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BCE tenta manter-se agressivo com mercado a avistar pico dos juros

Christine Lagarde deve manter um tom hawkish na conferência após o esperado anúncio de 25 p.b., mas os sinais de fraqueza na economia da zona euro colocam alguns entraves ao BCE. Situação semelhante nos EUA, onde Jerome Powell manteve todas as opções em aberto para o resto do ano.

A reunião de julho será um teste ao tom agressivo do Banco Central Europeu (BCE), que tem vindo a sublinhar o seu compromisso total com o retorno à estabilidade de preços, mas enfrenta agora uma série de dados negativos que deixam antecipar uma quebra significativa da atividade nos próximos meses.

A revisão em alta do crescimento no primeiro trimestre deste ano tirou a zona euro do cenário de recessão técnica, mas os dados mais recentes desde aí têm criado algumas dúvidas quanto ao rumo do BCE depois de julho.

A reunião desta quinta-feira tem como resultado praticamente garantido nova subida de 25 pontos base (p.b.) nos juros diretores do bloco europeu, pelo que o foco dos mercados estará na conferência de imprensa que se seguirá. Nas últimas reuniões, Christine Lagarde, presidente do BCE, tem reiterado a necessidade de continuar a combater a inflação, mas o indicador tem vindo a dar sinais positivos de recuo nos últimos meses, estando agora em 5,5%.

Ainda assim, este valor fica muito acima dos 2% de objetivo do organismo. Mais, a taxa subjacente voltou a subir, estando num valor igual ao indicador nominal e sinalizando uma pressão nos preços que se manterá por mais tempo do que o antecipado.

Os investidores e analistas debruçam-se assim sobre a duração do aperto monetário na zona euro, com cada vez mais apostas de que a subida de juros está a chegar ao fim. O banco ING projeta que o banco central “mantenha a porta bem aberta” a nova subida em setembro, “mas sem se comprometer” com nenhuma decisão. A ideia passa, portanto, por um reforço da postura dependente dos dados que Lagarde tem repetidas vezes referido.

O mesmo projeta a abrdn, referindo quão improvável será que o BCE se comprometa com qualquer decisão em setembro. A subida da core em junho terá de ser analisada, embora corresponda sobretudo a efeitos base na Alemanha, com o foco dos decisores colocado na dinâmica salarial, como a própria presidente do BCE referiu no fórum do organismo em Sintra.

A Generali Investments espera que o ciclo de subidas termine, de facto, em julho, mas que o BCE mantenha a sua “postura hawkish de esperar para ver” até meados do próximo ano, com “os riscos inclinados para novas subidas”. Parte desta hawkiness passará pela admissão de que a inflação implícita se manterá elevada, desde que sem evidências claras de efeitos de segunda ordem, continua a seguradora.

Já o JP Morgan não acredita no final da subida de juros para já, apontando à inflação ainda demasiado elevada. Como tal, o banco de investimento não considera “realista pensar que vamos atingir o objetivo de 2% no final deste ano”, embora a economia esteja “no bom caminho”, argumenta Elena Domecq, da equipa de Clientes e Estratégia para Portugal da JPMorgan Asset Management (JPMAM).

A projeção passa assim por mais duas subidas este ano, combinadas com um "crescimento positivo, mas muito discreto". O consenso dos analistas ronda atualmente um crescimento abaixo de 1% para a zona euro este ano.

Os economistas consultados pela "Reuters" são unânimes em prever nova subida de 25 pontos em julho, e mais de 50% preveem nova subida em setembro, uma forte revisão em alta face à estimativa anterior. A maioria dos inquiridos não vê cortes de juros antes do final do primeiro trimestre de 2024.

Fed mantém porta aberta

Na antecâmara da reunião do BCE, a Reserva Federal seguiu o guião que havia traçado em junho e voltou a subir os juros diretores em 25 p.b.. Na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio, Jerome Powell, presidente do organismo, tentou manter em aberto todas as hipóteses daqui para a frente.

O presidente da Fed indicou que é igualmente provável nova subida em setembro ou uma manutenção dos atuais níveis nos juros, reiterando a dependência dos dados macro que forem sendo conhecidos até lá. Ainda assim, o combate à inflação será para manter, com o banco central a querer ver sinais sustentados de descida, sobretudo no indicador subjacente.

A maioria dos economistas consultados pela Reuters espera que esta seja a última subida de juros na maior economia do mundo, com a JPMorgan a projetar nova pausa após a decisão de julho.

Também o Goldman Sachs coloca a mesma questão, antecipando que o pico dos juros tenha sido atingido agora. Ainda assim, “qualquer sinal de pressão renovada” nos preços levará a uma reação da Fed.