A semana começa a aquecer a partir desta quarta-feira na vertente macro, com os dados da inflação de agosto no Reino Unido a serem divulgados na véspera da reunião do Banco de Inglaterra (BoE) de setembro. O mercado projeta uma última subida apesar de a atividade ter aguentado melhor do que se previa no final do ano passado, evitando até agora uma recessão à qual parecia não conseguir escapar, mas os comentários recentes de várias figuras do banco central sugerem que as taxas se podem manter inalteradas.
Após 14 subidas consecutivas, os juros de referência britânicos renovaram máximos de 2008, chegando a 5,25%. No entanto, a inflação continua em valores elevados, tendo recuado para 6,8% em julho, ou seja, mais de três vezes o objetivo de longo-prazo do BoE. Com o renovar das tensões com as cotações da energia nos mercados internacionais e o dissipar de efeitos base favoráveis, o indicador deve voltar a subir em agosto.
A expectativa do mercado é de 7% de variação homóloga em agosto, colocando mais pressão sobre o BoE para agir. Em linha com esta inflação elevada (e bastante acima do registado na zona euro ou EUA), a libra é a pior divisa entre as dez economias mais avançadas do mundo nos últimos 30 dias.
Como tal, a probabilidade atribuída a nova subida esta quinta-feira é de 80%. Parece ser esse o consenso da generalidade de analistas e investidores, incluindo o banco ING, que, ainda assim, levanta argumentos a favor de uma pausa.
Por um lado, as declarações mais recentes de vários responsáveis do banco central sugerem a possibilidade de ficar tudo na mesma depois de amanhã. O BoE não tem escondido que a inflação atual é demasiado elevada, mas o próprio economista-chefe da autoridade monetária, Huw Pill, confessou preferir uma subida mais lenta e sustentada em vez de uma escalada abrupta.
Acresce a tal a necessidade de manter as taxas elevadas durante algum tempo, o que pode favorecer uma extensão do aperto através de algumas reuniões com pausa. À semelhança do que fez a Fed, o BoE pode optar por uma pausa na tentativa de “colocar a discussão sobre quantas subidas ainda faltam, e não sobre quando começarão os cortes”, argumenta o ING.
Sobe assim a probabilidade de uma ‘pausa hawkish’, ao contrário da ‘subida dovish’ do Banco Central Europeu na semana passada. O cenário base do banco continua a ser uma subida, dada a pressão que os salários devem revelar na leitura de agosto da inflação.
Em julho, o crescimento dos salários no sector privado acelerou de 7,9% para 8,1%, aprofundando as preocupações do banco central com efeitos de segunda ordem e com a persistência da inflação. Olhando para as remunerações em termos semanais, o crescimento salarial no Reino Unido chegou a 8,5% nas três últimas semanas daquele mês. Em sentido inverso, o desemprego começa a subir, dando sinais claros de arrefecimento no emprego.