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As Cruzadas Vistas pelos Árabes Para nos colocarmos no lugar do Outro

Muitos de nós continuamos a olhar com estranheza e incompreensão para o Médio Oriente e para os atos terroristas que têm tido lugar na Europa nos anos mais recentes.

Dificilmente nos lembraríamos de ir procurar justificações a acontecimentos ocorridos há mais de setecentos anos.
Na perspetiva ocidental, as Cruzadas foram expedições militares, iniciadas no final do século XI, como resposta à expansão muçulmana, nomeadamente no Mediterrâneo oriental, para reconquistar território considerado cristão. Muitos dos que nelas participaram procuravam uma forma de redenção e expiação dos seus pecados.
Entre 1095, quando a primeira cruzada foi lançada, e 1291, quando os cristãos latinos foram expulsos do seu reino na Síria, houve inúmeras expedições à Terra Santa, a Espanha e, inclusivamente, ao Báltico (neste caso, para conquistar tribos eslavas). Depois de conquistada pelos cristãos, a cidade de Jerusalém foi reconquistada por Saladino, sultão do Egito, em 1187.
Com o objetivo de a recuperar, foi organizada uma quarta cruzada, que viria a resultar numa série de conflitos e percalços; já então, os interesses políticos e económicos demonstraram ser mais importantes do que os espirituais. Em 1204, Constantinopla foi saqueada, os seus santuários sistematicamente violados e destruídos e as mulheres igualmente violadas.
O comportamento destes peregrinos encheu de vergonha o papa Inocêncio III, mas a substituição dos cruzados do Império Bizantino pelo Império Latino de Constantinopla acabou por ser encarada pelo papa como o castigo justo para os cristãos orientais pela sua desobediência.
Na perspetiva do Oriente Médio, a História apresenta-se bastante diferente. No livro “As Cruzadas Vistas pelos Árabes”, publicado pelas Edições 70, o libanês Amin Maalouf toma como ponto de partida fontes exclusivamente árabes – testemunhos de historiadores e cronistas da época – e com elas constrói uma história das cruzadas que causa alguma estranheza num leitor ocidental, mas que muito contribui para o colocar no lugar do Outro, permitindo-lhe, assim, abarcar novos pontos de vista. Logo à partida, Maalouf não nos fala de cruzadas, mas de guerras ou de invasões francas (sendo os Francos a denominação para os ocidentais).
Compreender a visão muçulmana ajuda-nos a enquadrar muito do mal-estar e dos mal-entendidos que ainda hoje são frequentes na relação do Ocidente com o mundo árabe. Como refere o autor, as cruzadas são “ainda hoje encaradas como uma violação.” 

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