Os grandes bancos já começaram a ajustar os juros nos depósitos perante a perspetiva de uma redução das taxas pelo Banco Central Europeu (BCE), com Christine Lagarde a abrir a porta a um corte no verão. A Caixa Geral de Depósitos (CGD), o maior banco do sistema financeiro nacional, também já deu este passo, cortando a rentabilidade dos seus depósitos a prazo, tanto a 12 como a um prazo mais curto, a seis meses, que se subscrito agora atinge a maturidade em julho.
De acordo com a consulta feita pelo Jornal Económico à oferta do banco estatal, o Depósito Caixa 6 Meses Não Mobilizável, com um mínimo de constituição de 500 euros e um máximo de 500 mil euros, tem agora uma taxa anual nominal bruta (TANB) de 3,350%, quando no final do ano passado uma aplicação neste mesmo produto permitia aos clientes obterem uma remuneração bruta de 3,50%.
Já no caso do Depósito Caixa Net 12 Meses Não Mobilizável, com um mínimo de constituição de 5.000 euros e um máximo de 200 mil euros, a taxa de remuneração é de 2,950% no prazo inicial, passando para 1,500% nos prazos seguintes (após renovação). Até ao mês passado, a TANB oferecida pela Caixa neste produto era de 3,25%.
Questionada sobre a explicação para estas alterações à remuneração de dois dos principais depósitos a prazo do banco de capitais públicos, não foi possível obter uma resposta por parte da CGD.
“A Caixa tem, tradicionalmente, uma base de clientes mais fidelizada e isso dá-lhe alguma margem de manobra nas ofertas de poupança que disponibiliza”, afirma Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados Financeiros (IMF), quando questionado se o corte de juros pela CGD pode influenciar o resto do sector. No entanto, refere, “deve reconhecer-se que a CGD não foi das últimas a subir taxas de depósitos nem das que as subiu menos, pelo que não me parece que se deva desta decisão retirar alguma leitura em particular”.
O banco estatal não foi o único a dar este passo, nem o primeiro a efetuar um corte nas taxas dos depósitos depois de ter sido o que deu o tiro de partida no aumento das remunerações destas aplicações. O BPI também cortou no prazo mais curto, passando de 3,5% para 3%. A 12 meses, o banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa oferece agora 2,5%, face aos anteriores 3,5%, com um mínimo de 250 euros e máximo de 500 mil euros, como avançou o Expresso.
Também o BCP avançou com um corte nos depósitos a um ano. No caso do banco liderado por Miguel Maya, o depósito Net Millennium Flexível, com um mínimo de 250 euros e máximo de 500 mil euros, paga uma TANB entre 1,05% e 1,50%. Questionado sobre se tinha igualmente reduzido a rentabilidade a seis meses, a instituição financeira diz não comentar a sua política comercial.
O JE questionou o Novobanco e o Santander se tinham avançado com alterações semelhantes, mas não obteve quaisquer esclarecimentos por parte de ambos os bancos até ao fecho deste artigo.
O passo que está a ser dado pelos bancos acompanha aquela que tem sido a tendência das Euribor no mercado. As taxas subiram com a normalização da política monetária do BCE, chegando recentemente a superar a fasquia dos 4%. O banco do Estado deu o tiro de partida na subida dos juros, fazendo mira às pequenas poupanças. É preciso “retomar o normal, que é os depósitos serem remunerados”, disse o CEO da CGD, Paulo Macedo, em novembro de 2023.
Mas esta realidade parece ter mudado desde novembro, quando as Euribor começaram a recuar, à medida que foram surgindo sinais de alívio por parte do banco central perante o recuo da taxa de inflação. A Euribor a 12 meses está agora nos 3,655%, depois de ter alcançado os 4,228% em setembro do ano passado. Já a Euribor a seis meses, que esteve acima dos 4% entre setembro e dezembro, está agora nos 3,908%.
Descida dos juros nos depósitos e no crédito
Perante esta alteração de tendência, os grandes bancos já estão a mexer nos juros dos depósitos. “É natural que haja um ajustamento em baixa ao longo do ano, a acompanhar o que está a acontecer nas taxas em mercado monetário e Euribor que também já estão a baixar nos diferentes prazos”, afirma Filipe Garcia, da IMF, ao JE, notando que o “máximo das taxas de depósito já terá sido visto no último trimestre de 2023”.
Mas, ao mesmo tempo que reduzem a rentabilidade dos produtos de poupança, as instituições financeiras estão igualmente a reduzir as taxas que cobram nos créditos à habitação a taxa fixa.
Se no momento da subida dos juros as taxas dos créditos foram muito mais rápidas a subir do que as dos depósitos, na inversão do ciclo assiste-se a um movimento em simultâneo. A Caixa, por exemplo, reduziu recentemente a taxa fixa a dois anos para 3,25%, quando antes era de 3,75%.
Esta descida poderá generalizar-se no sector depois de Christine Lagarde, presidente do BCE, ter admitido que poderá avançar com uma redução das taxas de juro no verão. “Diria que é provável”, afirmou a responsável em entrevista à Bloomberg, em Davos, na Suíça, depois de ter sido questionada sobre uma possível descida das taxas de juro, apesar de afirmar que tem “de ser reservada” nesta matéria. Notou que eventuais decisões dependem da evolução de alguns indicadores.