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Angola vai mediar negociações entre RDC e M23

África : O Presidente de Angola - e agora da União Africana - vai mediar as conversações de paz entre a RD Congo e o grupo rebelde M23, que é apoiado pelo Ruanda, no dia 18 de março.

Angola vai mediar as conversações de paz diretas entre a República Democrática do Congo (RDC) e o grupo rebelde M23, apoiado pelo Ruanda, previstas para 18 de março, na capital angolana.
O entendimento foi alcançado em Luanda, na quarta-feira, numa reunião entre João Lourenço e o homólogo Félix Tshisedeki, com Angola a voltar a afirmar-se como um ator-chave para a mediação de um conflito de décadas na região do leste da RDC, onde abundam recursos minerais, que se teme que alastre para uma escala regional na Região dos Grandes Lagos.
No final de janeiro, o grupo M23, que se encontrava nas zonas transfronteiriças do país, tomou a cidade estratégica de Goma, avançando nos dias seguintes em direção a Bukavo, no sul, que tem controlado desde então.
Félix Tshisedeki, reeleito em dezembro de 2023 com 73% dos votos, saudou a proposta de diálogo iniciada pelo Presidente de Angola durante a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), esta quinta-feira.
“Este passo, que [João Lourenço] deu de forma plena e determinada, demonstra a vontade de Angola de ajudar a nossa região a encontrar uma saída para a crise. É fundamental que as decisões tomadas nesta ocasião se traduzam rapidamente em acções concretas no terreno”, afirmou o Presidente da RDC no encontro virtual extraordiário em que participaram, também, o Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, e o ministro do Interior de Angola, Manuel Homem.
A organização composta por 16 países anunciou ontem a retirada gradual das suas forças de paz - SAMIDRC -. depois de 18 soldados, a maioria sul-africanos, terem sido mortos em vésperas da tomada de Goma pelo M23.
Num comunicado ao qual o JE teve acesso, a coligação AFC/M23, por sua vez, “saúda os esforços feitos por João Lourenço a favor da paz e da estabilidade na República Democrática do Congo e na Região dos Grandes Lagos”, acrescentando que “acolheu favoravelmente o anúncio feito pela Presidência de Angola” que abriu caminho às negociações diretas.
No mesmo comunicado, a organização, como se intitula, indica que “não existe qualquer solução militar durável para a crise em curso na RDC”.
Como Presidente da União Africana (UA), João Lourenço reafirmou esta quinta-feira, 13 de março, na cerimónia, a insistência no acompanhamento da situação na RDC.
“Decidimos não cruzar os braços e insistir na busca de soluções pacíficas, não permitindo que se concretize o plano de balcanização em curso, com a criação de um Estado pária no leste da RDC, ou mesmo a tentativa de reversão pela via militar do poder instituído em Kinshasa”,a firmou o governante angolano.
Sobre a situação atual na capital de Kivu Norte, Fidèle Kitsa, jornalista de Goma, explica ao JE que a “situação humanitária e de segurança continua frágil” no leste do país, com o M23 a conquistar novas áreas. “Hoje tomaram o controlo da maior ilha da região, Idjwi, na província do Kivu Sul, e antes disso Kashebere, na província do Kivu Norte, e estão a avançar e a tentar controlar novas cidades”, afirmou esta quinta-feira.
O aeroporto de Goma mantém-se encerrado e a população depara-se com vários constrangimentos diários. “As atividades socioeconómicas voltaram ao normal, mas há um problema maior: não há dinheiro em circulação, depois do encerramento dos bancos no final de janeiro, quando o M23 tomou a cidade de Goma”.
“A insegurança continua a prevalecer nas capitais destas duas províncias sob o seu controlo, com incursões noturnas às casas por indivíduos armados, bem como relatos de assassinatos, roubos e violações”, revelou o jornalista local e correspondente da France 24.

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