O Banco Central Europeu (BCE) deve voltar a baixar os juros diretores em 25 pontos base (p.b.) esta quinta-feira, a quarta descida este ano, face a uma inflação em linha com o alvo de 2% e à pressão do lado do crescimento, que deverá manter-se anémico nos próximos meses – arriscando mesmo nova deterioração caso os EUA avancem com as prometidas tarifas.
A confirmar-se, será a quarta descida este ano, colocando os juros de referência em 3%, isto apesar de o indicador de preços até ter subido pelo segundo mês consecutivo em novembro. Com 2,3% na leitura mais recente, a inflação permanece em linha para atingir os 2% em breve, sobretudo dado que a subida recente se deveu sobretudo a efeitos base e estava já prevista pelo banco central.
Um fator a ajudar o BCE foi a manutenção da taxa subjacente em 2,7% pelo terceiro mês seguido em novembro, isto apesar de os analistas até anteciparem uma subida até 2,8%.
Com a dinâmica de preços aparentemente bem encaminhada, a preocupação dos decisores no BCE volta-se cada vez mais para o crescimento, argumentam os analistas. Vítor Madeira, da XTTB, aponta para a "conjuntura macroeconómica pessimista, com os consumidores relutantes, as indústrias a produzir menos, os investimentos a abrandar e em alguns casos aumentos de desemprego" para ilustrar as dificuldades na economia europeia.
"Tendo em conta os dados fracos dos PMIs e a descida da inflação subjacente, espera-se uma nova redução de 25 pontos percentuais, levando a taxa para 3%. O mercado de taxas da zona euro está totalmente preparado para um corte de 25 pontos base na reunião desta semana", considera, lembrando a queda do PMI dos serviços para terreno de contração da atividade em novembro pela primeira vez desde janeiro.
Para o próximo ano, "muito vai depender da futura política tarifária dos EUA", argumenta o diretor de investimento global em obrigações da Allianz Global Investors (Allianz GI), Michael Krautzberger. "A imposição de tarifas generalizadas tanto à China como à Europa poderão rapidamente inviabilizar qualquer esperança de uma recuperação duradoura na região."
Perante este cenário, e considerando que a reunião de dezembro trará também uma atualização das projeções macroeconómicas do BCE, os analistas de Ebury avisam que "estas incertezas se deverão refletir nas projeções macroeconómicas atualizadas, que, na nossa opinião, mostrarão um crescimento e uma inflação mais baixos em 2025 do que o anteriormente previsto".
"Quaisquer revisões em baixa destas últimas serão acompanhadas de muito perto pelo mercado. Uma descida acentuada da perspetiva da inflação subjacente seria particularmente pessimista para o euro, uma vez que os mercados reagiriam provavelmente com a fixação de preços para uma taxa terminal do BCE muito mais baixa em 2025", completam.
"Se o dólar se valorizar face ao euro porque as taxas nos EUA estão mais altas, vamos acabar por ter inflação importada por via do facto de o euro valer menos e a maioria das matérias-primas, sobretudo energéticas, estarem denominadas em dólar", alerta o economista e professor universitário Pedro Brinca, que recorda ainda as fragilidades económicas nalguns pesos-pesados europeus.
"Quer Itália, quer França sofrerão muito com a manutenção de taxas elevadas durante mais tempo, além de que não se antevê que em França haja as condições políticas de curto-prazo para que seja feito um processo de consolidação orçamental e estabilização das contas públicas", dada a crise política em que a segunda maior economia do bloco euro mergulhou.