Alex Holder, criativa e escritora britânica, trocou Londres por Lisboa em setembro de 2019, ainda antes do Brexit e da pandemia de Covid-19. Instalada com a família no bairro lisboeta da Lapa — um dos mais exclusivos da capital, conhecido pelas fachadas em tons pastel, ruas estreitas, palacetes e moradias — trabalha a partir de casa e passa o dia em videochamadas com agências de publicidade britânicas. É paga em libras, diretamente numa conta no Reino Unido. Veio para Portugal atraída pelo clima ameno, as praias e pelo encanto dos cafés lisboetas. Como trabalhadora independente, qualificou-se para o Estatuto de Residente Não Habitual, um regime fiscal que lhe garante isenção sobre rendimentos obtidos no estrangeiro. “Cinco anos após o Covid, o trabalho remoto está muito normalizado e acessível. E isso significa que qualquer um pode levar consigo a sua economia, para onde quer que seja. Acredito em cidades internacionais e na mobilidade das pessoas. Mas não deve haver uma enorme desigualdade de riqueza na base dessas comunidades”, diz a criativa ao Jornal Económico.Alex publicou recentemente um artigo de opinião no jornal britânico “The Guardian”, intitulado “There’s an arrogance to the way they move around the city: is it time for digital nomadas like me to leave Lisbon? (em português, “Há uma arrogância na maneira como eles se movimentam pela cidade: será que chegou a hora de nómadas digitais como eu deixarem Lisboa?”), onde reflete sobre a crescente presença de nómadas digitais e expatriados em Lisboa. Reflexo de uma nova realidade global, em que é possível viver e trabalhar a partir de qualquer lugar do mundo. Apesar dos desafios, como o aumento do custo de vida e a pressão sobre a habitação, também representam uma oportunidade para a economia: atraem investimento, dinamizam o comércio, criam emprego e ajudam a internacionalizar setores como o turismo, a tecnologia e os serviços.
Alex também é dona de uma livraria chamada Salted Books, na Calçada Marquês de Abrantes, em Lisboa, onde as estantes só têm livros em inglês. “Sim, através da livraria, eu pago impostos em Portugal e emprego cinco pessoas“, explica. A criativa diz que, neste momento, se sente “à deriva” em Portugal – e não é a única em trabalho remoto a sentir-se assim. “Nós podemos integrar-nos até onde quisermos, mas se, em termos económicos, formos muito mais privilegiados que os outros, até que ponto se poderá falar em integração? Temos de ponderar sobre isso“, acrescenta Alex Holder ao Jornal Económico. Apesar da vida “maravilhosa” em Portugal, num futuro próximo, a mudança para outro país poderá ser a nova realidade.
As dores de carteira da Lisboa que virou sexy
Os nómadas digitais dinamizam a economia e ajudam a internacionalizar setores estratégicos, mas também enfrentam críticas pelo impacto no mercado imobiliário e no custo de vida.
