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BlackRock espera cortes do BCE e da Fed num ano em que 50% do PIB mundial vai a votos

A maior gestora de ativos do mundo rejeita cortes no primeiro trimestre. A acontecer, só mais tarde em 2024, e a um ritmo mais lento do que o descontado pelos mercados.

A BlackRock espera cortes das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE) e pela Reserva Federal norte-americana em 2024. Contudo, a maior gestora de ativos do mundo prevê um ritmo mais lento do que o esperado pelo mercado.

"O mercado desconta seis cortes de 125 pontos base [pelo BCE]. E que o BCE pode até cortar mais rápido do que a Fed. Achamos que é demais, mas pode até cortar mais que a Fed. Mas achamos que ainda é cedo, que o mercado está a antecipar demasiado rápido", começou por dizer André Themudo, líder da operação portuguesa da companhia norte-americana.

Sobre a Reserva Federal, disse que "o pico já foi atingido, isto é consensual. O mercado está a descontar alguns cortes na Fed no primeiro trimestre... achamos que é cedo demais, no primeiro trimestre. O mercado também desconta para 2024, quatro cortes no valor de 100 pontos base... Achamos que também é demasiado. Tudo isto é mais um factor de volatilidade no primeiro trimestre de 2024".

Mas os mercados estão muito otimistas, ou a BlackRock está muito pessimista? "O mercado quer ver cortes, por isso perspetiva cortes. A Fed e o BCE agora cortarem no primeiro trimestre... ainda há espaço para esperarem , há espaço para esperarem. Iam antecipar uma alavanca poderosíssima que pode ser utilizada melhor mais à frente do que no primeiro trimestre. Em termos de economia, os dados ainda não estão lá".

A BlackRock antecipa cortes do BCE e da Fed em 2024, mas menos do que o mercado? "Não tantos cortes, não em tanta quantidade, nem tão cedo. Achamos que vai ser mais tarde, menos cortes, e em menor dimensão acumulada com o que o mercado está a descontar", segundo André Themudo num encontro com jornalistas em Lisboa na terça-feira.

A Fed divulga hoje a sua decisão ao final da tarde desta quarta-feira, com o BCE a divulgar a decisão na quinta-feira.

Na zona euro, a inflação em novembro na zona euro atingiu o seu nível mais baixo em dois anos, 2,4% longe dos 10% atingidos em 2022.  A maioria dos economistas consultados pela Reuters apontam para um corte no segundo trimestre de 2024. Já o mercado está a descontar um corte de 150 pontos base em 2024.

Do outro lado do Atlântico, a maioria dos economistas acreditam que a Fed já não vai aumentar mais as taxas de juro, apesar de declarações recentes de Jerome Powell a dizer que estava preparado para mais apertos monetários se necessário. A maioria dos economistas esperam cortes só a partir de julho, prevendo uma redução de 100 pontos base. Com os mercados a descontarem um corte de 150 pontos base a começar em março.

No encontro com jornalistas, André Themudo destacou que o ano de 2024 vai ser marcado por "muitas eleições em países muito importantes", incluindo EUA, Rússia, Reino Unido, Parlamento Europeu, Índia, Taiwan, México, ou Indonésia. "Vamos perceber o tom do mundo", com mais de 50% do PIB mundial a ir a votos. "Gera alguma volatilidade. É um ano pouco comum em termos de mudanças".

Questionado pelo impacto da crise política, o responsável salientou que a crise política em “Espanha teve muito mais repercussão do que Portugal”, por pesar muito mais, devido à dimensão da sua economia. 

Em termos de tensões geopolíticas, sublinhou que o conflito Israel versus Hamas "pesa pouco em termos de contexto global" e que "em termos de mercados, o conflito Rússia-Ucrânia teve mais impacto".

A grande preocupação da BlackRock é a "bipolarização" do mundo, com "países aliados em dois blocos".

Em relação à bolsa portuguesa, destacou que o PSI é "muito concentrado em poucos sectores", mas que "como outras bolsas europeias apresenta oportunidades", destacando o sector da energia.

Olhando à volta do mundo destacou que as "ações japonesas são atrativas" devido às reformas que têm tido lugar, favoráveis aos acionistas. As empresas também contam com "avaliações atrativas". A ajudar, as regras de imigração "menos rígidas", e a política monetária.

Nos mercados emergentes, a gestora de ativos destacou a Índia. "Tem uma população jovem, a classe média indiana está em rápida expansão, há um aumento do consumo, a digitalização está a abrir caminho. As ações indianas nunca estiveram muito baratas, mas contam com taxas de crescimento impressionantes".

No caso da China, a companhia tem uma posição neutral. "Há melhores oportunidades fora da China, como Índia, México, Brasil ou Taiwan".

As ações do sector tecnológico são uma das escolhas da companhia, seguida pelas de Inteligência Artificial (IA). "Consideramos que a resiliência aos lucros no sector tecnológico se vai manter".

Ao mesmo tempo, destacou outros "sectores estratégicos", além da tecnologia, como a "energia e a defesa, onde pode haver boas oportunidades".