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Banco de Inglaterra prepara-se para 14ª subida seguida dos juros com pico à vista

A inflação continua elevada no Reino Unido, que tem mesmo o indicador de preços mais alto nos G7, mas a tão temida recessão tem sido evitada até agora, dando margem de manobra ao banco central para colocar os juros em máximos de 15 anos.

O Banco de Inglaterra (BoE) volta a reunir esta quinta-feira para debater a política monetária britânica, sendo expectável nova subida dos juros, a décima quarta consecutiva, perante uma inflação que, embora em recuo, se mantém como a mais elevada entre os G7. O risco de recessão mantém-se e os pedidos de cautela quanto aos efeitos negativos do aperto monetário multiplicam-se, mas um indicador de preços ainda perto de quatro vezes superior ao objetivo do banco central deve assegurar novos 25 pontos base (p.b.).

Caso se confirme a subida de 25 p.b., os juros diretores no Reino Unido passarão para 5,25%, o valor mais elevado em 15 anos, depois de 13 subidas consecutivas. O país debate-se com uma inflação elevada e persistente, além de uma preocupação constante com uma possível recessão, falta de mão-de-obra e mercado imobiliário em queda, o que dificulta o trabalho da autoridade monetária.

O indicador de preços até tem vindo a recuar, caindo mais na leitura mais recente do que projetado: de 8,7% em abril e maio para 7,9% em junho, contra expectativas de 8,2%. O resultado foi bem recebido pelo BoE, mas a inflação permanece demasiado elevada para o objetivo de 2% do banco central.

Mais, o indicador subjacente não tem dado os sinais otimistas do nominal, ao começar a recuar apenas na mais recente leitura. Os 6,9% de inflação core são desconfortáveis e sinalizam uma inflação persistente, levando o BoE a agir com urgência para tentar controlar o fenómeno.

Isso mesmo tem procurado sinalizar Andrew Bailey, governador do banco, reforçando a necessidade de subir juros para limitar a pressão nos preços, isto apesar dos apelos de vários quadrantes para um aperto monetário menos agressivo. Bailey reconhece que os efeitos negativos das subidas de taxas estão ainda por se materializar na totalidade, mas tem-se mostrado otimista quanto à capacidade de resistência da economia britânica a este ambiente.

Os dados têm suportado a visão do governador. O crescimento, apesar de perto de nulo, tem sido positivo, afastando os receios de recessão (por enquanto). Ainda assim, há focos de preocupação claros: este crescimento tem sido conquistado à custa de investimento privado, que agora irá deixar as empresas britânicas expostas aos juros crescentes – e o número de falências no segundo trimestre foi o mais elevado desde 2009.

O mercado imobiliário dá sinais de fragilidade, sendo o sinal mais claro das dificuldades criadas pela subida dos juros. Com a maior parte das hipotecas a taxas fixas de curta duração, os efeitos dos custos de financiamento mais elevados ainda não se sentem na sua totalidade, mas os preços das casas já estão a cair, com julho a registar a maior queda em mais de dez anos.

Já o mercado laboral continua a registar uma grande rigidez, com a procura por trabalhadores em alta depois da saída de parte da força laboral causada pela pandemia. Apesar do suporte conferido à economia, esta realidade agrava a dinâmica salarial no país, contribuindo para a pressão do lado dos preços.

Apesar do retrato negativo da economia britânica, a Capital Economics projeta que a subida de agosto seja mesmo a penúltima, com o ciclo fechado em setembro com mais 25 p.b.. A expectativa é, portanto, que os juros ainda subam 50 pontos, com o mercado a atribuir perto de 40% de possibilidades a um salto dessa magnitude já esta quinta-feira.