Na euforia que se sucedeu à conquista do Europeu de futebol por parte da Seleção portuguesa, em 2016, Paulo Futre reservou uma das primeiras mensagens para um amigo de Barcelona que entre 2008 e 2012 se gabou ao português do poderio da formação do FC Barcelona e da notória influência dos jogadores da La Masia (berço do talento dos ‘culés’) na conquista de dois títulos europeus e um mundial naqueles quatro anos. A sms enviada para o amigo por parte do antigo extremo da Seleção na mágica noite de 10 de julho de 2016, era simples: os nomes de 10 jogadores que se tinham acabado de sagrar campeões da Europa, oito dos quais titulares do conjunto liderado por Fernando Santos. “Rui Patrício, Cédric Soares, José Fonte, William Carvalho, Adrien Silva, João Mário, João Moutinho, Ricardo Quaresma, Nani e Cristiano Ronaldo”. A resposta do amigo da antiga estrela do FC Porto e Atlético de Madrid não se fez esperar: “São os jogadores do Sporting que acabaram de se sagrar campeões da Europa?”. “Não”, respondeu Futre: “São jogadores do Aurélio”. A história foi contada pelo extremo formado no Sporting CP na apresentação do livro “Ver para Crer – Memórias de descoberta e formação de talentos”, um trabalho de Aurélio Pereira com o jornalista Rui Miguel Tovar que procurou reunir as histórias do maior caça-talentos do futebol mundial. “É todo um corolário de um trabalho grandioso. O Aurélio teve esse mérito de ter estado presente na vida de muitos jogadores e com especial incidência nesses dez que juntos conquistaram o maior título que poderíamos ambicionar. E não é a questão de ser um clube, porque aqueles jogadores do FC Barcelona a que o amigo do Paulo Futre se referia foram descobertos por diferentes olheiros enquanto aqueles dez foram descobertos por apenas uma pessoa: Aurélio Pereira. É isso que me espanta”, começou por realçar Rui Miguel Tovar em entrevista ao Jornal Económico (JE). Nas conversas que manteve com alguns dos futebolistas entrevistados, o mais interessante para o autor foi perceber que “os jogadores sempre o viram como um amigo e alguém responsável. Para eles, o Aurélio era o Sporting. Quando tinham problemas, não falavam com nenhum dirigente falavam com o Aurélio, algo que demonstra uma grande capacidade humana muito forte”. O co-autor do livro acredita que este terá de ser traduzido noutras línguas para que outros países conheçam o trabalho de Aurélio Pereira no que foram os primórdios da deteção de talentos, sobretudo numa altura em que existiam poucas condições de treino e os jogadores da formação eram subvalorizados porque o que interessava era o futebol sénior. “O Aurélio conseguiu mudar toda a lógica da formação de futebolistas e transformou-se no olho de ouro, como disse o Futre. O Aurélio via coisas mais à frente do que todos os outros: numa fase embrionária era mesmo ele que via, numa outra já havia uma linha de recrutamento que ele criou e que foi tão vasta que chegou à Madeira e é por aí que se chega ao Cristiano Ronaldo. Sem e-mails nem modernices”, destaca o jornalista.