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Analistas menos otimistas do que OPEP quanto à evolução da procura em 2024

A Goldman Sachs destaca o cenário otimista para a evolução da procura de petróleo este ano e mostra-se surpreendida com o plano detalhado de reversão dos cortes de produção após uma surpresa do lado dos inventários.

O cenário base para a procura por petróleo este ano, em que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) assenta os cortes de produção, pode ser demasiado otimista, apontam os analistas, que veem a cotação do ‘ouro negro’ a manter-se na faixa dos 80 a 90 dólares até ao final do ano, embora com maior tendência a descer.

A OPEP+ anunciou este domingo o prolongamento dos cortes de produção decretados ainda no ano passado até 2025, procurando assim estimular o preço face a uma procura frágil condicionada pela incerteza global e ambiente de taxa de juro elevadas. No entanto, tal surgiu acompanhado de um plano detalhado de reversão destes cortes e assenta numa previsão de crescimento da procura de 2,2 milhões de barris por dia (bpd), algo visto como demasiado otimista pelos mercados.

Ficam assim estendidos até ao próximo ano os cortes gerais do grupo de 3,66 milhões de bpd, o que inclui os cortes voluntários de 1,66 milhões bpd que deveriam expirar em junho, e os 2,2 milhões bpd de cortes voluntários até ao terceiro trimestre deste ano (em vez do segundo, como anteriormente previsto).

Esta possibilidade vinha sendo debatida pelos mercados, dada a necessidade do cartel em manter a oferta rígida, mas os dados mais recentes que vinham mostrando um aumento dos inventários colocaram algumas dúvidas sobre a estratégia da OPEP+, sublinha a análise da Goldman Sachs. Por outro lado, apesar do anúncio de prolongamento dos cortes, a decisão surge acompanhada de um plano detalhado de reversão dos mesmos, o que cria dúvidas sobre rigidez futura do mercado.

“Surpreende-nos que estes países apresentem agora um plano detalhado de retirada de cortes no contexto de surpresas positivas recentes nos inventários”, escrevem os analistas da Goldman, argumentando que “ter um caminho explícito para aumentos de produção torna difícil manter a produção baixa”. Recorde-se que, apesar dos cortes de produção prolongados, o nível de produção para este ano foi revisto em alta por 542 mil bpd.

Acresce a isto o facto de a previsão de crescimento da procura por petróleo da OPEP+ superar largamente a da Goldman, com o cartel a apontar a 2,2 milhões de bpd de subida face a apenas 1,5 milhões projetados pelo banco.

“Enquanto uma elevada capacidade vaga, uma previsão muito bullish para a procura em 2024 […] e uma possível tentativa de desencorajar oferta não-OPEP+ podem ajudar a explicar este plano, sinalizar um caminho específico para aumentos de produção a seguir a surpresas muito significativas nos inventários […] é uma surpresa bearish”, lê-se na nota da Goldman.

Segundo os cálculos do banco de investimento, os inventários comerciais terão crescido a uma média de 900 mil bpd nos últimos 90 dias, bastante acima da média de 400 mil bpd entre março e maio deste ano.

“A comunicação desta retirada gradual dos cortes de produção reflete o desejo claro de vários membros de subirem produção em função de uma elevada capacidade instalada vaga”, continuam os analistas da Goldman, antecipando riscos descendentes à previsão de 75 a 90 dólares para o barril de petróleo este ano.

Já para a XTB, os Emirados Árabes Unidos são os principais vencedores desta decisão, dada a capacidade instalada que possuem e o aumento da produção-alvo para 2024. O país conseguiu ver a sua quota subir 300 mil bpd, chegando a 3,5 milhões bpd este ano, tal como a Rússia, cuja quota subiu 121 mil bpd para 9,95 milhões bpd em 2024.

Em sentido inverso, a Arábia Saudita e o Kuwait serão os principais prejudicados, dada a necessidade de cotações elevadas do petróleo para financiarem os seus orçamentos nacionais, sobretudo os planos de investimentos plurianuais.