Luisa Gómez Bravo, CFO (administradora financeira) do BBVA, esteve recentemente numa reunião com analistas onde descartou o interesse do grupo espanhol no mercado bancário polaco. "Polónia? Não obrigada", disse esta responsável, segundo um analista de um dos bancos que esteve na reunião.
Esta afirmação ganha relevância numa altura em que a Reuters noticiou que a Fosun estaria a ponderar a venda da sua restante participação de 20% no BCP, depois de ter alienado 5,6% em janeiro, e de ter já sondado pelo menos dois bancos espanhóis – o BBVA e o CaixaBank (dono do BPI), sendo que este último não se terá mostrado interessado na aquisição, segundo a Reuters.
Ora o BCP é dono de 50,1% do Bank Millennium na Polónia, donde se conclui que esta afirmação é uma resposta negativa ao interesse em investir no BCP.
O artigo da Reuters referia que a Fosun tem estado a avaliar opções, tais como encontrar um comprador estratégico para a participação de 20% para aumentar o seu fundo de maneio.
Num research assinado pela Equity Research Analyst do Mediobanca, Noemi Peruchm, é dito que "a respeito à possibilidade de um parceiro estratégico do BCP, consideramos o CaixaBank pouco provável, uma vez que duvidamos que este banco esteja interessado em comprar apenas uma participação e uma aquisição total tornaria a CaixaBank (que detém o BPI) no principal banco do país, ultrapassando a estatal CGD, algo que, na nossa opinião, seria pouco provável que o Governo português aceitasse".
"Com uma participação de 20% no BCP, o BBVA entraria em Portugal, depois de ter desinvestido do país há alguns anos. Também para o BBVA, uma participação seria provavelmente o prelúdio de uma aquisição total mais tarde, na nossa opinião. Ambas as opções permitiriam que os bancos espanhóis controlassem uma quota de mercado de abaixo de 50% em Portugal, num momento em que Portugal está a prosperar, com a yield das obrigações do Estado português a estarem abaixo dos juros da dívida espanhola", refere a analista.
"Não excluímos a possibilidade de venda a um comprador estratégico em vez do mercado, mas vemos com algum ceticismo a opção de um comprador espanhol para a participação na Fosun no BCP", considera a analista d0 banco italiano que tem António Horta Osório como consultor sénior.
Como potenciais compradores dos 20% do BCP são mencionados o BBVA e o CaixaBank. "A notícia é surpreendente, uma vez que as notícias após a alienação em janeiro diziam que a Fosun tencionava manter a sua participação de 20%", refere a análise.
"Assinalamos que o período de lock-up termina no final desta semana", destaca o Mediobanca num research com data de 18 de março que dá como price-target ao BCP 0,30 euros e atribui a classificação Underperform. A mesma classificação que atribuem ao CaixaBank, sendo que no BBVA a classificação dos títulos é Neutral.
O italiano Mediobanca acredita que Portugal prefere preservar a matriz portuguesa do BCP.
"Uma presença mais forte em Portugal poderia fazer sentido para o CaixaBank, talvez se e quando o Novobanco estiver à venda", defende a analista.
"Acreditamos que o BBVA pode ter outras prioridades estratégicas, como reforçar o posicionamento nos actuais mercados principais em vez de entrar em novos mercados", considera o Mediobanca.
Tal como o Jornal Económico já escreveu, a decisão do grupo chinês vender ou não os 20% do BCP tem de ser vista à luz do que essa participação representa. É que a Fosun tem de escolher entre o encaixe financeiro da venda e a presença com uma participação estratégica num banco europeu, que cada vez é mais difícil de conseguir. Em 2016 o Banco Central Europeu deu “luz verde” a que a Fosun comprasse 16,7% do capital do maior banco privado em Portugal. A operação foi concretizada através de um aumento de capital do BCP reservado ao grupo chinês que é dono da Fidelidade. A autorização do BCE é para a Fosun ter menos de 30% do BCP:
A sustentar a tese de que a Fosun pode vender os 20% do BCP está o facto de o conglomerado chinês precisar de liquidez para fazer face à pressão da dívida.
Recorde-se que depois de a Fosun ter vendido 9,91% do capital do banco liderado por Miguel Maya, no comunicado publicado na bolsa de Hong Kong, o grupo chinês dizia que “tenciona utilizar as receitas das transações para o fundo de maneio geral do grupo” e acrescentou que a venda das ações “demonstra igualmente os esforços contínuos do grupo para criar o máximo valor para os seus acionistas".
Mas fonte da Fosun nega que estejam vendedores dos 20% do BCP.