A vitória de extrema-direita nas eleições austríacas a muitos lugares da maioria absoluta que lhe permitiria ascender ao poder de imediato – precisaria de 92 deputados num total de 183 mas só terá 57 – irá com certeza bloquear a possibilidade de o Partido para a Liberdade da Áustria (FPO) formar um governo e o seu líder, Herbert Kickl, chegar a ser chanceler. Mas talvez seja apenas uma questão de tempo.
Até lá, e a acreditar nos analistas, todos os restantes partidos do novo parlamento tratarão de bloquear um governo do FPO, o que encaminhará os conservadores do Partido Popular Austríaco (OVP), liderado pelo atual chanceler, Karl Nehammer, novamente para a obrigação de dar continuidade ao executivo. Com quem, é que ainda não está esclarecido.
Mas esta solução ‘à holandesa’ – onde os extremistas de direita liderados por Geert Wilders ganharam as eleições de novembro do ano passado mas nunca conseguiram formar governo – não poderá eternizar-se. E os referidos analistas sabem disso. Até porque no caso da Áustria, os conservadores foram rudemente penalizados pelos eleitores – que fizeram o mesmo com os Verdes. Precisamente os dois partidos que asseguravam a coligação que agora deixa de ter efeito. Ou seja, os austríacos arriscam continuar a ser governados por um conjunto de partidos que neste momento não representam a sua vontade.
Para ultrapassar mais esta estranheza dos regimes democráticos, os conservadores terão com certeza de chamar para uma futura coligação não apenas os Verdes, mas mais alguém. Entre o centro-esquerda e os liberais, com certeza darão prioridade aos segundos
O FPO venceu as eleições legislativas com 29% dos votos. Em segundo lugar, ficou o partido de centro-direita, o Partido Popular Austríaco (OVP), liderado pelo atual chanceler Karl Nehammer, com 26,2% – e que em tempos foi o veículo de ascensão ao poder do FPO, em versão coligação. Em terceiro lugar ficou o centro-esquerda: o Partido Social Democrático da Áustria (SPO), com 20,4%. Os liberais do NEOS terão atingido os 8,8%, bem próximos dos Verdes, com 8,7%.
Segundo as mesmas fontes, o FPO deverá eleger 57 deputados, muito longe da maioria absoluta, que só é conseguida aos 183 lugares. O OVP elegerá 52, enquanto o SPO deverá chegar aos 40 lugares. Verdes e liberais deverão obter 17 lugares no parlamento. o centro-direita como os grandes perdedores das eleições, dado que perderá 19 deputados. Os Verdes ficarão com menos nove. A extrema-direita passa de 31 para 57 deputados, enquanto os liberais do NEOS têm mais dois. O centro-esquerda mantém o mesmo número de deputados.
Vale a pena salientar ainda que o SPO regista o pior resultado da sua história – apenas um pouco pior que em 2019, mas mesmo assim pior – o que pode dizer muito sobre o futuro da esquerda no país do centro da Europa. O partido mais antigo da Áustria, que alcançou a última maioria absoluta há 45 anos, não sai da crise profunda e duradoura em que evolui há quatro décadas. O seu presidente, Andreas Babler, é considerado um político inexperiente e que dá poucas garantias.