Além da estagnação, a Alemanha arriscaria um procedimento por défice excessivo no próximo ano, fruto do saldo negativo acima de 3% com que deve fechar 2025. No entanto, Bruxelas deverá isentar o governo liderado por Friedrich Merz devido aos gastos em defesa, que, segundo a Comissão, explicam o deslize orçamental – ao contrário do que sucede com a Finlândia, que não deverá escapar à penalização.
A economia alemã deve encerrar este ano com um défice de 3,1%, ultrapassando assim o referencial definido pelas regras comunitárias de 3% para um saldo orçamental negativo e de 60% para a dívida pública. Berlim tem sido historicamente um bastião das contas certas e da disciplina orçamental, mas as dificuldades macro levaram o governo de Merz a deixar cair esta postura e avançar com uma política expansionista. As rígidas regras relativas à dívida na Alemanha foram relaxadas face a dois anos de recessão (que se podem prolongar para três, dado o fraco desempenho este ano), abrindo portas a um aumento considerável da despesa.
Com a Europa a perder terreno na corrida global face aos EUA e China, a Comissão avançou este ano com um relaxamento destas regras, permitindo agora aos países gastarem até 1,5% do PIB no sector da defesa num período de quatro anos, uma isenção que a Alemanha aproveitou juntamente com 16 outros países europeus.
Agora, com a maior economia europeia a caminho de um défice visto como excessivo, Bruxelas já sinalizou que não deverá avançar com qualquer penalização à Alemanha – ao contrário da Finlândia, cujo saldo negativo é só “parcialmente” explicado pelos gastos em defesa, segundo a Comissão.
Também esta semana foi confirmado novo trimestre de estagnação no motor industrial europeu, que arrisca prolongar a recessão que dura já há dois anos. Este fraco desempenho era já antecipado pelo mercado, mas foi, ainda assim, uma melhoria em relação ao recuo de 0,2% do segundo trimestre.
Segundo os cálculos do banco ING, um cenário semelhante de crescimento nulo no quarto trimestre resultaria num crescimento no final do ano de 0,2%, como projetado pelo governo, o que “manteria o tamanho da economia abaixo do nível registado no final de 2019”, antes da pandemia. Contas feitas, “a economia alemã continua a atrasar-se” em relação ao resto do bloco europeu.