de produção no setor do calçado, o grande desafio do momento é uma aliança entre a robotização e a IA. Para os especialistas, esta soma, representa o melhor de dois mundos: a robotização surge como essencial para garantir que a uniformização entre os diferentes processos de produção seja eficaz; ao mesmo tempo, a IA surge como essencial em áreas que vão da rastreabilidade de produto até à deteção de defeitos e de pontos fracos, passando pela redução do desperdício. E, ‘last but not least’, esta ‘aliança’ permite também uma aposta na customização.
Recorde-se que as exportações portuguesas de calçado ascenderam a 1,7 mil milhões de euros entre janeiro e outubro deste ano, um aumento de 21,7% em valor face ao mesmo período do ano anterior.