A zona euro continua a dar sinais de melhoria das perspetivas económicas, impulsionada pela recuperação na Alemanha, que vinha pesando no cenário europeu, e pela subida da atividade nos serviços. Apesar de persistirem tensões e da fraqueza da indústria, abril é o segundo mês consecutivo de expansão da atividade, dando um otimismo contido quanto à possibilidade de regresso ao crescimento económico no segundo trimestre – mas ainda assim insuficiente para travar os inevitáveis cortes de juros pelo Banco Central Europeu (BCE).
O índice de gestores de compras (PMI) para a moeda única em abril voltou a subir, chegando a 51,4 depois dos 50,3 de março. A leitura rápida divulgada esta terça-feira aponta para o valor mais elevado para o indicador desde maio do ano passado, marcando também dois meses consecutivos acima de 50, ou seja, sinalizando uma atividade em crescimento.
O economista-chefe do HCOB, banco responsável pelo inquérito, fala num “bom arranque do segundo trimestre”. Cyrus de la Rubia projeta um avanço de 0,3% no PIB entre abril e junho, falando numa “recuperação no sector privado dos serviços […] sustentada” e que tem dado força à economia como um todo.
A dinâmica salarial no sector continua bastante aquecida, os aumentos de preços estão a refletir, mais do que um aumento nos custos, a subida na confiança das empresas e a recuperação estende-se às duas maiores economias do bloco, a alemã e a francesa, detalha Cyrus de la Rubia, justificando a visão de que a zona euro está em linha para regressar a um crescimento sustentável.
O subindicador referente aos serviços registou um máximo de onze meses com o subindicador a subir até 52,9 depois de ter ficado em 51,5 no mês anterior. O ritmo de crescimento do emprego neste ramo foi o mais elevado em dez meses e as novas encomendas também cresceram ao ritmo mais acelerado desde maio passado. Já o índice referente à indústria voltou a cair de 46,1 para 45,6, tocando mínimos de quatro meses apesar do ritmo menos pronunciado de queda das novas encomendas no último ano.
Olhando por país, o PMI alemão composto subiu até 50,5 depois de ter ficado em 47,7 em março, marcando a primeira leitura acima de 50 pontos desde junho de 2023. A subida foi reflexo sobretudo da vitalidade do lado dos serviços, embora o subíndice referente à indústria até tenha subido marginalmente. Também a economia francesa registou uma melhoria no PMI composto, mas insuficiente para sinalizar uma expansão da atividade, subindo de 48,3 em março para 49,9.
Do lado dos preços, o banco neerlandês ING destaca que a inflação do lado dos serviços se mantém elevada, “mas não ao nível registado no início do ano”. Combinado com uma inflação negativa do lado dos bens, “as pressões globais mantêm-se moderadas”, o que deve “servir como sinal [ao BCE] que os cortes não devem ser agressivos”, projetam os analistas do banco. Ainda assim, os dados serão “provavelmente insuficientes para impedir” descidas dos juros.
“Os números do PMI vão testar a vontade do BCE de cortar juros em junho”, considera Cyrus de la Rubia. Em particular, a dinâmica dos salários aliada a nova subida dos custos intermédios, incluindo pela via do petróleo, são “razões para escrutínio” pelo banco central, com o economista-chefe a apontar a uma “abordagem cautelosa”.
“Ainda assim, os PMI continuam consistentes com uma inflação em queda, mesmo nos serviços, por isso duvidamos que isto seja suficiente para evitar um corte pelo BCE já em junho”, projetam os analistas da Pantheon Macro.