Começou por ser uma empresa que fabricava baterias de telemóvel para empresas como a Nokia e a Motorola. Mas cresceu e diversificou o seu negócio nos últimos 28 anos. Fundada em Shenzen, cidade vizinha de Hong-Kong, em 1995, na República Popular da China, hoje fabrica automóveis, veículos elétricos, autocarros e... baterias. A história da empresa serve de exemplo ao rumo que a China quer tomar: a sua indústria passa de fornecedora de marcas ocidentais para ter as suas marcas próprias presentes no mercado mundial, um percurso já feito pela Coreia do Sul e pela Japão.
Cotada na bolsa de Hong Kong, a companhia registou lucros de 17 mil milhões de yuans em 2022 (2,1 mil milhões de euros). A empresa vendeu um total de 1,86 milhões de veículos elétricos em 2022, um registo superior ao dos quatro anos anteriores juntos. Entre os seus investidores, encontra-se o investidor norte-americano Warren Buffett.
Depois de ter entrado no mercado europeu de empilhadores há uns anos, a BYD está agora a apostar nos veículos 100% elétricos (BEV) e entrou no mercado nacional este ano pelas mãos do grupo Salvador Caetano, o distribuidor nacional, responsável pelas vendas e serviços pós-venda.
Em conversa com o Jornal Económico, Pedro Cordeiro, responsável da BYD Portugal, revela quais os planos da empresa e como está a correr a entrada da empresa. Para já, o grande objetivo é chegar a mais pontos de vendas no país e fechar 2023 com mil unidades vendidas.
Como é que estão a correr os primeiros tempos da BYD em Portugal em termos de vendas?
A representação da marca foi anunciada no passado dia 2 de maio, tendo o lançamento oficial dos modelos ocorrido na semana seguinte. Ainda que a BYD seja um gigante tecnológico e líder mundial em PHEV e EV, com mais de 4,1 milhões de viaturas vendidas, ainda é uma marca muito recente no nosso país. No entanto, o nível de interesse e de vendas, nesta fase inicial, está a superar as nossas melhores expectativas.
Consideram que ainda existe algum receio por parte dos clientes em comprar um automóvel chinês?
Sabemos que ainda pode existir, mas que gradualmente se está a reduzir. Grande parte dos equipamentos tecnológicos, que usamos no dia a dia, têm fabrico chinês. As marcas chinesas evoluíram imenso nos últimos 20 anos. Atualmente a maioria dos fabricantes mundiais fabricam na China e/ou têm componentes de fabrico chinês. A China e as empresas chinesas deram um grande salto tecnológico, estando atualmente a competir de igual para igual e mesmo a superar, em avanços tecnológicos, países anteriormente líderes em tecnologia automóvel. No caso concreto da BYD, falamos de uma marca líder em baterias LFP, em automóveis elétricos e que regista cerca de 15 patentes por dia. Marcas como a Tesla e a
Toyota (marca com quem detém, desde 2020, uma Joint venture) são fornecidas, em alguns modelos, com baterias BYD.
O que acha a BYD Portugal do fim do cheque para compra de carro elétrico (este deverá ser o último ano em vigor, como já indicou o Governo)?
Entendemos que o nosso mercado ainda não atingiu o estado de maturidade de outros países, como a Noruega e a Suécia, onde o mercado de veículos elétricos (EVs) já representa 60% a 80% das vendas. Em Portugal, o mercado de EVs ainda está nos 15%. Assim, entendemos que os apoios devem ser mantidos, com maior suporte às empresas, uma vez que são estas que detêm as maiores frotas e necessitam de iniciar a sua descarbonização. Caso os incentivos não sejam mantidos, a transição necessária para as metas de 2035 poderá desacelerar.
Quais as medidas alternativas para apoiar o carro elétrico?
Manter os apoios às empresas para a renovação das atuais frotas a combustíveis fósseis é essencial. Também é importante acelerar a instalação de postos de carregamento — públicos, residenciais e nas empresas.
Devem ser mantidos os incentivos fiscais para as empresas comprarem carros elétricos?Sem dúvida, essa deve ser a prioridade, pelas razões já mencionadas.
Como é que a BYD Portugal olha para a rede de carregamentos. É preciso mais investimento?
A nossa rede tem vindo a crescer com consistência, no entanto entendemos que é preciso acelerar o ritmo. São, igualmente, necessários mais postos de carregamento rápidos para que a experiência seja a melhor possível para o utilizador.
Qual a razão da entrada no mercado português?
Os BEV em Portugal, têm vindo a crescer de forma consistente e já representam em abril de 2023, 11% do mercado total, transformando Portugal num mercado interessante. Por comparação, em Espanha, os BEV correspondem a apenas 3%, ainda que em volume seja superior, dada a dimensão do mercado. Portugal faz parte da segunda fase de países europeus, após a entrada em 2020, no mercado norueguês, seguiram-se mais 14, sendo Portugal o 15º país onde a marca BYD decidiu entrar.
Quais é que consideram ser os vossos maiores concorrentes neste mercado, que é dominado pela Tesla, Peugeot e BMW (dados de 2022)?
A BYD, entende, acima de tudo, valorizar o seu produto e a proposta de valor que apresenta, oferecemos ao consumidor e às empresas a oportunidade de usufruírem de uma marca com mais de 28 anos de história e pioneira em diversas áreas tecnológicas. A nossa gama atual de entrada serão três modelos, HAN (segmento E), TANG (SUV E) e o ATTO3 (SUV C), estando já previsto para o início do segundo semestre a chegada de mais dois modelos (DOLPHIN e o SEAL) e continuaremos a ter novidades, novos lançamentos, em 2024. Será a marca com a maior oferta de veículos 100% elétricos em Portugal.
Já contam com quantos concessionários no país? Foram criados de raiz ou nasceram de alguma parceria? Pretendem abrir mais concessionários? Quantos e até quando?
À data temos quatro concessionários abertos, dois a norte (Porto e Vila Nova de Gaia) e dois na zona centro (Lisboa e Cascais), estando já em implementação mais um em Setúbal. Todos estes concessionários são do Grupo Salvador Caetano. Planeamos um crescimento gradual e sustentado para responder às necessidades do mercado. Temos definido um plano de crescimento, para os próximos três anos, que prevê ainda durante 2023 o alargamento da rede de concessionários para mais cidades do território nacional, incluindo as ilhas.
Qual o perfil de cliente que procura a marca?
A marca posiciona-se como premium accessible, uma vez que fornece valores importantes de premium como a tecnologia de ponta, motores avançados, elevada qualidade de engenharia e produção. As demais características dos veículos permitem que os consumidores desfrutem de vários equipamentos de série, disponíveis em todas as versões, sem terem de pagar excessivamente pelos mesmos.
A BYD tenta distinguir-se pelo preço? É esta a vossa principal estratégia de penetração no mercado nacional?
Não. O posicionamento premium accessible e a inovação tecnológica serão o ADN da marca
A BYD vendeu 67 unidades entre janeiro-junho. Como esperam fechar o ano?
Na realidade, esses números correspondem ao período entre 12 de maio (data de abertura dos quatro showrooms, dois na zona do Porto e dois na grande Lisboa) e junho, ou seja, um mês e meio de vendas. A aceitação dos produtos está a ser muito positiva, as pessoas estão a valorizar imenso a qualidade da oferta associada às nossas viaturas. Queremos manter esta dinâmica e incrementar o volume mensal, uma vez que planeamos avançar com o alargamento da rede de venda e pós-venda a mais zonas geográficas.
Quais as vossas expetativas para o mercado nacional nos próximos anos em termos de vendas. Ambicionam liderar?
A liderança é uma palavra que faz parte do Grupo Salvador Caetano e da nossa campanha de lançamento “Prepare-se para conduzir a liderança” porque existem vários marcos de liderança e pioneirismo na marca BYD. A nossa ambição passa por atingir o marco de 1.000 unidades no primeiro ano de atividade em Portugal.
Quais é que consideram ser as mais-valias dos automóveis da BYD?
A empresa, com mais de 600 mil colaboradores e com 70 mil em R&D (engenheiros), investe prioritariamente em Inovação Tecnológica e Segurança. A BYD fabrica as próprias baterias, os motores elétricos, as unidades de controle e os semicondutores, entre outros. Esta cadeia verticalizada representa uma menor dependência de fornecedores externos, com menor exposição às falhas das cadeias de distribuição internacionais e uma maior disponibilidade de stock (veículos). As viaturas possuem aspetos diferenciadores como as Blade battery (50% mais eficientes em espaço, maior segurança e maior tempo de vida) e a Plataforma 3.0, que incorpora as Blade battery, uma bomba de calor e a tecnologia oito em um do sistema de transmissão. A BYD acredita que a segurança é o último luxo dos automóveis elétricos.