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Bankinter prevê cortes dos juros só na reta final do ano

Analista do Bankinter prevê arranque dos cortes só a partir de setembro. Regresso de Donald Trump é identificado como o "principal risco".

O arranque dos cortes das taxas de juros pelos bancos centrais só deverá arrancar na reta final do ano. A previsão é do analista Pedro Ribeiro do Bankinter, que aponta para um primeiro corte mais tarde do que o descontado atualmente pelos mercados que esperam que o Banco Central Europeu (BCE) e a Reserva Federal norte-americana comecem a cortar em junho.

"Pensamos que o Banco Central Europeu, a Fed e o Banco de Inglaterra, os três estarão neste jogo de manterem-se em modo de pausa até final do terceiro trimestre do ano - setembro, outubro -, dizendo sempre ao mercado que precisam de mais dados, para terem a certeza de que a inflação está controlada para depois sim, poderem começar a implementar cortes de taxas de juros. Primeiro, a FED em Setembro, de seguida o BCE em outubro, e do Banco de Inglaterra em novembro", disse Pedro Ribeiro em entrevista ao Jornal Económico.

O analista acredita que os bancos centrais têm agora uma arma eficaz ao seu dispor, com os juros elevados, e que não vão abrir mão desta arma tão facilmente. "Isto dá-lhes a oportunidade de reativar a economia, se for necessário. No caso de haver um aumento novo da inflação, podem ainda voltar a apertar as taxas de juro, é um cenário completamente improvável, mas têm essa possibilidade. E estas taxas de juros positivas, que foi algo que faltou aos bancos centrais durante a última década, e que tanto era necessária por causa dos crescimentos zero que tínhamos, são uma arma importante pelo facto de, no caso de ser preciso reativar a economia, eles têm como fazê-lo. Os bancos centrais não irão abdicar dessa arma, a não ser que haja duas opções: uma recessão e que sejam obrigados a utilizá-la; ou, no caso de verem que a inflação de facto caminha para o tal objetivo dos 2% e aí podem retirar alguma pressão à economia. No caso americano, com menos sentido, porque já tem uma economia a crescer tão forte. No caso europeu, pode fazer um pouco mais de sentido, porque a economia a crescer praticamente zero pode ser útil para, no caso de vermos uma inflação já controlada, o Banco Central Europeu retirar um pouco de taxas de juros para reativar novamente a economia".

Pedro Ribeiro também destaca que a inflação vai manter-se acima da meta dos 2% por algum tempo. Neste cenário, os bancos centrais poderão vir a atualizar a sua meta. "Esperamos que a inflação, seja mais rebelde durante 2024 - que feche 2024 à volta dos 2,5%-3% - e que depois volte a desacelerar até mais ou menos convergir à volta de 2,5%, nunca voltando aos tais 2%. Esperamos nós, e a Reserva Federal norte-americana, com expectativas a um/três/cinco anos acima dos 2%. A decisão é simples, mas é difícil".

"Como é que vão abordar este tema? Vão aumentar o objetivo formal da inflação para os 2,5% ou para os 3%? Provavelmente, será a forma mais adequada de lidarem com o problema, porque terão de explicar à sociedade que viver com 2,5% de inflação é perfeitamente aceitável, tendo em conta que temos as taxas de juros, 3%-4%, e que temos economias a crescer - 1,5% na Europa a 2,5% nos Estados Unidos - e isto sim, é um ciclo económico expansivo, construtivo, não aquele que tínhamos antes, em que víamos a inflação zero, taxas de juros zero, crescimento nominal e real, zero. Passamos a um ciclo económico em que temos um crescimento na Europa  e nos Estados Unidos, uma inflação de 2,5% que dá um crescimento nominal de 5% nos Estados Unidos, 4% na Europa. Estamos num bom ciclo económico. Agora, os bancos centrais terão que explicar à sociedade que vamos ter aqueles 2,5% a consumirem parte dos nossos ganhos todos os anos. Provavelmente, será com o aumento da meta dos bancos centrais, mas teremos daqui para a frente", defendeu.

Olhando para o mercado de obrigações, o responsável do Bankinter aponta para "obrigações soberanas de países desenvolvidos. Na parte corporativa, mais focados em investment grade, empresas boas, com boa geração de capital e em países estáveis".

"A nossa postura em relação às obrigações é que durante, durante o ano de 2024, teremos oportunidades para aumentar a duração das obrigações, mas neste momento, menos. Porque a expectativa do mercado obrigacionista em relação ao futuro da política monetária é excessivamente positivo. Os bancos centrais irão, com o discurso, tentar arrefecer essa expetativa quente dos investidores em obrigações. No curto prazo, o que vamos ver são as rentabilidades das obrigações a subirem para reajustarem esta expetativa tão otimista que tem. E a partir dali, a próxima consequência será uma queda das rentabilidades porque, lá está, o próximo passo da política monetária deixou de ser uma incógnita, será um corte, resta saber quando. E esse corte fará com que as rentabilidades depois cairão", afirmou.

Já no mercado de ações aponta para o sector tecnológico norte-americano, mas não só. "As tecnológicas e, em particular as sete magníficas, continuarão com esse foco por causa da inteligência artificial. Temos a Nvidia que está na berra por causa disso, a Microsoft que tanto se faz usar dessa inteligência artificial e todos esses magnificent seven são empresas que beneficiam muito da inteligência artificial. E, portanto, o que nós esperamos é que 2024, as sete magníficas, continuem a estar no foco, mas que devido ao seu peso, estarão sempre no foco, mas que não, não sejam o principal motor Que agora os restantes setores possam acompanhá-las na subida".

Em termos de riscos geopolíticos aponta para o regresso de Donald Trump como o "principal risco" para 2024 e 2025. "No caso de Donald Trump ganhar as eleições, surgem muitas incógnitas. Como se posicionará os Estados Unidos em relação ao apoio da Ucrânia? Certamente diminuirá nas mãos de Donald Trump. Como se posicionará os Estados Unidos perante o conflito na Faixa de Gaza? Pode adotar uma postura mais interventiva? No caso de ainda estarmos no meio destes ataques terroristas no Mar Vermelho. E como se posicionará Trump para tentar libertar novamente o Canal do Suez? Provavelmente mais interventivo também? Como? Como irá lidar com a questão China? Que neste momento parece estar bastante mais debilitada do que estava na altura da sua primeira eleição".

"E fica a questão de que será que utilizará essa essa maior debilidade da economia chinesa para colocar em xeque a China enquanto rival económico e geopolítico directo? Fica a questão de Taiwan, que apesar de neste momento, após as eleições de Taiwan, não ter havido grandes problemas em Taiwan, o mundo é cada vez mais dependente de Taiwan pelos chips e os semicondutores. Será que Donald Trump intervém aí também? E como é que ele lida com o near shoring, com as empresas a voltarem as cadeias de produção para dentro das suas, para mais perto dos seus consumidores finais. Sempre foi um objetivo de Trump tentar que as empresas americanas produzissem na América. Joe Biden já começou a implementar algumas medidas nesse sentido. E como é que irá Donald Trump seguir essas essas medidas? Provavelmente irá intensificá-las e isso acabará por danificar outras economias: a europeia, economias emergentes e economias asiáticas", remata Pedro Ribeiro.