A Caixa Geral de Depósitos (CGD) obteve um lucro recorde de 889 milhões de euros no primeiro semestre do ano, mais 46,3% que no período homólogo. Este resultado permitirá ao banco público entregar ao Estado um dividendo extraordinário de 825 milhões de euros este ano, concluindo o processo de devolução do montante que os contribuintes injetaram na sua capitalização, em 2017.
Estes 825 milhões resultam de um acréscimo de 300 milhões de euros aos 525 milhões que já estavam previstos, sendo a segunda vez, em 12 anos, que a Caixa paga ao acionista Estado um dividendo extraordinário. Ao todo, a Caixa vai entregar ao Estado 1,2 mil milhões de euros, entre dividendos e IRC referente a 2023, valor a que acrescem 417 milhões em pagamentos por conta de IRC relativos ao exercício de 2024, chegando o total global a 1,66 mil milhões de euros.
Questionado, na conferência de apresentação dos resultados, sobre se este nível de remuneração acionista se poderá manter, Paulo Macedo frisou que a rentabilidade da CGD só tem sido possível devido ao crescimento que o banco tem tido numa conjuntura macroeconómica benigna.
“Os dividendos vão depender sempre dos valores dos resultados, do nível de capitalização, da vontade do acionista… sabemos que este nível de resultados não se poderão manter para sempre. Dependendo dos ciclos, oscilarão os dividendos. Obviamente, se os resultados caírem, os dividendos também terão de diminuir, a menos que os rácios de capital sejam tão elevados que se possa distribuir dividendos mais elevados”, referiu Paulo Macedo. “Sobre dividendos, o que temos previsto é continuar com a atual política, sendo que há todas estas variáveis que referi”, acrescentou.
Forte dinâmica comercial e menos provisões suportam resultados do semestre
Segundo o comunicado divulgado ontem pela Caixa no site da CMVM, a margem financeira teve um crescimento homólogo de 11% para 1,4 mil milhões de euros, apesar da descida das taxas de juro que se tem verificado desde o final do ano passado, notou a CGD. Este crescimento da margem – que, grosso modo, corresponde à diferença entre aquilo que o banco cobra pelos créditos e paga pelos depósitos – assentou no crescimento da atividade doméstica na área de Tesouraria, uma vez que, nas outras áreas, o valor dos juros pagos pela CGD superou o montante dos juros cobrados nos créditos. Isto resultou num contributo negativo de 31 milhões de euros na margem financeira do negócio de retalho.
O crédito concedido cresceu 2,2% em termos homólogos, para 51,6 mil milhões de euros. Porém, no crédito à habitação a produção cresceu 57% em termos homólogos. A CGD tem uma quota de 25,1% neste segmento em Portugal e beneficiou de uma maior procura de financiamentos para a compra de casa, apesar de escassearem os imóveis a preços acessíveis.
“Mesmo assim, o crédito cresceria muito mais se existisse mais oferta de casas acessíveis”, frisou o presidente da CGD, referindo-se a obstáculos como os atrasos nos licenciamentos e na urbanização de terrenos. “Quando essas restrições forem resolvidas haverá um aumento da oferta e do crédito concedido”, disse.
Questionado sobre a lei que prevê a atribuição de uma garantia pública para facilitar a compra de casa por jovens até aos 35 anos, Paulo Macedo notou que essa medida é “positiva”. “Agora, só vale a pena ter uma opinião definitiva quando for definido como se poderá fazer o financiamento até os 100% quando a banca neste momento só pode financiar até 90%. É preciso clarificar estas questões. Como é do conhecimento geral, há conversas nesse sentido entre as autoridades e a Caixa cá estará para financiar quem tiver direito a essa garantia”, salientou
Por sua vez, as comissões estagnaram em termos homólogos, com um total de 289 milhões de euros no primeiro semestre, refletindo o facto de o precário do banco não ter sido atualizado e de existirem várias isenções em vigor, notou o banco do Estado. Já os resultados de operações financeiras tiveram uma forte queda, dos 152 milhões do período homólogo para 88 milhões na primeira metade deste ano.
Já os depósitos tiveram um crescimento de 4,1% para 83,9 mil milhões de euros.
A nível dos custos de estrutura, o banco público manteve a trajetória dos últimos anos, com uma descida de 23 milhões de euros para 534 milhões no primeiro semestre. Também as provisões e imparidades para o crédito malparado diminuíram na primeira metade do ano, com a libertação de provisões a ter um impacto positivo de 112 milhões de euros nos resultados da CGD. O rácio de eficiência cost to income atingiu o valor recorde de 25,4%, ou 29,3% se excluírmos factores não recorrentes. Quanto mais baixo for este rácio, mais eficientes são os bancos.
Por sua vez, os rácios de capital no final do semestre ficaram nos 21% (CET1) e 21,3% (total), após a distribuição do dividendo de 525 milhões de euros. A este valor acrescem outros 300 milhões de euros em dividendos, perfazendo os referidos 825 milhões, o que terá um impacto de 65 pontos base no rácio, ficando ainda assim acima dos 20%.
A atividade internacional teve um contributo de 100 milhões de euros para os resultados consolidados do banco.